Crítica | Quo vadis, Aida? (2020)
![Crítica | Quo vadis, Aida? (2020)](https://i0.wp.com/pocilga.com.br/wp-content/uploads/2021/04/1724752.jpg-r_1280_720-f_jpg-q_x-xxyxx.jpg?fit=1200%2C600&ssl=1)
A expressão em latim presente no título do filme vem de uma passagem bíblica onde Pedro, fugindo da morte pelos romanos, encontra o fantasma de Jesus que lhe dá a sabedoria necessária. Pedro pergunta a Cristo “Aonde vais?”, a resposta do cordeiro de Deus é “Vou a Roma, ser crucificado de novo”. Isso dá a Pedro a coragem de terminar seu trabalho na terra. O título é irônico por ser uma parábola cristã e cruel ao direcionar a pergunta à protagonista.
A roteirista e diretora Jasmila Zbanic coloca o espectador ao lado de Aida (Jasna Duricic, brilhante), uma tradutora que auxilia nas conversas entre as lideranças bósnias locais e os militares holandeses que chefiavam a missão de paz das Nações Unidas. Aida era professora, casada e mãe de dois jovens rapazes, e aqui é importante ter em mente algo que o filme alerta nos créditos iniciais: o filme é baseado em relatos, alguns personagens foram criados pelo bem da narrativa, mas o que você verá aconteceu.
A história contada se passa na pequena cidade de Srebrenica, em 1995, quando as tropas nacionalistas sérvias acirram a perseguição aos bósnios muçulmanos no extremo oriente do que era a Iugoslávia, após mais de 3 anos de guerra. Aos poucos o roteiro mostra a estratégia brutal de apagamento étnico tocado pelo General Ratko Mladic (Boris Isakovic), que em cena é sempre tão cínico e canalha quanto um genocida vestido de “verde camuflagem” e ‘chegado’ às câmeras pode ser. Aida logo entende para onde tudo se encaminha e faz o que pode para proteger a sua família tentando não perder a calma e nem as esperanças de sobrevivência diante da tragédia que lhe é prometida. Ela é quem primeiro entende que os holandeses não passariam de meros espantalhos.
![](https://i0.wp.com/pocilga.com.br/wp-content/uploads/2021/04/quo-vadis-aida.jpg?resize=620%2C350&ssl=1)
O filme não choca por cenas de violência muito explícitas, mas sim pelas conclusões que tira do seu espectador a fim de entender o horror de uma guerra que têm civis como alvos – muitos destes colegas de infância de seus algozes. A inação que esvazia o conceito dos capacetes azuis deixa tudo ainda mais amargo. A construção da narrativa leva a um final desolador, daqueles que certamente deixam um longo e pesado silêncio nas salas de cinema.
O elenco é ótimo, com uma menção honrosa ao Coronel Karremans (Johan Heldenbergh) e há cenas muito bonitas, como a que Aida sonha para fugir da realidade, que aparenta ser uma referência ao episódio real da “Miss Sarajevo”. Neste sonho, a alegria e a festa não conseguem disfarçar o pavor de pessoas que são expulsas de suas terras e acuadas para o massacre – a crueldade no tom da pergunta do título.
Trata-se de uma obra muito bem executada, sem tirar nem pôr. Uma produção que traz profundidade ao debate sobre a palavra genocídio, muito atual à nossa realidade. Quase que didático a respeito deste terrível evento histórico, “Quo vadis, Aida?” é um grande drama de guerra sob a ótica feminina.
![](https://i0.wp.com/pocilga.com.br/wp-content/uploads/2021/04/bosnia-quo-vadis-aida-still.jpg?resize=631%2C392&ssl=1)
![](https://i0.wp.com/pocilga.com.br/_imagens/5kb.png?w=640&ssl=1)
Uma frase: Chamila para Mladic “Eu fui colega de escola do seu companheiro aqui. Não imaginava que as coisas chegariam a este estado.”
Uma cena: todo o arco final.
Uma curiosidade: Sobre o tema recomendo a graphic novel “Área de segurança Gorazde”, de Joe Sacco. Saiu aqui no Brasil em 2005 pela Conrad.
Este texto foi escrito por Nestor Sobrinho
“Tenho opinião demais pro meu gosto.“
![](https://i0.wp.com/pocilga.com.br/wp-content/uploads/2021/04/quo-vadis-aida-poster.jpg?resize=183%2C270&ssl=1)
Quo vadis, Aida?
Direção: Jasmila Zbanic
Roteiro: Jasmila Zbanic
Elenco: Jasna Djuricic, Izudin Bajrovic, Boris Ler, Dino Bajrovic, Johan Heldenbergh, Raymond Thiry, Boris Isakovic, Emir Hadizahfizbegovic, Reinout Bussemaker e Teun Luijkx.
Gênero: Drama, Guerra.
Ano: 2020/2021
Duração: 1h 41min
Um comentário em “Crítica | Quo vadis, Aida? (2020)”