Crítica | Alvorada (2021)
O Palácio da Alvorada é a residência oficial do presidente da república do Brasil e foi concebido por Oscar Niemeyer. O local é palco do documentário “Alvorada” de Anna Muylaert e Lô Politi, que acompanha a ex-presidenta Dilma Roussef durante o julgamento do impeachment em 2016. A ideia das diretoras é mostrar um pouco do dia-a-dia de Dilma durante esse período terrível da democracia brasileira para vermos um pouco de como ela lidou com essa situação.
“Alvorada” mostra o lado mais humano de Dilma, que talvez muitos nem conheçam, já que a mídia costumava retratá-la como incompentente e nervosa. Esse retrato sem dúvidas mostra muito machismo, já que dificilmente um homem teria as mesmas denominações pelo seu comportamento mais “enérgico”. O fato é que poucas pessoas aguentariam passar pelo que ela passou, como por exemplo ir ao Senado passar pelo julgamento dos senadores.
O interessante do documentário é que optou por mostrar apenas o ponto de vista de dentro do palácio da Alvorada, então quando Dilma saia do lugar, como na ida ao Senado, acompanhamos o que está acontecendo através das televisões localizadas no lugar. Isso também mostra algo curioso que é o ponto de vista dos funcionários. No Alvorada temos as pessoas que são de carreira e que trabalham na cozinha, por exemplo, não importa o presidente que esteja lá, e os assessores pessoais do presidente. Fica claro que, enquanto os funcionários de carreira meio que seguem o seu cotidiano – porque o impeachment se concretizando, ou não, não afeta a sua rotina, os assessores de Roussef acompanham tudo com apreensão, já que estão envolvidos emocionalmente com o processo.
A protagonista do documentário obviamente é Dilma Roussef, então é intrigante acompanhar como aos poucos ela se sente desconfortável com a câmera. Assim, “Alvorada” só tem uma entrevista com ela, no resto do tempo apenas acompanha a sua rotina. Esse ponto de vista é singular para o espectador, já que é muito difícil ter esse tipo de acesso a uma figura pública tão importante quanto um presidente da república. É notável presenciar, por exemplo, o encontro dela com um grupo de representantes de mulheres. Imaginem algo similar com o atual presidente do nosso país?
O filme é bem contemplativo, sem determinar bem uma narrativa que não seja acompanhar a rotina de Dilma durante seus últimos dias no palácio. Tudo isso ao som de músicas de Heitor Villa-Lobos, um dos compositores mais importantes do Brasil, que sem dúvidas foi uma escolha acertada para compor o documentário.
“Alvorada” é um documentário que junto com “Democracia em Vertigem” e “O Processo” formam um contexto bem completo do processo de impeachment de Dilma Roussef. A obra de Petra Costa é mais didática e apresenta um ponto de vista mais pessoal da cineasta, enquanto o filme de Maria Ramos foca mais no julgamento em si. Já Anna Muylaert e Lô Politi captam o lado humano da ex-presidenta. Juntas, essas visões femininas documentam esse período de maneira fascinante.
Uma frase: – Dilma: “Eu tive 54 milhões e meio de votos. Eu espero do Senado justiça, não posso esperar outra coisa.”
Uma cena: A chegada do documento do impeachment no palácio da Alvorada.
Uma curiosidade: O filme foi exibido no 26º Festival de Cinema É Tudo Verdade e foi filmado durante o período de julgamento do impeachment de Dilma Roussef em 2016.
Alvorada
Direção: Anna Muylaert e Lô Politi
Elenco: Dilma Rousseff
Gênero: Documentário
Ano: 2021
Duração: 92 minutos