Crítica | Corra que a Polícia Vem Aí! (2025)
Era necessário fazer uma refilmagem de “Corra que a Polícia Vem Aí!”? Com certeza não, mas já que ela foi feita, então é importante que tenha sido bem realizada. O diretor Akiva Schaffer (de “Tico e Teco: Defensores da Lei”) captou muito bem o espírito da franquia e a adaptou de forma brilhante para a atualidade. A escolha do protagonista é também acertada na figura de Liam Neeson: o ator, assim como o protagonista original Leslie Nielsen, veio de um estilo dramático de atuação. Contudo, Neeson já tinha experiência em filmes de ação e isso se mostrou um grande diferencial.
O mais importante é o espírito besteirol da franquia, que foi mantido. É um estilo de humor que não é fácil de fazer e a forma como era feito tinha uma certa “ingenuidade” e sutileza difícil de ser adaptada para os tempos atuais. Vivemos em uma época do politicamente correto e essa é sempre uma linha difícil de ser explorada.
Felizmente, o roteiro de Dan Gregor, Doug Mand e do próprio Akiva Schaffer constrói uma trama básica em que a paródia é o elemento fundamental, assim vários clichês de filmes policiais são explorados. A partir do plano mirabolante do vilão, interpretado por Danny Huston, pipocam na tela muitas referências e piadas sobre o gênero. E isso funciona graças ao talento de Liam Neeson, que, assim como Nielsen, atua de forma séria, proporcionando muitas risadas justamente pela mistura de seriedade com o absurdo.
Além disso, o roteiro utiliza justamente o politicamente correto para criticar os tempos atuais e a forma como o protagonista se comporta. Um bom exemplo disso é quando Frank pergunta para sua chefe: “desde quando policiais seguem a lei?”, ou quando alguém questiona o policial sobre ter matado uma pessoa branca e ele só lembra justamente por causa desse detalhe. São boas alfinetadas sobre como a polícia age nos EUA (e ainda pior por aqui).
Outro elemento que utiliza a seriedade para fazer humor é a trilha sonora de Lorne Balfe, que cria temas grandiosos para que em muitos momentos o espectador acredite estar em um filme épico de ação. Além disso, ele também faz referências musicais, com temas que remetem aos filmes noir. Por sinal, esse gênero é uma grande influência no novo “Corra que a Polícia Vem Aí!”, em especial na femme fatale Beth Davenport, interpretada por Pamela Anderson.

A escolha de atriz para ser o interesse romântico do protagonista é muito acertada também. Ao escolher uma mulher de 58 anos de idade para contracenar com um ator de 73, o filme indiretamente faz uma crítica ao etarismo, pois vemos dois atores da “melhor idade” como protagonistas – sendo interessante notar como Beth causa impacto nos outros personagens por sua beleza, inclusive gerando uma disputa entre Frank e o vilão.
A química entre Neeson e Anderson é outro ponto importante de destaque que faz com que o novo “Corra que a Polícia Vem Aí!” funcione. Ela já tinha experiência com humor e com drama, assim conseguiu achar o tom certo de equilíbrio entre os gêneros. A seriedade com que eles encaram as cenas garantem boas risadas.
Em síntese, o longa-metragem de Akiva Schaffer acerta ao adaptar a franquia ao manter o estilo nonsense e besteirol, adaptando-o para a atualidade com precisão. E claro, o carisma e talento de Liam Neeson são um grande diferencial.

Uma frase: – Frank Drebin Jr.: “Desde quando policiais seguem a lei?”
Uma cena: Quando é mostrado as filmagens da câmera corporal de Frank.
Uma curiosidade: Liam Neeson tinha 72 anos na época das filmagens, cinco anos mais velho do que Leslie Nielsen quando fez sua última aparição no cinema como Frank Drebin (tinha 67 anos na época em que filmou Corra que a Polícia vem Aí 33 1/3 (1994)).

Corra que a Polícia Vem Aí! (The Naked Gun)
Direção: Akiva Schaffer
Roteiro: Dan Gregor, Doug Mand e Akiva Schaffer
Elenco: Liam Neeson, Pamela Anderson, Paul Walter Hauser, Kevin Durand e Danny Huston
Gênero: Comédia, pastelão, paródia, sátira, ação, crime
Ano: 2025
Duração: 85 minutos
