Crítica | Ursinho Pooh: Sangue e Mel
“Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é uma releitura ousada e sombria da adorada história do Ursinho Pooh. Isso só foi possível após a história do ursinho viciado em mel e seus amigos entrarem em domínio público, ou seja, não é mais preciso nenhuma permissão para se adaptar esta história da forma que se queira. E daí chegamos a essa versão de horror que é deveras chocante. Em vários níveis.
O filme traz logo de início uma animação estilosa em traços macabros, que serve como ponto de partida para uma jornada perturbadora e inesperada. Sem dúvidas, essa é a melhor parte do longa-metragem dirigido e roteirizado por Rhys Frake-Waterfiel.
Passada a introdução animada, somos levados a uma cena de perseguição com a câmera tremida, acompanhada de cores sombrias que criam a tensão e o suspense necessários para a cena. A ideia de não mostrar muito o rosto dos bichos (vou chamar assim pra facilitar), que na verdade são pessoas com máscaras de borracha, pode criar uma atmosfera estranha, mas, ao mesmo tempo, desvincula os espectadores da familiaridade com os personagens que tanto amam. E esse desvínculo, se foi proposital ou não, abala as estruturas de qualquer um que esteja assistindo.
As decisões dos personagens em momentos cruciais do filme seguem o padrão estrutural de obras deste gênero. São sempre tomadas impulsivamente, e os diálogos muitas vezes são expositivos e superficiais. Além disso, a atuação do elenco não parece alcançar seu potencial completo, vamos dizer assim. Tudo isso atrapalha bastante na imersão da história que é claramente apenas uma desculpa para uma sequência de cenas perturbadoras.
Embora a fotografia faça uso inteligente de movimentos de câmera e as cenas de violência possam atrair alguns espectadores em busca de momentos mais intensos, é importante ressaltar que “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” apresenta agressão extrema, com um foco central na violência contra mulheres. E essa é uma linha tênue que o filme ultrapassa.
Para completar, existem diversas situações absurdas, como o chicote feito com cabelo das vítimas ou a falta de coerência na história. Uma tentativa falha em criar um clima de absurdo ou humor estilo trash. E essa abordagem além de não funcionar, vai deixar muitos espectadores perplexos e questionando a verossimilhança do enredo. Os mais cinéfilos irão, com razão, levantar a bandeira da falta de fé cênica, afinal, a todo instante mais tenso, o Ursinho Pooh macabro com seu amigo Leitão surgem com aquelas máscaras de borracha de quinta categoria. Fosse isso proposital, tipo, pessoas insanas fantasiadas se apropriando de uma história para apenas saciar seus desejos assassinos, até daria pra comprá-la. Só que não, eles são – no universo do filme – criaturas meio humanas, meio animalescas.
É notável que o filme apresenta algumas cenas visualmente interessantes, com uma mistura peculiar de elementos cômicos e perturbadores. No entanto, essas qualidades não são suficientes para sustentar a narrativa, deixando o enredo com pouca coesão e a mesma profundidade da piscina em que Leitão, após golpear uma mulher (mais uma) com uma marreta na cabeça, segue finalizando sua vítima com POTENTES golpes na água. Nem a física explica isso.
Para fechar, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é uma experiência cinematográfica difícil de se encarar. Aqueles que apreciam filmes de terror com humor ácido e muitas cenas trash podem encontrar elementos intrigantes nesta obra se estiverem dispostos a relevar quase tudo o que ele apresenta. Ou isso, ou o verdadeiro paradoxo apresentado aqui é o de que, apesar de Pooh e Leitão terem cabeças de borracha, são as cabeças de suas vítimas que explodem como se fossem pequenos balões. Talvez seja essa a beleza desse filme, talvez você descubra isso melhor do que eu.
Uma frase: Você ainda é bom por dentro, Pooh.
Uma cena: Os créditos finais.
Uma curiosidade: Esse é o primeiro longa-metragem do Ursinho Pooh que não foi feito pela Disney, e também o primeiro para o público não infantil.
Ursinho Pooh: Sangue e Mel (Winnie-The-Pooh: Blood And Honey)
Direção: Rhys Frake-Waterfield
Roteiro: Rhys Frake-Waterfield
Elenco: Craig David Dowsett, Chris Cordell, Amber Doig-Thorne, Nikolai Leon, Maria Taylor, Natasha Rose Mills e Danielle Ronald
Gênero: Terror, Horror
Ano: 2023
Duração: 84 minutos