Crítica | Adoráveis Mulheres (Little Women)
Adoráveis Mulheres é a sexta adaptação cinematográfica do romance homônimo escrito por Louisa May Alcott em 1868. A cineasta Greta Gerwig conduziu com genialidade um elenco formado por fortes nomes da atualidade em Hollywood para contar a história das irmãs March. De forma sensível e, ao mesmo tempo, avassaladora, o longa narra as dores e as delícias do processo de amadurecimento de Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen).
O filme de época é ambientado no mesmo período do livro, em meados do século 19, durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos. Na trama, enquanto o pai (Bob Odenkirk) se dedica a atuar no sangrento conflito armado travado entre estados do Sul e do Norte, Marmee (Laura Dern) conduz o lar e a educação das filhas, para as quais se torna uma referência moral e feminina forte, desde a infância e até o início da vida adulta delas.
Jo March tem o arco condutor de toda a narrativa. Ela é responsável e dedicada à família, muito inteligente e questionadora. A protagonista interpretada com excelência pela atriz irlandesa Saoirse Ronan anseia por romper com padrões, estereótipos, convenções e tradições para poder experimentar a sua vida com o máximo de liberdade. Na escrita de contos e novelas, Jo encontra sua verdadeira paixão. Com Theodore “Laurie” Laurence (Timothée Chalamet), a personagem descobre e vivencia uma amizade com sentimentos ambíguos e conflitantes.
Em paralelo, Meg é a mais ingênua, sonhadora e vaidosa das irmãs. Amy tem talento para pintura e desenho, uma personalidade doce, porém egoísta, preocupada com as aparências e detentora do desejo de ascender socialmente. Já a caçula Beth é uma exímia pianista, amorosa, tímida e a mais gentil da família. O relacionamento das quatro é marcado por uma sororidade que ultrapassa as barreiras da irmandade construída a partir de laços consanguíneos.
Sem comprometer a construção datada das personagens do livro, a adaptação da cineasta Greta Gerwig de Adoráveis Mulheres consegue pontuar questões importantes sobre os lugares destinados à mulher na sociedade daquele tempo e que, lamentavelmente, ainda são pertinentes nos dias atuais. Casamento, maternidade, carreira, independência financeira, educação e poder decisório são alguns dos temas que emergem naturalmente no roteiro. Além disso, a narrativa possui muitas camadas de interpretação para um romance de época, que de certa forma atualiza, ironiza e até rompe com alguns estereótipos sobre a representação feminina nas artes.
Cores do tempo
Duas linhas temporais majoritárias se alternam na execução do longa, que são evidenciadas por diferentes paletas de cores. A primeira corresponde ao início da vida adulta das irmãs, quando Jo March está em Nova York, Meg casada e com filhos e Amy viajando com Tia March pela Europa. As cenas têm cores frias, tonalidades mais escuras e cenários mais cinzentos. Na segunda linha temporal, são apresentados os principais eventos da infância e adolescência das irmãs, como flashbacks, sempre muito coloridos, iluminados e em tons quentes.
A fotografia ressalta com delicadeza os sentimentos que dominam as personagens nesses dois momentos distintos da narrativa. A alegria e a inocência da infância, bem como a frivolidade das aventuras da adolescência transparecem na vivacidade e colorido das cenas do passado. Já o presente retrata a maturidade das personagens, que passam por uma fase nebulosa e confusa, de introspecção, luto e busca por autoconhecimento. Por fim, há ainda uma terceira paleta de cores que compõe o cenário de encerramento do filme, com luz solar de um fim de tarde, como a anunciar a plenitude emocional alcançada pelas irmãs.
Uma frase: “Mulheres, elas têm mentes e têm almas, assim como apenas corações. E elas têm ambição e talento, além de beleza. Estou tão cansada de pessoas dizendo que o amor é tudo o que uma mulher é adequada”.
Uma cena: O diálogo entre Jo March e Meg, antes do casamento da irmã da escritora.
Uma curiosidade: O discurso de Amy sobre o casamento não estava no roteiro inicial, mas foi sugerido pela atriz Meryl Streep. Depois de trabalhar e conversar com a diretora Greta Gerwig, Streep afirmou que havia um momento no filme que dava ao público moderno a oportunidade de entender a verdadeira impotência das mulheres naquele período; não apenas eles não podiam votar ou trabalhar, mas, através do casamento, perderiam a propriedade de seu dinheiro, propriedade e filhos. O discurso foi escrito pouco antes de filmar a cena e se tornou um dos momentos mais poderosos do filme.
Adoráveis Mulheres (Little Women)
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Louisa May Alcott
Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Meryl Streep, Bob Odenkirk, Timothée Chalamet e Tracy Letts
Gênero: Drama, Romance
Ano: 2019
Duração: 135 minutos
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