Crítica | A Substância (The Substance)

Crítica | A Substância (The Substance)

A sociedade é muito cruel com as mulheres graças ao patriarcado e Hollywood é um reflexo disso. Uma prova disso é que muitas atrizes quando chegam a certa idade tem dificuldade em conseguir papéis. Esse é o caso da própria Demi Moore, que mesmo com uma carreira bem-sucedida quando mais jovem, agora por causa dos seus 61 anos não tem trabalhado tanto. Assim a história de “A Substância”, dirigido por Coralie Fargeat, faz um paralelo com a jornada de Moore.

A trama gira em torno de Elisabeth Sparkle, uma mulher que descobre que irá perder o emprego na televisão por causa da idade. O produtor Harvey (Dennis Quaid) diz que é necessária uma novidade e isso não existe aos 50 anos. A mulher por acaso descobre sobre a substância do título, um produto capaz de dar juventude para quem o utiliza. O funcionamento é peculiar e a pessoa passa por um processo biológico “dando à luz” a um clone mais jovem. Assim Elisabeth se torna duas, mas tem que lembrar que são uma só e achar um equilíbrio. Cada uma só pode passar sete dias “acordada”. A versão jovem é interpretada por Margaret Qualley e se autodenomina Sue.

A forma como Coralie Fargeat desenvolve a história de “A Substância” é fascinante! A começar pela maneira de filmar, onde os planos-detalhe são importantes e alternam entre a beleza e a estranheza. O olhar feminino é importante, pois a câmera diversas vezes foca em partes do corpo de Qualley, o que poderia ser interpretado como a exploração corporal da atriz. No entanto, servem para mostrar como isso é explorado na sociedade e como a juventude da “clone” aterroriza Elisabeth.

Assim, Fargeat evoca o “body horror” (terror corporal), que é um subgênero do terror onde o corpo dos personagens é utilizado como forma de aterrorizar. Sem dúvidas é possível enxergar uma influência de filmes como “A Mosca”, de David Cronenberg, assim como outros trabalhos do diretor.

E os homens, especialmente na figura de Harvey (e nome não é por acaso), são retratados como figuras repulsivas e exageradas, algo que infelizmente parece verossímil. Dennis Quaid explora a caricatura do seu personagem de maneira excelente.

O clima de estranheza e tensão surge especialmente graças à trilha sonora de Raffertie, que usa sintetizadores e elementos eletrônicos misturados com sons que parecem de alguma máquina industrial. No entanto, quando Sue aparece em tela pela primeira vez ouvimos uma música mais alegre, com influência dos anos 1980, que reflete a ingenuidade e jovialidade da personagem.

Outro elemento importante são os efeitos visuais, especialmente a utilização de maquiagem e efeitos práticos para mostrar o processo biológico da Substância. Depois vemos os efeitos no corpo das personagens, especialmente em Elisabeth, e o trabalho da maquiagem é fantástico.

Por último é importante ressaltar o maravilhoso trabalho das atrizes Demi Moore e Margaret Qualley. São papéis difíceis que exploram a vulnerabilidade dos personagens e a exploração do corpo. Sem dúvidas é uma das melhores atuações de Moore, nos lembrando da grande atriz que ela é. É impressionante como ela ressalta as emoções de Elisabeth, indo da tristeza para a raiva, passando pela repulsa, de forma multidimensional e incrível. Já Qualley mostra seu talento e é interessante como a ingenuidade se transforma em egoísmo tão facilmente.

Assim, “A Substância” faz uma crítica ácida e inteligente em torno da exploração com corpo feminino e como elas sofrem com a ditadura da beleza e o etarismo. Tudo isso apresentado na forma de terror, onde o absurdo e o choque aumentam lentamente. A diretora Coralie Fargeat testa os limites do espectador com seu espetáculo de horrores, que muitas vezes geram alívio cômicos e em outros a repulsa. Mas mesmo com o sentimento “ruim” é impossível tirar os olhos da tela e não ficar intrigado em saber como a história termina, que não por acaso é brilhante.


Uma frase: – Elisabeth: “Houve um pequeno uso indevido da Substância.”

Uma cena: Quando Elisabeth toma a Substância.

Uma curiosidade: Demi Moore disse que estava nervosa por filmar nudez total aos 61 anos e se sentia vulnerável, mas deu crédito à sua colega Margaret Qualley, 29, que interpretou uma versão mais jovem dela e também se apresentou totalmente nua, por fazê-la se sentir confortável no set. Moore disse que encontrou “alguém que foi uma ótima parceira com quem me senti muito segura. Obviamente éramos muito próximas – nuas – e sentimos muita leveza naqueles momentos com o quão absurdas eram essas certas situações”.


A Substância (The Substance)

Direção: Coralie Fargeat
Roteiro: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid
Gênero: Comédia ácida, drama, terror, body horror
Ano: 2024
Duração: 141 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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