Crítica | O Último Azul

Crítica | O Último Azul

O diretor Gabriel Mascaro faz em “O Último Azul” uma distopia verossímil e humana, diferente das apresentadas por Hollywood onde vemos um mundo devastado ou em que a tecnologia acabou com tudo. O tema principal da obra de Mascaro gira em torno do etarismo. A protagonista da história é Tereza (Denise Weinberg) que acaba de completar 77 anos. O Brasil decidiu que colocaria seus idosos de forma obrigatória em colônias habitacionais isoladas e com isso melhorar a situação econômica do país.

No seu trabalho anterior, “Divino Amor”, o cineasta imaginou também um futuro distópico peculiar para o Brasil onde a religião tomaria conta de vez da política. O foco nos idosos é um reflexo da atualidade, onde o sonho da aposentadoria é distante e as pessoas vivem mais tempo com qualidade de vida. No entanto, o que a maioria dos mais velhos deseja é seguir suas vidas sem dar trabalho a ninguém. A protagonista é uma dessas pessoas que passou a vida toda trabalhando e nunca pensou no que faria na aposentadoria. Só que quando chega o momento obrigatório de ir para a colônia ela se dá conta de que não aproveitou a vida e nunca fez nada de interessante.

É aí que começa a jornada de “O Último Azul”, onde Tereza encara uma aventura através da Amazônia em busca de um “sonho”: voar em um avião, enquanto foge para não ser capturada e enviada para a colônia. Dessa forma, o filme de Gabriel Mascaro apresenta uma fantasia divertida e curiosa, explorando peculiaridades da cultura brasileira sem cair em estereótipos. Ao invés de um road movie, temos um “filme de rio”, já que o deslocamento da personagem se dá através de barcos. E no seu caminho ela encontra figuras muito interessantes.

O diretor é inteligente e não nos apresenta detalhes sobre esse futuro distópico através de diálogos expositivos, aos poucos descobrimos um pouco mais sobre ele. E nem tudo é mostrado em tela, então é importante usar a nossa imaginação para a imersão dentro desse universo.

Nesse sentido os elementos cinematográficos são importantes, como a trilha sonora de Memo Guerra, que utiliza sintetizadores misturados com sons que parecem da natureza para criar temas que sugerem o tom de distopia da narrativa. Outro ponto importante é a fotografia de Guillermo Garza, que explora bem a paisagem da Amazônia e usa muito bem as cores com simbolismos, especialmente o azul do título que é representado pelo caramujo que tem um líquido azul alucinógeno.

Contudo, o filme só funciona graças ao talento de Denise Weinberg. Ela constrói Tereza de maneira brilhante, mostrando sua inocência inicial e durante sua jornada vemos o quanto ela aprende sobre si mesma. É um triste retrato de como muitas vezes as pessoas vivem em torno do trabalho e só no final da vida descobrem o que realmente gostam.

Em síntese, “O Último Azul” é mais um grande filme de Gabriel Mascaro e mostra o quanto a arte do cineasta reflete o momento atual do país. Ele nos apresenta um longa-metragem que explora bem o tema do etarismo e propõe uma bela reflexão sobre o assunto. A metáfora da jornada de autoconhecimento da protagonista é muito interessante e divertida.


Uma frase: – Tereza: “Desde quando uma pessoa é homenageada só porque ficou velha?”

Uma cena: Quando Tereza vai no Peixe Dourado.

Uma curiosidade:  O filme levou o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim de 2025. O prêmio concedido pelo grande júri é o segundo mais importante do festival, um dos mais importantes do cinema.


O Último Azul

Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Tibério Azul e Gabriel Mascaro
Elenco: Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Miriam Socorrás e Adanilo
Gênero: Ficção científica, aventura, drama, fantasia
Ano: 2025
Duração: 85 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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