Crítica | Loucas em Apuros (Joy Ride)

Crítica | Loucas em Apuros (Joy Ride)

É fascinante quando o simples fato de um filme ser protagonizado por um grupo que normalmente tem espaço de destaque em Hollywood pode fazer uma enorme diferença. Assim a comédia “Loucas em Apuros”, estreia da diretora Adele Lim, surpreende por fazer humor de um ponto de vista do qual não estamos acostumados. Lim foi uma das roteiristas de “Podres de Ricos“, onde se destacou ao mostrar uma comédia romântica moderna através de personagens de origem asiática.

Antes de falar mais sobre o filme, é importante ressaltar o quão problemática é a tradução de “Joy Ride”, título original que significa “viagem da alegria”. É bizarro como a distribuidora brasileira insiste em uma tradução caricata e machista, pois assume que mulheres se divertindo só podem ser chamadas de “loucas”.

Voltando a obra de Adele Lim, ela conta a história de Audrey (Ashley Park), uma mulher de origem asiática que foi adotada quando criança por uma família branca americana. Na infância ela virou amiga de Lolo (Sherry Cola), pois elas eram as únicas crianças orientais da vizinhança. A protagonista viaja para Pequim, capital da China, a trabalho e leva a melhor amiga para ser tradutora. Lolo por sua vez leva sua prima “Olho de Peixe-morto” (Sabrina Wu) e na cidade Audrey marca de se encontrar com Kat (Stephanie Hsu), amiga da época da faculdade que trabalha como atriz. Juntas elas embarcam em uma viagem em busca da mãe biológica da protagonista e se metem em diversas confusões e diversões.

O roteiro segue uma fórmula básica de comédias envolvendo um grupo de amigos, mas o ponto de vista feminino e de descendência oriental faz a diferença por nos oferecer uma perspectiva diferente e com isso novos elementos e possibilidades de humor. Ainda assim “Loucas em Apuros” surpreende, pois a trama vai por caminhos que o público não imagina e ainda tem algumas reviravoltas interessantes.

Além disso, a trama desenvolve muito bem as quatro personagens e a química entre as atrizes faz com que o público facilmente crie empatia com elas. Audrey como protagonista é a que tem a jornada mais interessante, pois ela vive um dilema de dificuldade de se aceitar como ela é. Assim ela sente a necessidade de sempre provar ser a melhor possível, pois não quer ser apenas a “menina oriental adotada”. É intrigante como ela foi criada por uma família branca, mas não se sente como tal por sua origem, mas também não é oriental por não ter tido o convívio com a cultura.

Outro ponto importante é que o fato de ser dirigido, escrito e protagonizado por mulheres, faz com que “Loucas em Apuros” mostre o ponto de vista feminino sem julgamento moral machista em torno das situações que as personagens passam. Assim vemos, por exemplo, uma delas explorando sua sexualidade em uma cena sexy, mas na qual seu corpo não é explorado de forma objetificada. Além também de momentos de sororidade, apesar de eventuais conflitos que surgem de ciúmes em torno da relação de amizade entre elas.

Em síntese, assim como em “Podres de Ricos“, “Loucas em Apuros” surpreende por utilizar o ponto de vista de personagens orientais para dar uma nova roupagem para a comédia, mas não deixa de explorar o drama delas. E Adele Lim demonstra muito talento na direção, após ter se destacado como roteirista.


Uma frase: – Kat Huang: “Não é um joystick, é a minha bunda!”

Uma cena: Quando as protagonistas fingem ser uma banda de kpop.

Uma curiosidade: Além de uma participação especial, Daniel Dae Kim esteve envolvido com sugestões de elenco. Ele recomendou Ashley Park (Audrey) e Stephanie Hsu (Kat) depois de trabalhar e fazer amizade com elas em produções da Broadway.


Loucas em Apuros (Joy Ride)

Direção: Adele Lim
Roteiro: Cherry Chevapravatdumrong e Teresa Hsiao; história de Cherry Chevapravatdumrong, Teresa Hsiao e Adele Lim
Elenco: Ashley Park, Sherry Cola, Stephanie Hsu e Sabrina Wu
Gênero: Comédia
Ano: 2023
Duração: 95 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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