Crítica | Bom Menino (Good Boy, 2025)
O cemitério da sétima arte está cheio de premissas mal desenvolvidas. E o terror sobrenatural Bom Menino (Good Boy, 2025), longa-metragem de estreia do diretor Ben Leonberg, coloca-se neste lugar sombrio, o que infelizmente não é uma boa notícia. Mesmo com uma ideia inicial instigante, ele e o seu corroteirista Alex Cannon não sabem bem o que fazer com o desenrolar da história, utilizando como recursos principais as estratégias mais comuns do gênero. Mas, enfim, do que se trata o filme?
Como o título em inglês sugere de forma mais clara, Bom Menino é um filme que nos apresenta ao cachorro Indy (animal real de mesmo nome), que acompanha seu dono a uma nova moradia numa casa de campo que pertenceu ao avô, entenda-se como abandonada no meio do mato. Lá, ele percebe o seu tutor atormentado por forças sobrenaturais e fará o que for possível para protegê-lo.
Muitos filmes de terror utilizam animais de estimação em papéis cruciais, seja como guardiões que detectam o mal, vítimas ou até mesmo como ameaça central. Cujo (1983) tornou-se uma espécie de clássico ao colocar um São Bernardo brutalmente violento após ser infectado com o vírus da raiva. Em Cemitério Maldito (1989), o gato da família é o primeiro a ser enterrado no local maligno, voltando como uma criatura perigosa. Já em Garotos Perdidos (1987), o cão Nanook identifica os vampiros e defende sua família humana.
Aliás, essa ideia de que os pets são capazes de perceber as ameaças (e doenças) antes mesmo das pessoas já habita o nosso imaginário e até debates científicos. O que há de novidade em Bom Menino é que todo o filme é contado sob a perspectiva de Indy, lidando com as assombrações e sempre buscando o seu tutor Todd (Shane Jensen). Este, assim como os demais adultos, não é mostrado de forma clara ao público, reforçando o protagonismo canino da história.
Um detalhe importante da trama é que Todd está doente, o que parece ser a motivação para a sua mudança de endereço em vez de procurar uma assistência médica consistente. Ele conversa por telefone com sua preocupada irmã Vera (Arielle Friedman) e interage com um vizinho, enquanto tenta fazer a casa ser minimamente habitável, em especial as questões elétricas cujas falhas deixam o lugar sem iluminação. A trama ainda revela que o avô de Todd morreu em circunstâncias estranhas e seu cachorro desapareceu misteriosamente.
A partir daí, com Indy e Todd morando na casa antiga da família, começa o padrão de casa mal assombrada de “Bom Menino”. Cenas que focam num mesmo cenário, diferentes vezes, e nos mostram sombras, relances de figuras similares a pessoas. Ainda há uma velha TV que quando não mostra um programa antigo, exibe o clássico chuvisco, que virou uma marca de Poltergeist.
Aí também começa o comportamento estranho de um possivelmente possuído tutor, enquanto seu amado cãozinho fica cada vez mais apavorado com a situação. Sim, é possível perceber isso e a graça do filme reside justamente em acompanhar as reações de Indy, incluindo os seus pesadelos.
Diante desses elementos que não são costurados a contento e entregando-se ao clichês do gênero sem muita inventividade, o filme de Ben Leonberg falha em de fato provocar grandes sustos, apoiando-se mesmo no medo do público em ver algo de ruim acontecer com um pet tão fofinho e amoroso. E as limitações técnicas, talvez orçamentárias, também nos impede de fruir melhor o filme com a escalada das ameaças.

Filmes de terror constantemente são alegorias para medos reais da vida, situações opressoras, para a incapacidade humana em lidar com problemas individuais ou sociais etc. Bom Menino também se esforça em construir esse conjunto de metáforas ancorada na situação de Todd e na sua relação com Indy, mas ainda assim não é suficiente para salvar o filme devido a sua narrativa pouco inspirada.
Ao menos, “Bom Menino” nos apresentou a Indy, que lamentavelmente não conta com um filme à “altura” do seu talento. Diferentemente do que ocorreu com Messi, o cãozinho que interpretou Snoop no extraordinário “Anatomia de uma Queda”, ganhou um Palm Dog, a Palma de Ouro canina em Cannes, e ainda roubou a cena no Oscar de 2024. Quem sabe Indy possa retornar às telonas em algo mais digno da sua performance?

Uma frase: – Todd: “Você é um bom cachorro. Não. Menino, você não pode me salvar. Você tem que ficar aqui.”
Uma cena: Quando Indy e Todd chegam na casa.
Uma curiosidade: Segundo o diretor Ben Leonberg, as filmagens duraram 400 dias ao longo de 3 anos porque, bem, trata-se de um cachorro ator. E o diretor é dono de Indy.

Bom Menino (Good Boy)
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Alex Cannon e Ben Leonberg
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman e Larry Fessenden
Gênero: Terror, Suspense
Ano: 2025
Duração: 73 minutos
