Clássicos | Céu E Inferno (1963)

Clássicos | Céu E Inferno (1963)

Quando pensamos em Akira Kurosawa rapidamente nos vem a mente filmes de samurai. Filmes brilhantes, diga-se. O fato é que o cineasta japonês também sabia trabalhar com temáticas contemporâneas e o resultado era tão bom quanto. É o caso do excelente Céu E Inferno.

A história se passa na Yokohama dos anos 1960 e envolve um sequestro e uma prolongada investigação. As tensas sequências de perseguição e o detalhado procedimento policial já fariam Céu E Inferno valer a pena, mas Akira Kurosawa sempre busca um algo a mais em suas obras.

Talvez o ponto mais memorável dessa experiência seja acompanhar o dilema moral enfrentado por Kingo Gondo, interpretado com solidez pelo inigualável Toshiro Mifune. Gondo é um dos donos de uma grande companhia de papel que está enfrentando dificuldades financeiras. Ele encontra uma saída que vai lhe custar alguns milhões de ienes, mas um pouco antes de fazer uma transferência ele recebe a notícia do sequestro do filho.

Gondo está pronto para juntar toda a grana exigida pelo sequestrador e eis que o seu filho retorna tranquilamente para casa. O fato é que houve um engano por parte do bandido. Quem acabou sendo raptado foi o filho do motorista de Gondo.

E agora? Pagar o resgate para salvar o filho do seu funcionário e ver sua empresa provavelmente ir a falência ou ficar com a grana e deixar a policia tentar resolver o caso?

Além disso, há um lado de Céu E Inferno com simbolismos e analogias elaborado com maestria. O filme é dividido em três atos bem demarcados que transmitem mensagens fortes relacionadas a diferença de classes, algo que assola quase todo lugar do mundo.

O primeiro ato se passa na mansão de Gondo, uma casa no alto de uma colina. Eis o céu. O segundo ato praticamente se passa dentro de um trem. O terceiro é quase todo no submundo de Yokohama, um lugar inóspito repleto de pobreza, dependentes químicos que se arrastam como zumbis em busca de um pouco de drogas e um clima pesado de desesperança. O inferno propriamente dito.

Akira Kurosawa utiliza takes longos no início para aos poucos nos absorver nesse universo. Depois as coisas ficam mais intensas, culminando na ótima cena do trem e no ato final perturbador. Com movimentos de câmera precisos e ideias originais, Kurosawa mostra uma mistura perfeita entre a técnica e a sensibilidade para se contar uma história que tem algo a dizer.

A mensagem aqui é forte e revela o quão complexa as questões sociais podem se tornar. Chega uma hora que o oprimido se cansa e vai em busca de algum tipo de vingança. As vezes é inevitável.


Uma frase: “Não estou interessado em autoanálise. Eu sei que o meu quarto era muito frio no inverno e quente demais no verão que eu não conseguia dormir. Sua casa parecia o paraíso lá em cima. Foi assim que comecei a te odiar.”

Uma cena: Quando o motorista e Kingo Gondo trocam olhares após uma tensa reviravolta.

Uma curiosidade: A maior parte da sequência no trem foi filmada em tempo real. A maioria dos extras era de passageiros.


Céu E Inferno (Tengoku to jigoku)

Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Hideo Oguni, Ryûzo Kikushima, Eijirô Hisaita
Elenco: Toshirô Mifune, Yutaka Sada, Tatsuya Nakadai, Kyôko Kagawa, Takashi Shimura, Kenjirô Ishiyama
Gênero: Policial, Drama, Mistério
Ano: 1963
Duração: 143 minutos
IMDb

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

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