A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Black Bomber

A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Black Bomber

Meu querido amigo Junio Carlota trouxe ao meu conhecimento que nos anos 70 a DC Comics quase lançou um herói chamado Black Bomber1, que seria um dos personagens mais intrigantes que eu já tive notícia, e por intrigante eu quero dizer “tão preconceituoso que provavelmente faria Donald Trump tirar o capuz pontudo branco por um momento e falar para o roteirista ‘pô, pega leve aí, cabeça’”.

Como a DC pelo visto não tinha um departamento de vai dar merda para mandar a segurança escoltar o sujeito pra fora do prédio, o editor chegou a aprovar dois roteiros, que só não foram publicados porque um outro roteirista, Tony Isabella, teve o bom senso de meter o pé na porta e propor a criação do Raio Negro no lugar.

Depois de conhecer a história do personagem, fiquei imaginando como a ideia foi apresentada ao editor-chefe da época. Não tenho como garantir que foi exatamente assim, mas, acredite se puder, as características que ele propôs para o personagem2 eram essas aí mesmo, sem tirar nem pôr:

— Bom dia, meu patrão. Tive uma ideia genial para um personagem novo.

— Opa, então manda aí, toca pro pai que a gente está mesmo precisando de umas ideias novas.

— Pois então, eu pensei em fazer algo bem diferente: o primeiro protagonista negro da DC Comics!

— Hum. Não é meio apressado? Quer dizer, a editora tem apenas 35 anos, não sei se já é o momento para um protagonista negro…

— É verdade, mas a Marvel acaba de lançar a HQ de Luke Cage, não podemos ficar para trás.

— Hum, tem razão. Fale-me mais desse personagem então. Quais os poderes dele?

— Ele vira… negro!

— Oi? Negro? Ele vira negro?

— É, negro. Negão mesmo, sabe? Inclusive o uniforme dele poderia ser uma camisa de jogador de basquete, porque ele é negro, e negros jogam basquete.

— Mas não é redundante um personagem negro ter o poder de virar negro?

— Não, não. Esse o plot twist: ele é um branco que vira negro.

— Peraí que eu não estou acompanhando. Tipo um Shazam? Ele fala uma palavra mágica e vira uma outra pessoa?

— Pensei mais numa coisa tipo Hulk. Ele vira negro quando fica nervoso, afinal todo negro é enfezado, né?

— Mas não é meio, sei lá… meio racista?

— BOA IDEIA! Vamos fazer ele um branco racista que vira negro!

— Oi…? Como assim?

— Estamos nos Estados Unidos nos anos setenta, cara. Branco racista é quase pleonasmo.

— Hum, tem razão. Então você quer um personagem com nuances, insinuando umas tendências meio preconceituosas…

— Claro que não. Racistão mesmo, quero que ele fique até puto quando tiver que ajudar um negro!

— Acho que estou te entendendo… Aí ele vai aprender uma lição, é isso? Vai literalmente sentir na pele o que é ser negro e começar a rever o próprio preconceito.

— Não, pô. O alter ego branco não vai saber que vira negro nem vice versa.

— Cara… você não acha que seria um vilão caricato demais?

— Vilão? Quem disse que ele será vilão?

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  1. A imagem em destaque fala “Brown Bomber” porque é uma paródia que Dwayne McDuffie fez muitos anos depois, em uma edição da Liga da Justiça. Infelizmente (pensando bem, felizmente) não há registro em imagem da ideia original. ↩︎
  2. É sério mesmo, a ideia dos caras era essa. Faltou inclusive falar que a origem dos poderes tinha a ver com uma tecnologia para camuflar soldados brancos nas selvas do Vietnã, porque não basta ser black face, tem que ser black face e genocida. ↩︎

Lionel Leal

Canto como Lionel Messi, jogo bola como Lionel Richie.

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