Entrevista | Leandro Delmonico da banda Charme Chulo
Poucas bandas do cenário alternativo brasileiro são tão interessantes como a curitibana Charme Chulo. Desde sua fundação no começo dos anos 2000 até hoje eles fazem um som cheio de criatividade e utilizando os mais variados elementos. É um som realmente único e que chama a atenção. E as coisas ficam ainda melhores ao vivo.
Nos últimos dias tive o prazer de bater um papo com Leandro Delmonico, guitarrista/violeiro/voz e fundador da banda.
Vou deixar uns vídeos e uma lista no Spotify que elaborei depois de escutar toda a discografia deles um par de vezes.
Brauns – Qual é a melhor forma de definir o som original e peculiar do Charme Chulo? Podemos chamar de Rock Caipira? Pós-punk Caipira?
Leandro – As duas maneiras se encaixam. Gostamos do rock caipira porque dentro dos dois gêneros existem muitas variações. De fato nossa banda começou com muita influência de pós-punk e música caipira da década de 1960, no entanto outras sonoridades foram aparecendo e no último disco chegamos a flertar até com o Calypso haha.
Brauns – Vocês fizeram parte do line-up do Curitiba Rock Festival em 2005. Como foi tocar com bandas consagradas como o Weezer logo no comecinho da carreira de vocês?
Leandro – Hoje soa como um aprendizado. Nós tivemos um barulho legal em torno do nosso primeiro EP “Você sabe muito bem onde eu estou”, de 2004 e tinha muita gente de olho na banda. Quando lembro daquele show penso o quanto éramos imaturos no palco, mesmo assim a galera valorizava a originalidade da viola e a performance do Igor. Mas eu sempre brinco que o Charme Chulo atual faria uma apresentação muito melhor. Foi um evento inesquecível -pra gente e pra quem gosta de indie rock.
Brauns – Quando apresento o Charme Chulo para meus amigos sempre fico na dúvida se falo que é uma banda curitibana ou uma banda de Maringá. Qual é o mais certo?
Leandro – Definitivamente uma banda curitibana, pois tudo aconteceu aqui. Maringá e o interior do Estado são fundamentais no conceito da banda já que eu e o Igor nascemos lá e visitamos constantemente a cidade. Uma banda paranaense formada em Curitiba 😉
Brauns – Dentro do grande caldeirão de influências de cada integrante da banda temos: Almir Sater, REM, The Smiths, Two Door Cinema Club (ou outra indie dançante), Mazzaropi (Jeca Tatu!), Dalton Trevisan… o que mais dá para adicionar aí?
Leandro – Essa mistura explica bem a essência da banda. Mas cada música tem uma história peculiar. Já misturei Creedence e Belle and Sebastian pra criar um riff, tem música com influencia de reggae , outras coisas mais bregas e eletrônicas e por aí vai. É como se um caipira ouvisse vários e fosse colocando tudo dentro do mundo dele hehe
Brauns – Ano passado vocês lançaram o ótimo O Negócio é o Seguinte, um álbum que figurou em diversas listas de melhores nacionais do ano. Vemos nele um grupo amadurecido, sem medo de ousar, mas sem deixar a essência de lado. Uma mistura coesa de vários estilos que culmina em algo único. Consideram esse o melhor trabalho do Charme Chulo até o momento?
Leandro – Obrigado. Particularmente considero o disco mais Pop da banda. Para os fãs é muito difícil desbancar o primeiro disco porque rola uma pelo sentimental ali, mas, como você observou, é um trabalho mais maduro, que consegue trabalhar as grandes características da banda por meio de uma sonoridade mais sofisticada e a ótima produção do Rodrigo Lemos.
Brauns – Durante os picos da pandemia me apeguei a vários álbuns. Escutava-os incessantemente para dar uma relaxada diante de todo aquele caos. Um desses álbuns foi O Negócio é o Seguinte. Gostaria de saber quais foram os álbuns que deram uma força para vocês nesse período.
Leandro – Eu acho que todo mundo revisitou discografias durante a pandemia. A própria trajetória do Charme Chulo foi reavaliada pela gente durante o processo. Lembro que fiz alguns vídeos explicando as composições da banda. Eu me apaguei bastante aos novos artistas. O Igor não tem ouvindo muita coisa nova, mas ele é um grande pesquisador de música. No meu caso, procurei sacar a sonoridade da nova música brasileira (Duda Beat, Terno Rei, músicas do rádio, Tim Bernardes e etc).
Brauns – Fãs são ansiosos por material novo. Esperar 7 anos entre Crucificados pelo Sistema Bruto e O Negócio é o Seguinte não foi fácil. Será que o próximo sai em menos tempo?
Leandro – Temos um conceito para um novo disco do Charme Chulo e isso é um bom sinal. “O Negócio é o Seguinte” é um álbum que partiu bastante de mim, não tínhamos um grande plano para o disco, portanto tive que trazer o Igor para o Pop haha. Agora nós temos uma visão do que seria o próximo trabalho, só não posso contar, mas a tendência é que saia em menos tempo.
Brauns – Falando em pandemia, como foi a sensação de voltar a fazer um show com a casa lotada como foi no Jokers em junho, junto com o Mordida?
Leandro – Isso é muito revigorante. Temos quase 20 anos de existência como banda – e o primeiro disco saiu lá em 2007. Saber que a galera canta e espera as músicas novas e realmente o que faz a gente continuar. Fizemos apenas 5 shows em 2022 e todos foram ótimos. Hoje a gente busca esse equilíbrio. Infelizmente não podemos mais nos jogar na estrada como fazíamos no começo da banda. Temos filhos, trabalhos paralelos e por aí vai. Mas hoje fazemos mais shows legais do que antes.
Brauns – Há alguns anos vocês gravaram uma bela versão de Mais Além com as incríveis Lio e Lay da banda Tuyo. Há planos para um projeto semelhante?
Leandro – Trocar com outros artistas é algo muito importante. Conhecemos as meninas da Tuyo ainda no primeiro projeto de destaque delas (A Simonami). Além de ser algo muito emocionante e gratificante, é uma forma da banda se atualizar. Faz muito bem. Sempre pensamos nessa possibilidade de um “feat”. Assim que rolar a gente faz de novo.
Brauns – E será que existe a possibilidade de shows no Nordeste em um futuro próximo? Vocês acabaram de dividir o palco com o Maglore de Salvador…
Leandro – É um dos nossos sonhos. Única região do país que a gente não foi. Nós queremos muito registrar um show da banda com um bom padrão de qualidade (não temos nenhum registro de show inteiro. Acho que isso vai ajudar bastante na circulação do grupo para outras regiões).