Review | Pachinko (Apple TV+)

Adaptação do livro de mesmo nome escrito por Min Jin Lee em 2017, Pachinko é uma das ótimas opções do catálogo da Apple TV+.

A série aborda com ambição e sensibilidade um drama familiar ao longo de décadas. Tudo começa com a garotinha Sunja em uma pequena vila da Coreia lá pelos idos de 1915. A vida é árdua para ela e sua família durante a ocupação japonesa. A garota cresce em meio a opressão dos estrangeiros, mas recebe exemplos de perseverança e gentileza de seus pais.

Logo vemos a mesma Sunja muitos anos na frente com suas rugas e um ar cansado, agora vivendo no Japão.

A série alterna as linhas temporais de maneira fluida, aumentando a carga dramática diversas vezes. Isso nos faz pensar quais caminhos os personagens seguiram para chegar onde estão, o que reserva surpresas.

O foco em Pachinko é o lado intimista da família de Sunja, mas os aspectos históricos daquele período também são ressaltados. A crueldade dos japoneses era realmente revoltante. E o pior é que muitas décadas depois os coreanos ainda seguem sendo vítimas de preconceito.

Por mais estranho que possa parecer, muitos coreanos resolveram abandonar sua pátria para viver justamente no país que lhes oprimia. Sunja foi um desses imigrantes e durante a primeira temporada acompanhamos os percalços que ela enfrentou.

Existem outros personagens importantes em Pachinko, como Solomon (neto), Mozasu (filho) e Hansu. Sugiro não tirar conclusões precipitadas sobre esse ou aquele personagem. Pachinko vai fundo para mostrar o passado de vários deles nos permitindo compreender melhor suas ações.

Pachinko geralmente caminha em um ritmo mais calmo e às vezes contemplativo. Ele é muitas vezes melancólico, mas não depressivo. E há espaço também para um pouco de humor.

A direção de arte é brilhante e em vários momentos ficamos diante de imagens de rara beleza. Outro ponto forte são os diálogos e a forma com que eles impulsionam reflexões.

Falando em diálogos, um detalhe interessante: quando os personagens falam em coreano as legendas ficam em amarelo, quando falam em japonês ficam em azul e em inglês são brancas. É possível observar os efeitos da ocupação japonesa e da globalização prestando atenção nisso.

Talvez você esteja se perguntando o que significa a palavra Pachinko. Ao ver o seriado descobri que isso é tipo um jogo japonês semelhante a um pinball. É tudo muito errático, difícil e ainda por cima pode ser manipulado. Uma verdadeira metáfora para a vida de todos aqui.

Sunja é uma personagem fascinante desde criancinha. Vê-la diante das mais diversas dificuldades para poder sobreviver é inspirador e emocionante. Ela passou por muita coisa, precisou abandonar sua terra natal para tentar uma vida melhor e se adaptou a cada situação. Ela jamais deixou de ser quem é e tem orgulho de suas origens. Isso é algo que a geração mais nova nem sempre consegue entender.

Um das cenas mais marcantes e que vai ficar gravada na minha memória por muito tempo envolve um tipo de vingança contra toda uma pesada História de exploração. Sinceramente, até quem tem um coração de gelo vai sentir um calorzinho e vibrar

Pachinko nesses nove episódios proporciona emoções fortes e nos conquista com sua mistura de arte e dramalhão na medida certa.