Crítica | Beau Tem Medo (Beau Is Afraid)
“Beau Tem Medo”, novo filme do diretor Ari Aster, pode ser definido de forma simplória como uma longa (178 minutos) sessão surrealista de terapia dividida em três atos. Não por acaso a história começa com o protagonista interpretado por Joaquin Phoenix em uma consulta com seu psicólogo. A partir daí acompanhamos a jornada de Beau em encarar ou não uma viagem para encontrar com sua mãe, enquanto aparecem diversos empecilhos (reais ou imaginários) em seu caminho. Aster coloca em prática toda sua ambição, deixando um pouco de lado o terror e investindo mais em um tom cômico, mas sem abandonar o drama.
É uma surpresa essa abordagem cômica, principalmente se compararmos com suas obras anteriores: “Hereditário” e “Midsommar”. No entanto, o tom de comédia de “Beau Tem Medo” não é muito tradicional. Em alguns momentos Ari Aster usa o humor do desconforto, recurso muito comum em séries como “The Office”. Em outros, a risada é gerada através do absurdo, pois muito do que ocorre com Beau é tão surreal que causa risos. Não por acaso o cineasta escolheu alguns atores de comédia para o elenco como Nathan Lane e Amy Ryan (tem também uma ponta de Bill Hader).
Contudo, talvez o principal sentimento que o filme causa é de angústia. E esse clima é muito bem explorada pela trilha sonora de Bobby Krlic, que trabalhou com Aster em “Midsommar”, que utiliza tons dissonantes para causar a sensação de atordoamento, assim fica a impressão se o que é visto na tela é real ou não.
O roteiro do próprio Ari Aster explora também o sentimento de culpa do protagonista e, aparentemente, a maioria dos seus problemas está conectado com a sua relação com a mãe. No início vemos como para Beau ir ao encontro dela é um grande desafio, pois surgem diversos empecilhos, só que a maioria parecem coisas criadas pela sua própria mente em versões exageradas. No primeiro ato isso funciona bem, mas no segundo esse recurso se torna um pouco repetitivo.
Esse segundo ato explora elementos de um road movie, colocando o protagonista na estrada seguindo a sua jornada, seja hospedado na casa de estranhos ou ele perdido na floresta. Apesar da repetição do surrealismo em torno dos medos de Beau, essa parte apresenta o momento mais criativo e interessante de “Beau Tem Medo” onde o personagem de Joaquin Phoenix encara uma viagem de retrospectiva da própria vida através de uma mistura de animação tradicional com stop-motion.
Por último, Beau finalmente encontra com sua mãe e nesse ato Ari Aster explora novamente um pouco do terror visto nos seus filmes anteriores, especialmente o clima de estranhamento visto em “Midsommar”, só que com toques de surrealismo influenciados por David Lynch. Assim, após se arriscar, o cineasta volta para sua zona de conforto.
A questão é que após quase 3 horas de duração, “Beau Tem Medo” deixa mais dúvidas do que respostas. Obviamente que o papel da arte é causar uma reflexão, no entanto o cineasta parece mais interessado em incluir “piadas internas” sobre sua própria vida que não encontram uma conexão fácil com o espectador, especialmente com o que é mostrado durante a narrativa, do que dar alguma “recompensa”. É sem dúvidas um trabalho ambicioso e arriscado, mas menor dentro da filmografia de Ari Aster.
Uma frase: – Beau: “O que eu devo fazer?”
Uma cena: Beau indo comprar água do outro lado da rua de onde mora.
Uma curiosidade: Joaquin Phoenix tinha alfinetes afiados instalados em sua mão enfaixada para cutucá-lo dolorosamente se ele os usasse. Para também simular as lesões no torso, ele tinha clipes de encadernação presos ao estômago para ajudar a facilitar uma mancada realista.
Beau Tem Medo (Beau Is Afraid)
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Elenco: Joaquin Phoenix, Patti LuPone, Nathan Lane, Amy Ryan, Stephen McKinley Henderson e Parker Posey
Gênero: Drama, Comédia, Terror
Ano: 2023
Duração: 178 minutos