Crítica | Luca (2021)
“Luca”, nova animação da Pixar, apresenta uma abordagem mais tradicional da narrativa do que normalmente é feito pelo estúdio da Disney. Mesmo sem ser tão ambicioso, o filme mantém o padrão de qualidade e foca no seu público alvo: o infanto-juvenil. Ainda temos algumas referências e temas nas entrelinhas da narrativa voltados para os adultos, mas sem dúvidas em menor grau do que nas produções anteriores.
O filme conta a história de Luca, um jovem monstro marinho que vive embaixo d’água com sua família, mas que tem uma enorme curiosidade pelo mundo dos humanos. Um dia ele resolve explorar o mundo fora da água, apesar dos constantes avisos dos perigos feitos pelos pais, e encontra Alberto, um jovem da mesma idade que ele que também é um monstro marinho. Juntos eles resolvem ir para uma pequena cidade de humanos chamada Portorosso para conseguir dinheiro com o objetivo de comprar uma Vespa e com ela viajar o mundo.
A animação tem como tema a amizade entre Luca e Alberto, mostrando que é possível haver afetividade entre homens, já que normalmente por causa do machismo estrutural os meninos são “ensinados” desde cedo sobre coisas como “homem na chora”. Além disso, “Luca” também fala sobre aceitação de quem é diferente, no caso dos protagonistas que são monstros marinhos e querem conhecer o mundo dos humanos. O problema é o medo do desconhecido da humanidade, refletida principalmente no “vilão” da história: o jovem Ercole, o bully da cidade de Portorosso.
A amizade de Luca e Alberto também é “abalada” pela presença de Giulia, uma jovem da cidade que se torna amiga deles. Ela, assim como Luca, adora o conhecimento e ensina o garoto sobre astronomia e muitas outras coisas sobre os humanos. Aí surge o ciúme de Alberto por causa da proximidade entre eles, já que essa busca por aprendizado atrapalha o plano inicial dos amigos de viajar pelo mundo na Vespa. O que une os 3 é vencer a corrida local e com o dinheiro a dupla pretende comprar a sonhada motocicleta.
O tema de amizade e aceitação não é nenhuma novidade dentro do cinema, mas a Pixar explora de maneira correta, sem sair do terreno seguro. Faltou um pouco de ambição, talvez, em explorar melhor principalmente os motivos que levaram os monstros marinhos a se isolarem embaixo d’água. A forma como a narrativa é desenvolvida lembra mais o estilo da Disney, usando até alguns clichês do estúdio do Mickey, como usar um personagem órfão (Alberto).
Na parte técnica, “Luca” impressiona com o visual, que lembra mais um estilo clássico, com clara inspiração dos Estúdios Ghibli, destoando um pouco da marca registrada da Pixar que é um visual mais moderno e inovador. A trilha sonora é correta e faz uso também de algumas canções italianas para compor o cenário da pequena cidade da Itália.
Em síntese, “Luca” é mais um acerto da Pixar. Ainda que o estúdio tenha preferido seguir por um caminho mais tradicional e “seguro”, a animação mantém o padrão de qualidade da filmografia deles. Um desenho leve e divertido, que conta com um elenco de vozes muito bom que garante um bom entretenimento.
Uma frase: – Alberto: “Silenzio Bruno.”
Uma cena: Daniela, mãe de Luca, jogando futebol com outras crianças.
Uma curiosidade: O diretor Enrico Casarosa tirou inspiração dos filmes de Hayao Miyazaki quando criou Luca. O sobrenome do protagonista originalmente era Portorosso, em referência à animação “Porco Rosso: O Último Herói Romântico”. Na versão final o sobrenome mudou, mas o nome da cidade onde a história se passa foi alterada para Portorosso.
Luca
Direção: Enrico Casarosa
Roteiro: Jesse Andrews e Mike Jones, história de Enrico Casarosa, Jesse Andrews e Simon Stephenson
Elenco: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli, Jim Gaffigan e Sacha Baron Cohen
Gênero: Animação, Aventura. Comédia, Família, Fantasia
Ano: 2021
Duração: 95 minutos