Crítica | Belfast (2021)
Belfast, novo filme de Kenneth Branagh, é uma homenagem a sua cidade natal e a sua juventude. A cidade era a capital da Irlanda do Norte e entre 1968 e 1998 o local foi palco de conflitos étnicos e principalmente religiosos. O diretor usa um recurso clichê, mas eficiente, de mostrar uma parte desse período do ponto de vista de uma criança, o protagonista Buddy, para a partir desse olhar inocente apresentar ao público a narrativa.
O filme começa com uma cena impactante ao mostrar a invasão da rua onde Buddy mora com a família para expor o quanto o pequeno protagonista está perdido e indefeso dentro do conflito. Esse momento é impactante e apresenta uma energia e dinâmica muito bem realizada, contudo, esse ritmo inicial diminui para então o roteiro, também escrito por Kenneth Branagh, apresentar seus personagens.
Buddy está na escola e no resto do dia fica na rua brincando com seus amigos. Ele passa uma parte do tempo com os avós, e as cenas em que ele contracena com o avô (interpretado por Ciarán Hinds) estão entre os melhores momentos de Belfast. Vemos sua mãe (Caitríona Balfe) se virando para cuidar da casa e dos filhos enquanto o pai (Jamie Dornan) trabalha em outra cidade e ocasionalmente visita a família. A questão principal da narrativa é se eles devem ou não fugir do conflito e se mudar para outra cidade, abandonando familiares e amigos, ou ficar e “resistir” às dificuldades.
O roteiro de Branagh explora de maneira correta o amadurecimento de Buddy, mostrando sua visão ingênua sobre a situação enquanto ele lida também com as questões da própria idade, como a descoberta do primeiro amor, os estudos e a relação com sua família. Um ponto interessante (e também clichê) é o relacionamento dele com a prima mais velha Moira (Lara McDonnell) que o coloca em algumas enrascadas. A narrativa se divide entre explorar o protagonista e expor os fatos históricos do conflito na Irlanda, mas infelizmente não consegue encontrar um equilíbrio para que ambos sejam retratados de maneira satisfatória.
Um detalhe importante e que reforça o uso de clichês, como o já citado protagonismo infantil, é o fato de Branagh filmar Belfast em preto e branco. Esse recurso serve para mostrar a tristeza e “falta de cores” da narrativa, que contrasta com a energia de viver do jovem Buddy. Para deixar ainda mais claro, em alguns momentos vemos os personagens usando a arte como um escape para esquecer um pouco da realidade, assim as cenas de um filme ou de uma peça de teatro são apresentadas com cores, mostrando a importância da arte para “colorir” a vida das pessoas.
Em síntese, Belfast é um bom filme, mas que tinha potencial para ser uma obra mais marcante. Ao não se decidir entre a história de amadurecimento do protagonista e o conflito ocorrido na Irlanda, a obra de Kenneth Branagh deixa ambos os lados sem o desenvolvimento necessário. Ainda assim é um longa-metragem que usa bem os clichês dramáticos de obras históricas e é também uma bela homenagem do diretor à sua terra natal.
Para saber mais sobre o conflito na Irlanda recomendo esse texto do Nexo Jornal
Uma frase: – Tia Violet: “Os irlandeses nasceram para partir, caso contrário o resto do mundo não teria pubs.”
Uma cena: O ataque realizado na porta da casa de Buddy no início do filme.
Uma curiosidade: Para capturar momentos de espontaneidade, Kenneth Branagh costumava roda a câmera secretamente em cenas que Jude Hill (“Buddy”) achava que eram apenas ensaios. Jude finalmente começou a suspeitar do que estava acontecendo, então a equipe gravou as luzes vermelhas na câmera que sinalizavam que estava rodando. Muitas cenas do filme finalizado foram esses “ensaios”.
Belfast
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Kenneth Branagh
Elenco: Caitríona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Colin Morgan, Josie Walker e Jude Hill
Gênero: Biografia, Drama, História
Ano: 2021
Duração: 97 minutos