Crítica | Morbius (2022)

Crítica | Morbius (2022)

Após o sucesso inesperado de Venom, a Sony decidiu levar outro vilão do Homem-Aranha para as telas do cinema: Morbius. Esse personagem tem uma história com potencial para existir sem a presença do aracnídeo, mas infelizmente o roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless não consegue construir um protagonista muito interessante. A direção de Daniel Espinosa, de “Vida”, também não apresenta nada minimamente criativo e desenvolve um filme preguiçoso e genérico.

Na trama, Jared Leto interpreta o Dr. Michael Morbius, um bioquímico que tem uma doença rara no sangue e dedicou sua vida a encontrar uma cura. Para definir a integridade do personagem, o filme faz questão de mostrar que ele rejeitou o prêmio Nobel porque sua pesquisa ainda é falha. Por outro lado, ele pesquisa sem nenhuma ética a possibilidade de combinar DNA humano com de um morcego e decide realizar um experimento ilegal em um navio em águas internacionais.

Obviamente que ele decide testar em si mesmo e o negócio não dá certo, fazendo com que ele ganhe super poderes de morcego, meio que um vampiro, mas que nunca fica muito claro exatamente o que é. O principal é que ele perde o controle de sua mente, tem uma sede incontrolável de sangue humano e com isso mata vários homens sem nenhum pudor para poder sugar o sangue deles.

Nesse ponto o filme é extremamente moralista, pois para manter Morbius como um anti-herói, as únicas pessoas que ele mata são bandidos (teoricamente). Isso é até dito por um agente do FBI interpretado por Al Madrigal após prender o protagonista, dessa vez acusado de matar uma colega de trabalho enfermeira, essa sim uma vida que importa.

Inclusive, os agentes interpretados por Madrigal e Tyrese Gibson são totalmente incompetentes, mostrando a fragilidade do roteiro e também uma escolha infeliz para os papéis. Eles fazem uma dupla meio “good cop, bad cop” (policial bom e outro mau), sendo um sério e outro “engraçadinho”. O problema é que colocaram Gibson para ser “sóbrio”, enquanto Madrigal como o piadista, só que ele é bem sem graça – responsável por alguns momentos de alívio cômico, sendo que nenhum funciona (especialmente as que fazem referência ao universo dos vampiros) – e é impossível levar Tyrese a sério, ainda mais em um filme como esse.

Talvez o comportamento dos personagens seja um dos piores problemas de Morbius, principalmente quando as atitudes mudam sem explicação ou como as motivações não são bem exploradas. Possivelmente a pior situação seja de Milo,interpretado por Matt Smith, que se transforma no vilão da história.

Ele tem o mesmo problema de saúde que Michael, então eles se conhecem desde crianças e são praticamente irmãos de consideração. O doutor dedicou sua vida em busca da cura para si mesmo e também para o amigo – que inclusive bancou o estudo, então quando a cura surge após o experimento, apesar dos efeitos colaterais, ele também quer usar. Dessa forma, mesmo sem aprovação do “irmão”, o homem vai lá se transforma também num “super vampiro”, só que “malvado” e sua motivação é convencer o protagonista a aceitar sua condição de cura com implicações bizarras.

Com esse tipo de motivação fica complicado para Smith apresentar algo minimamente interessante para o personagem. O ator não consegue fugir da caricatura, fazendo “caras e bocas” clichês para mostrar o quão “perigoso” é. Para completar, os diálogos são bem ruins, culpa do roteiro terrível.

Completando o time de personagens temos a doutora Martine, interpretada por Adria Arjona, que ajuda Morbius em seu estudo e descobre facilmente as intenções dele de ir além do permitido pela ética. Se em determinado momento ela faz questão de frisar que tem um doutorado, sua função dentro do roteiro é infelizmente ser apenas a “dama em perigo” com doses de “interesse romântico”, em um romance forçado sem sentido e química.

Já na parte técnica, pouca coisa não merece críticas negativas. Somente os efeitos visuais e de maquiagem da transformação de Morbius são minimamente competentes inicialmente, mas os movimentos do personagem são esquisitos, já que ele se move mais rápido que o normal, deixando um rastro de “fumaça” meio sem sentido. Nada mais se salva, a começar pelas cenas de ação, com lutas genéricas e sem graça, prejudicadas pela computação gráfica irregular e câmeras lentas para incluir um “estilo”, mas que só servem para mostrar o quão clichê e sem imaginação o filme é. A fotografia e o design de produção tentam criar um clima sombrio, mas sem sucesso, principalmente pela pobreza de detalhes e criatividade.

Já a trilha sonora de Jon Ekstrand tenta evocar um tom “épico” inexistente na narrativa, sendo que em alguns momentos lembra, mesmo que inconscientemente, os temas de Batman de Christopher Nolan, especialmente quando vemos Morbius cercado de morcegos.

No final das contas não é nenhuma surpresa o resultado de Morbius, já que além de ser um personagem meio “lado B” da Marvel, tentar incluí-lo de qualquer forma em um filme solo foi uma ideia motivada e aprovada apenas graças ao sucesso de Venom. Tentar seguir a “fórmula” do filme do vilão do Homem-Aranha se mostrou mais uma vez ineficiente. 

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados no filme Morbius.

Para piorar, após um final abrupto, Morbius ainda piora a situação em suas cenas durante os créditos. Para se encaixar no universo do Aranha e aproveitando o multiverso apresentando em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, temos o Abutre (interpretado por Michael Keaton e apresentando em De volta ao Lar) indo parar na mesma linha narrativa. Assim vemos os dois se juntando, agora com qual motivação fica difícil entender. Já que até então o Dr. Michael só queria achar uma cura para sua doença. Mas enfim, isso é só mais um problema para a conta do longa-metragem de Daniel Espinosa.


Uma frase: – Dr. Michael Morbius: “Eu… sou… Venom!”

Uma cena: Quando Morbius acorda do experimento dentro do barco e ataca os mercenários.

Uma curiosidade: O personagem de Morbius também pode ser visto nos bônus do DVD de “Blade: O Caçador de Vampiros” (1998), em um final deletado.


Morbius

Direção: Daniel Espinosa
Roteiro: Matt Sazama e Burk Sharpless
Elenco: Jared Leto, Matt Smith, Adria Arjona, Jared Harris, Al Madrigal e Tyrese Gibson
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Ano: 2022
Duração: 104 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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