Crítica | Retratos Fantasmas

Crítica | Retratos Fantasmas

O documentário “Retratos Fantasmas” de Kleber Mendonça Filho é um trabalho extremamente pessoal do diretor, mas seu poder de narrativa é tão poderoso que fica fácil para o espectador encontrar uma conexão com a história. Especialmente porque os elementos mostrados no filme ocorridos em Recife aconteceram em outras cidades do Brasil de forma bem similar.

O longa-metragem é dividido em três partes e é o seu segundo ato que define melhor o tom da obra ao apresentar um pouco da história dos cinemas de rua do Recife. O diretor resgatou imagens de seu acervo pessoal onde fez filmagens de uma dessas salas quando estava próxima de encerrar suas atividades. Assim, vemos imagens do local e principalmente Kleber conversando com o projecionista, que mostra o funcionamento do projetor e conta alguns causos ocorridos no espaço. Essa é uma das tramas que servem de fio condutor dentro da narrativa de “Retratos Fantasmas” que, junto com a narração do próprio cineasta, nos leva em uma viagem nostálgica, emocionante e agridoce.

O trabalho de montagem de Matheus Farias é belíssimo ao misturar as filmagens feitas por Kleber Mendonça Filho com imagens de arquivo, onde vemos fotografias de alguns desses cinemas de rua que já fecharam as portas do centro do Recife. O diretor também filmou os dias atuais, apresentando o contraste entre as épocas. Dessa forma fica claro como o declínio das salas de cinema de rua também se reflete na própria cidade, onde o local da mesma forma mostra sinais de “decadência”.

Retratos Fantasmas” ainda faz conexão com outras obras de Kleber Mendonça Filho, principalmente na primeira parte em que o cineasta nos mostra o apartamento que era de sua mãe. O local hoje abriga a sua produtora de filmes e serviu também de set de filmagem de “O Som ao Redor”. Uma curiosidade interessante é que uma vez a residência teve um ataque de cupins e os bichos foram utilizados na cena final de “Aquarius”.

Kleber também lembra da importância do cinema e do quanto ficção e realidade estão conectadas. Em determinado momento do documentário ele fala sobre um prédio no centro do Recife que era a central de distribuição de filmes no Nordeste, armazenando diversos latas com rolos de película. Aí a única filmagem existente do local é a cena de um filme que foi rodado lá. Ou seja, uma obra de ficção funcionou como um retrato da realidade. E o cineasta ainda brinca mais com isso ao incluir no final de “Retratos Fantasmas” uma cena “ficcional”, justamente para mostrar que não existe limite entre as “realidades”.

Assim, “Retratos Fantasmas” se mostra uma obra potente, que graças a riqueza da sua narrativa evoca diversos sentimentos, principalmente a nostalgia, leituras e reflexões no espectador. Kleber Mendonça Filho nos lembra da importância do resgate da memória e da cultura, lembrando a relevância das salas de cinema para a sociedade, especialmente as que estão na rua fora dos shoppings centers.

Um detalhe que ele menciona é interessante ao falar que cinema e streaming (assistir filme em casa) não devem ser excludentes e isso é fundamental para que a arte seja valorizada em todas as formas e locais.


Uma frase: – Motorista: “Cinema é massa.”

Uma cena: Quando o diretor Kleber Mendonça Filho entra em um carro de aplicativo de viagem.

Uma curiosidade: O filme foi selecionado pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para concorrer à vaga de Melhor Filme Internacional no Oscar 2024.


Retratos Fantasmas

Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Kleber Mendonça Filho
Gênero: Documentário
Ano: 2023
Duração: 93 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | Retratos Fantasmas

  1. adorei o documentário, mesmo que ele fale sobre não ser excludente, parte do que passa no doc é um pouco curioso, justamente pelo espaço que se toma falando dos cinemas de ruas em tempos que nem os de shopping estao assim em alta

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