Crítica | Tron: Ares
“Tron: Ares” apresenta algo que os dois filmes anteriores não tinham: os “programas” vêm para o mundo real. É a partir dessa premissa que a obra de Joachim Rønning se desenvolve. O protagonista é Ares, interpretado por Jared Leto, que é um programa que mistura as habilidades do MCP (Master Control Program, ou programa de controle mestre) com o de segurança do sistema, que é a função do Tron original. No mundo real, ele assume o papel de um soldado ideal, capaz de realizar qualquer missão militar com a vantagem de ser “descartável”. Caso seja abatido em combate, basta criar outro. O único problema é que ele só dura 30 minutos e o segredo em busca da “permanência” é que permeia a narrativa.
Infelizmente, pouco se aproveita de “Tron: O Legado”; assim, logo no início, descobrimos que a ENCOM não está mais sob controle de Sam Flynn. A CEO agora é Eve Kim (Greta Lee), que busca o segredo da “permanência” nos arquivos de Kevin Flynn (Jeff Bridges) para, assim, mudar o mundo, criando comida e objetos artificiais que são iguais aos de verdade. A questão é que Julian (Evan Peters), filho de Ed Dillinger (vilão do primeiro filme), comanda a Dillinger Systems, que quer utilizar essa tecnologia para criar seus soldados liderados por Ares. Dessa forma, o executivo convoca seu “programa” para perseguir Eve no mundo real para roubar o segredo.
Se nos filmes anteriores a história girava em torno do conceito dos programas vivendo como se fossem um avatares dos humanos que escreveram seus códigos dentro de um universo digital, a trama de “Tron: Ares” é mais simples. O roteiro foca nos dilemas do protagonista, pois, com o avanço de sua inteligência artificial, ele se aproxima cada vez mais do comportamento humano. Nesse sentido, a obra de Joachim Rønning não apresenta muita coisa de diferente do que já foi visto em outras histórias da cultura pop. No entanto, o diferencial é o conceito criado pela franquia Tron.
É interessante ver o contraste entre o universo criado por Clu em “Tron: O Legado”, que tinha vários detalhes, com o mundo habitado por Ares dentro dos computadores da Dillinger Systems, que é simples e dominado pela cor vermelha. Não por acaso, ele fica fascinado pelos humanos e tenta entender por que o seu usuário diz que ele é descartável. Assim, o protagonista toma um choque quando o seu alvo, Eve, é quem demonstra compaixão por ele. Esse relacionamento entre eles é um dos pontos altos de “Tron: Ares”. Entretanto, o roteiro peca por não se aprofundar nos personagens de forma mais satisfatória.
Um bom exemplo disso são os nomes dos personagens. Em determinados momentos do filme, alguém comenta sobre o fato de Ares ser o nome do deus da guerra da mitologia grega, mas ficamos apenas nisso, como se fosse uma piadinha de referência pop. No primeiro filme vemos como existe uma relação quase de fé religiosa em como os programas enxergam os usuários como se fossem deuses.

O elenco é um ponto positivo e conta com grandes atores como os já citados Jared Leto e Greta Lee. Eles têm alguma química entre si, mas o talento de cada um se sobressai apesar do roteiro não desenvolver tão bem seus respectivos personagens. Quem rouba a cena é Jodie Turner-Smith, como Atena, que tem um vigor físico e carisma impressionante, que transformam a antagonista em algo memorável, até mais que o protagonista. Por outro lado, Arturo Castro apresenta Seth como um alívio cômico que infelizmente nem sempre funciona.
No entanto, “Tron: Ares” só justifica sua existência mesmo quando vemos elementos clássicos de Tron, como as motos e as naves, no mundo real. A cena na qual Ares e Athena, utilizando suas “Light Cycles”, perseguem Eve pelas ruas enquanto ela pilota uma moto comum é extremamente eficiente. Temos outras cenas de ação um pouco mais irregulares, como uma fuga em um veículo aquático, mas, ainda assim, o saldo é positivo nos momentos de aventura.
Um detalhe importante que poderia ter sido melhor explorado é a urgência em relação ao tempo de existência de Ares e Athena no mundo real. Isso poderia aumentar a tensão do espectador diante do que é visto na tela, principalmente nas cenas de ação, mas nem o roteiro e nem o diretor parecem se dar conta disso.
Agora, sem dúvidas, o grande elemento de destaque de “Tron: Ares” é a trilha sonora do Nine Inch Nails. A dupla Trent Reznor e Atticus Ross, que costuma assinar suas composições para filmes com os próprios nomes, assume o nome da banda criada por Reznor para deixar claro que é o grupo o responsável pelas músicas. A canção “As Alive As You Need Me To Be“, que infelizmente só ouvimos no final do longa-metragem, determina o tom dos temas criados pela dupla. A letra funciona como se fosse uma reflexão do próprio protagonista em relação à sua condição meio programa, meio “humano”. Eles abusam dos sintetizadores e ditam o tom da narrativa, com temas que usam sons dissonantes que se misturam com os efeitos sonoros do próprio filme.
E se o próprio filme faz referências aos anteriores, a parte musical não é diferente. A principal homenagem fica ao apresentar temas que remetem à trilha composta por Wendy Carlos para a obra de 1982, que misturou sintetizadores com orquestra. Só que o Nine Inch Nails deixa esse lado orquestral de lado, focando na “sujeira” gerada pelo instrumento. Temos um pouco também de Daft Punk, responsável pelas composições do filme de 2010, mas sem dúvidas a principal influência é a obra de Wendy.
No final das contas, ainda que apresente uma abordagem diferente do que foi vista nos filmes anteriores, “Tron: Ares” é um longa-metragem que funciona melhor para os fãs da franquia. É interessante ver os elementos do universo no mundo real, mas, sem dúvidas, a história tinha potencial para ir mais além do que foi apresentado.

Uma frase: – Julian Dillinger: “Mundos virtuais. Como vai ser? Quando chegaremos lá? Bem, pessoal, nós não iremos até lá. Eles vão vir até aqui.”
Uma cena: A perseguição de motos onde Ares e Athena perseguem Eve no mundo real.
Uma curiosidade: Trent Reznor e Atticus Ross do Nine Inch Nails fazem uma participação especial como os dois pilotos do F-35.

Tron: Ares
Direção: Joachim Rønning
Roteiro: Jesse Wigutow; história de David DiGilio e Jesse Wigutow
Elenco: Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters, Jodie Turner-Smith, Hasan Minhaj, Arturo Castro, Gillian Anderson e Jeff Bridges
Gênero: Ação, aventura, ficção científica
Ano: 2025
Duração: 119 minutos
