Crítica | Todo Dia a Mesma Noite (Netflix)

Crítica | Todo Dia a Mesma Noite (Netflix)

O mundo é um lugar cruel. Basta passar os olhos em qualquer site de notícias para sermos inundados por situações violentas, chocantes e revoltantes. Algumas podem não nos afetar tanto por acontecerem muito longe, outras soam próximas demais para não nos importarmos.

Aposto que você se recorda do que sentiu naquela manhã de domingo dia 27 de janeiro de 2013. Todos sentimos muito a morte daqueles 242 jovens que queriam apenas curtir uma noite na cidade de Santa Maria. Ler as reportagens, ver os vídeos de feridos ajudando os bombeiros a resgatar outras vítimas, ver a agonia dos familiares e posteriormente descobrir a enorme quantidade de erros que levaram a tamanha tragédia. Tudo isso causou uma enorme tristeza e também revolta.

Claro que não ia demorar para os responsáveis por isso estarem atrás das grades, não é mesmo? Afinal o incêndio da boate Kiss causou comoção nacional e teve repercussão internacional. Ledo engano. Os anos passaram e no momento não há ninguém preso. Não houve justiça até agora. A dor daquelas famílias não tem fim.

A minissérie Todo Dia a Mesma Noite da Netflix tem a importante função de ajudar a não deixar esse caso cair no esquecimento, além de revelar algumas coisas que muitos podem desconhecer.

Não se trata de um documentário. São 5 episódios que dramatizam o caso com atores interpretando personagens inspirados em quem estava lá. Pena que o resultado é extremamente irregular.

O ponto alto de Todo Dia a Mesma Noite é os dois primeiros episódios, principalmente o segundo. Aqui a trágica noite é recriada com toda suas ramificações. O incêndio e o caos que se segue são mostrados com crueza e intensidade, mas sem apelar para cenas muito gráficas. A escuridão toma conta, a câmera treme freneticamente e os gritos são perturbadores. Já sabemos que em pouco tempo centenas estarão mortos. É dolorido demais.

Tão dolorido quanto isso é ver a reação dos pais. O desespero e a angústia da incerteza são esmagadores. A maior parte do elenco transmite com muita verossimilhança todo os sentimentos que aqueles pais viveram. É praticamente impossível não ir às lágrimas.

Algumas cenas possuem detalhes bem pesados: os celulares em cima dos corpos cobertos revelando inúmeras ligações ou um pai que reconhece o corpo da filha devido a um presente de aniversário.

Os três episódios restantes, infelizmente, são problemáticos. Ainda que cumpram o importante papel de nos revelar os problemas estruturais da boate, os erros da prefeitura e do corpo de bombeiros e os mecanismos legais que soam absurdos, são episódios repetitivos e com sequências clichês que beiram a artificialidade.

Apesar da maior parte do elenco ser ótimo, algumas atuações alternam excessiva teatralidade com inexpressividade. É difícil entender tamanha discrepância.

Outra coisa que podemos debater é o sotaque usado por alguns atores. Se por um lado a intenção de deixar a experiência mais autêntica é válida, a execução nem sempre alcança esse objetivo. Em certas cenas o sotaque fica meio forçado e de maneira não intencional pode nos fazer rir. Acho que não era essa a ideia, não é mesmo?

De qualquer forma, Todo Dia a Mesma Noite tem mais acertos do que erros. Ele trata o caso de forma digna e nos ajuda a entender melhor vários de seus aspectos. Não é algo que eu queira ver novamente pelo grau de sofrimento mostrado nos primeiros episódios e pelos problemas narrativos dos últimos, mas não dá para negar a sua relevância.



Todo Dia a Mesma Noite

Criado por: Gustavo Lipsztein
Plataforma: Netflix
Elenco: Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington
Ano: 2023

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

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