Crítica | C.I.C. – Central de Inteligência Cearense

Em Cine Holliúdy a dupla Halder Gomes e Edmilson Filho criou uma fórmula de sucesso que mistura o amor pelo cinema e lutas marciais com a cultura do Ceará, resultando em algo único e divertido. Desde então eles seguem nesse estilo, criando bons filmes como o já citado no início e sua continuação de 2019. Em “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” eles fazem uma homenagem ao universo da espionagem.
Edmilson Filho interpreta o agente Karkará, ou melhor Ley, Wanderley. A inspiração óbvia é James Bond, mas a dupla Gomes e Filho incorpora também elementos de outros agentes secretos da cultura pop. O protagonista faz parte da organização C.I.C. do título, que responde ao governo brasileiro. Ele é convocado para uma missão onde um experimento secreto é roubado e ele precisa recuperar o artefato sem saber nem para que ele serve. Mantendo as tradições de filmes de espionagem, a obra de Halder Gomes internacionaliza a trama envolvendo Brasil, Argentina e Paraguai.
Dessa forma, a maioria dos personagens fala espanhol. Isso cria um elemento curioso no filme. Em “Cine Holliúdy” temos legendas para que o público consiga entender o “dialeto” cearense. Já em “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” a piada é que a tradução das legendas para as falas em espanhol utilize esse “dialeto”. Outra questão sobre isso é que os atores que falam espanhol são brasileiros, então na verdade eles fazem uma paródia do sotaque latino. Isso é interessante, mas talvez tivesse sido melhor convidar alguns atores dos países vizinhos para fazer parte do elenco.
Obviamente, o maior destaque do filme são as cenas de lutas, todas coreografadas pelo próprio Edmilson Filho. Elas são simples e eficientes, mantendo o equilíbrio entre a seriedade e o humor com muita criatividade. O que ressalta bem isso é uma luta entre duas personagens femininas envolvendo espadas e tango. Já uma coisa que atrapalha são os efeitos visuais. Wanderley tem um braço biônico e os momentos em que ele o utiliza são bem irregulares, atrapalhando o visual do longa-metragem.

Outro elemento importante é a presença feminina, tanto na frente na tela com as atrizes Tóia Ferraz, Alana Ferri, Monique Hortolani e Rossicléa, quanto nos bastidores com mulheres presentes na produção, direção de fotografia e design de produção. Alana vive Mikaela, uma agente argentina que se junta na investigação junto com Wanderley, enquanto Monique vive Koorola, a vilã do filme. Inclusive as duas só aparecem na segunda metade de “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense”, que é justamente quando a obra de Halder Gomes se destaca.
O tom de comédia nem sempre funciona, se mantendo irregular durante quase toda a duração. Um ponto negativo é a inteligência artificial MAZÉ interpretada por Rossicléa. A piada de que ela é desbocada é repetida à exaustão, sem trazer muita graça. Já Gustavo Falcão, que interpreta Romerito, rouba a cena quando está na tela por interpretar bem a paródia do que seria um agente secreto paraguaio. Já Edmilson Filho se apresenta carismático como sempre, mas ele sempre fica na dúvida do quanto seu personagem se leva a sério e do quanto é uma paródia. Um elemento de humor é justamente apresentar uma seriedade que deixa a cena mais engraçada, só que nem sempre o ator acerta no tom.
O roteiro de Marcio Wilson explora corretamente os clichês do gênero de espionagem, principalmente no absurdo dos planos mirabolantes da vilã. “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” explora os limites do politicamente incorreto, mas se mostra “puritano” quando apresenta algo sobre sexo. Em pelo menos dois momentos o protagonista se envolve em uma relação sexual com uma personagem feminina, aí a montagem corta para um fade (a tela escurece lentamente) indo para outro momento após o ocorrido. Infelizmente isso é um padrão em grandes produções de Hollywood que se repete por aqui. Isso somente seria “positivo” se não tivesse uma sexualização das personagens femininas, mas isso ocorre, ainda que não de maneira tão forte. Elas têm protagonismo e fogem do padrão de “donzela em perigo”.
Em síntese, “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” explora bem a fórmula criada pela dupla Halder Gomes e Edmilson Filho, sem demonstrar sinais de cansaço. Ainda que os efeitos visuais atrapalhem e o humor nem sempre funcione, as cenas de luta e carisma dos personagens mantém a qualidade do longa-metragem.

Uma frase: – Wanderley: “Me chamo Ley, Wanderley.”
Uma cena: A luta entre duas personagens femininas que mistura batalha de espadas com tango.
Uma curiosidade: Alguns dos atores e atrizes tiveram que fazer aulas de espanhol, luta e tango para fazer determinadas cenas do filme.

C.I.C. – Central de Inteligência Cearense
Direção: Halder Gomes
Roteiro: Marcio Wilson
Elenco: Edmilson Filho, André Segatti, Nill Marcondes, Gustavo Falcão, Karla Karenina, Tóia Ferraz, Alana Ferri, Monique Hortolani, Falcão e Rossicléa
Gênero: Ação, Comédia, Aventura
Ano: 2025
Duração: 108 minutos