Crítica | Trapped

Crítica | Trapped

Uma das coisas que me fazem ainda gostar da Netflix é a oportunidade que ela nos dá de conhecer produções de vários países. Graças à plataforma tive contato nos últimos anos com séries do México (Club de Cuervos), Espanha (Machos Alfa), Coréia do Sul (Round 6), Brasil (Cidade Invisível) e, é claro, Islândia com essa ótima Trapped.

Trapped é um drama policial que consegue desenvolver com qualidade tanto os mistérios relacionados ao crime que vemos no primeiro episódio como o lado pessoal de seus personagens principais. E ainda há um grande diferencial: a ambientação única.

Tudo se passa em uma pequena, gélida e isolada cidade da Islândia. Logo após um enorme navio atracar no porto um corpo mutilado é encontrado por pescadores locais. A equipe policial composta por Andri, Hinrika e Asgeir dá início as investigações e torce pra chegada de reforços vindos da capital.

Não demora muito e o tempo piora, com direito a uma forte nevasca que fecha as estradas. Não há como sair e nem entrar, então os policiais vão tentar fazer o melhor possível com os poucos recursos que possuem.

A investigação fica cada vez mais complicada. São vários os que podem ser considerados suspeitos, isso tanto por suas atitudes atuais como também pelo o que fizeram no passado. Trapped se mostra ambiciosa ao abordar vários assuntos ao longo da temporada que de uma forma ou outra se relacionam com o caso. Alguns exemplos são o tráfico de pessoas e a crise econômica enfrentada por muitos na cidade.

Trapped tem um ritmo mais lento que nos permite entender aos poucos como tudo funciona por ali. Não há cenas de ação intensas ou resoluções mirabolantes, apesar de haver algumas reviravoltas aqui e ali. Tudo é bem realista considerando o contexto de onde essas pessoas vivem e de quais seriam suas reais capacidades.

O diretor/criador Baltasar Kormakur (da meia-boca Katla) filma com classe, sem pressa, nos ambientando com maestria naquele lugar onde o clima muitas vezes é opressor.

Os personagens de Andri e Hinrika são policias extremamente competentes e dedicados, mas vão ter muitas dúvidas e nem sempre vão acertar. Um bom tempo é investido no lado pessoal de Andri, que acaba de passar por um divórcio. E com uma ótima atuação de Olafur Olafsson ele se torna um personagem bem fácil de se criar empatia.

A série fala muito sobre as medidas desesperadas que o ser humano pode ser capaz de tomar quando se vê sem saída. É algo universal. Certas ações tem consequências em qualquer lugar, inclusive numa pacata cidadezinha da Islândia onde todos se conhecem. Talvez esses lugares sejam os mais perigosos, não é mesmo?

Sentimos a dificuldade de Andri de resolver o caso e sua própria vida pessoal. Sua dedicação obsessiva no trabalho parece uma forma de tentar esquecer um pouco o seu casamento que não deu certo e isso pode trazer ainda mais problemas. Ele está sempre com aquele olhar cansado e de poucos amigos, mas é fácil perceber como ele tem um bom coração.

Por ter os pés nos chão e buscar quase sempre a verossimilhança, talvez fique a impressão de que o final é um tanto anticlimático. Pode ser para alguns, mas no meu caso senti que foi o desfecho apropriado considerando o tom da série e as pistas espalhadas pelo caminho.

Uma ótima experiência quase escondida no catálogo da Netflix.



Trapped

Criado por: Baltasar Kormakur
Plataforma: Netflix
Elenco: Ólafur Darri Ólafsson, Ilmur Kristjansdottir, Bjorn Hlynur Haraldsson
Ano: 2015 – ?
Temporadas: 3
Episódios: 28

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

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