Crítica | O Porteiro

Crítica | O Porteiro

O filme “O Porteiro” segue uma tradição de adaptar peças de teatro de comédia de sucesso para os cinemas, como aconteceu recentemente em obras como “Minha Mãe é uma Peça – O Filme”. Existe uma similaridade entre as obras protagonizadas por Alexandre Lino e Paulo Gustavo, pois ambas eram em sua versão teatral um monólogo no qual o protagonista contava causos relacionados ao universo do seus respectivos personagens. A diferença está na adaptação, pois a versão para o cinema dirigida e roteirizada por Paulo Fontenelle não consegue manter o protagonismo de Waldisney na tela.

Infelizmente esse não é o único problema de “O Porteiro”, mas talvez seja melhor citar primeiro o que funciona no filme. No longa-metragem , o protagonista é o porteiro de um prédio de classe média alta no Rio de Janeiro e Alexandre Lino está bem no papel. Ocorre um assalto no local, então ele é levado para delegacia para prestar depoimento. O roteiro de Paulo Fontenelle acerta ao narrar a história através da conversa entre Waldisney e o delegado, interpretado por Mauricio Manfrini (mais conhecido pelo papel de Paulinho Gogó). Dessa forma a obra evita se transformar em simples esquetes de humor televisivo.

Lamentavelmente isso não dura durante todo o filme e a partir do ponto em que a trama chega ao assalto, “O Porteiro” não consegue se controlar e se entrega de vez ao esquema de “esquetes”. O roteiro chega ao ponto de simplesmente ignorar o fato de que a narrativa é contada através do ponto de vista de Waldisney, mostrando personagens em situações isoladas nas quais o protagonista/narrador não teria como saber o que estava acontecendo com eles. Talvez isso pudesse ser relevado se os momentos apresentados fossem interessantes ou relevantes para a história, mas tristemente só servem para insistir em piadas ruins e repetitivas.

É impressionante como o filme e uma parte do elenco não consegue sair do caricato, transformando os personagens em figuras repetitivas que só sabem insistir em uma mesma piada. Um bom exemplo é Rosivalda, interpretada por Cacau Protásio, que é uma funcionária do prédio cuja premissa é dar em cima de qualquer homem que apareça ao seu lado na tela. Assim, “O Porteiro” deixa a narrativa de lado, se transformando em um programa de humor onde os participantes repetem as mesmas atitudes, mas por sorte sem utilizar bordões.

O timing cômico do filme também é irregular, muitas vezes persistindo em prolongar a cena em determinados momentos em busca do riso gerado pelo desconforto, ou pela insistência, só que sem sucesso na maioria das vezes. Pior é quando ainda interrompe a piada no meio, depois retomando achando que segue sendo engraçado. Uma parte no qual o delegado cita diversos sinônimos para a palavra maconha exemplifica bem isso. Ele é interrompido por Waldisney, que está contando algo e vemos o flashback, então ao retornar o personagem de Mauricio Manfrini prossegue, mas a anedota prossegue sem o mesmo impacto.

Dessa forma, “O Porteiro” peca por transformar Waldisney em um coadjuvante em seu próprio filme. A ideia seria ele contar os causos dos moradores e em como ele lida com as situações, mas os personagens que estão ao seu redor são caricatos e repetitivos, sem nenhuma verossimilhança. Sem dúvidas o protagonista Alexandre Lino merecia uma história no qual a sua própria jornada fosse melhor explorada. Isso é apresentado rapidamente no início do filme, onde vemos alguns moradores que chegam ao prédio e não respondem ao bom dia dele. Os poucos momentos em que ele parece alguém verossímil é em suas interações com a filha mais nova. É uma pena que a obra dirigida e roteirizada por Paulo Fontenelle não consiga escapar da armadilha de se transformar em um programa de humor televisivo de esquetes de situações recorrentes, deixando a história e intérprete principal de lado.


Uma frase: – Waldisney: “Não se preocupe comigo não, minha filha. Ser porteiro é assim mesmo.”

Uma cena: Waldisney tocando a campainha do apartamento do morador que está fazendo sexo.

Uma curiosidade: Segundo o ator Alexandre Lino, o personagem Waldisney foi criado a partir de entrevistas com diversos porteiros nordestinos que foram em busca de oportunidades de trabalho nas cidades do Rio de Janeiro ou São Paulo.


O Porteiro

Direção: Paulo Fontenelle
Roteiro: Paulo Fontenelle
Elenco: Alexandre Lino, Mauricio Manfrini, Cacau Protásio, Daniela Fontan, Aline Campos, Suely Franco, Rosane Gofman, Raissa Chaddad e José Aldo
Gênero: Comédia
Ano: 2023
Duração: 83 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *