A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Superman – O Filme (primeira parte)
Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em filmes sobre alienígenas superpoderosos que voltam no tempo fazendo o planeta girar ao contrário.
No episódio de hoje, veremos que Clark Kent tem algum problema com idosos, que um gênio do crime não entende como funciona o mercado imobiliário e que a única habilidade necessária para ser um bom jornalista é datilografar rápido.
Superman: O Filme (1978)
Roteiro: Mario Puzo, David Newman, Leslie Newman, Robert Benton e Tom Mankiewicz
Direção: Richard Donner
Nossa história começa em um julgamento por traição e tentativa de golpe no distante planeta Krypton, cujo curioso sistema penal envolve muitos bambolês e cabeças voadoras e pouco respeito ao devido processo legal e à ampla defesa.
Sem ter direito a advogado ou mesmo a se manifestar, os réus são declarados culpados por Jor-El, que acumula as funções de promotor, juiz, executor e cientista, o que me faz pensar que a justiça trabalhista kryptoniana deve ser bem menos rigorosa que a penal.
Após enviar os condenados a uma eternidade de dor e sofrimento na Zona Fantasma, Jor-El veste sua roupa de papel alumínio para encontrar seus pares do Conselho Planetário e reiterar sua crença de que o mundo está prestes a explodir, razão pela qual eles deveriam transferir toda a população para um outro planeta em menos de trinta dias — o que não me parece um prazo nada razoável, já que a proprietária do meu apartamento pede aviso com pelo menos um mês de antecedência para encerrar o contrato.
O Conselho, no entanto, parece valorizar muito mais o diploma de Direito do que o de Apocalipsologia de Jor-El, pois discorda das suas conclusões e determina que ele pare de declará-las em público, a fim de evitar criar pânico na população.
Contrariado, Jor-El acata a decisão do Conselho e declara que nem ele nem sua esposa deixarão Krypton, o que me pareceu extremamente curioso porque, primeiro, só pediram para ele ficar quieto, ninguém falou nada sobre proibi-lo de fugir do planeta. Segundo, porque a pobre da esposa não tinha nada a ver com a história, provavelmente está em casa arrumando as malas para a viagem sem saber que ele está por aí fazendo promessas em nome dela.
Depois do que deve ter sido uma DR complicadíssima com a esposa, Jor-El coloca seu filho Kal-El em um berço/espaçonave com muito mais cristais pontiagudos do que me parece recomendável para uma criança, a fim de enviá-lo para um planeta primitivo em uma galáxia distante chamado Terra.
Ocorre que a previsão de Jor-El de que o mundo acabaria em um mês tem margem de erro de trinta dias para mais ou para menos, porque no mesmo dia o negócio já começa a ir pro sal e Krypton explode instantes depois de o bebê deixar o planeta em sua espaçonave não aprovada pelo INMETRO.
Embora tenha escapado da destruição do planeta, Kal-El também tem a sua cota de sofrimento, pois sua viagem de anos até outra galáxia é acompanhada por longos áudios do próprio pai com curiosidades sobre ciência, conhecimentos gerais e história do Planeta Terra.
Ao pousar em nosso planeta, Kal-El é encontrado por Martha e Jonathan Kent, um casal de meia idade que faz o que qualquer um de nós faria ao resgatar uma criança de dentro de uma nave alienígena: decide criá-la como se fosse seu filho, sem informar as autoridades ou sequer tentar descobrir se o menino tem uma família.
Não, sério mesmo. Trinta segundos depois de ver a criança pela primeira vez, Martha já está agradecendo aos céus por ter enviado um filho, afirmando categoricamente que ele não tem família e bolando a história que vão contar para os vizinhos sobre o menino ser um parente distante que eles pegaram para criar.
Graças a um misto de autoridades incompetentes e marido querendo evitar DR, o plano de Martha dá certo e eles adotam o menino, batizando-o de Clark Kent.
O jovem Clark é então criado no bucólico e aprazível município de Pequenópolis, sem saber muito sobre suas origens alienígenas e sempre cuidando para manter em segredo os seus superpoderes, até que um dia ele decide apostar corrida com o pai idoso e cardíaco, levando-o à morte.
Após o funeral do pai adotivo, que tem apenas quatro pessoas porque ninguém quer ser muito amigo de um casal de notórios sequestradores de crianças, Clark descobre em casa um cristal verde que seu pai biológico Jor-El pôs na espaçonave que lhe trouxe à Terra.
Embora não esteja acompanhado de manual de instruções, Clark decide sem nenhuma razão aparente que precisa levar o cristal para o Polo Norte. Assim, depois de provocar indiretamente o infarto do pai, ele demonstra mais uma vez ter algo contra a terceira idade, porque abandona a mãe idosa e recém viúva sem deixar sequer o contato do zap para ela mandar uns GIFs de bom dia de vez em quando.
Chegando no Polo Norte, e mais uma vez sem nenhuma explicação, ele arremessa o cristal em um ponto aleatório, fazendo emergir uma grande fortaleza de gelo, o que me pareceu muito injusto porque quando é comigo eu não ganho fortaleza nenhuma, só recebo grito da minha consorte dizendo que quebro copo toda vez que bebo.
Dentro da fortaleza, Clark encontra um outro cristal que é basicamente um pen drive contendo as memórias, personalidade e holograma com a cabeça flutuante de seu pai biológico, que não satisfeito com os áudios que fez o filho ouvir durante toda a viagem Krypton-Terra, ainda decide lhe dar umas aulas de filosofia, ética, física, biologia, conhecimentos gerais sobre as 28 galáxias conhecidas pelos kryptonianos etc… por doze anos.
Imagino que nesse meio tempo Clark aproveitou também para fazer um curso EAD de comunicação e jornalismo, porque ao regressar à sociedade ele decide arrumar emprego como repórter, muito embora tenha passado mais de uma década totalmente alheio às notícias e eventos do mundo.
Apesar dessa considerável desvantagem e de não ter currículo, experiência prévia ou indicação, Clark não apenas consegue emprego no prestigioso jornal Planeta Diário como também assume a editoria de cidades anteriormente ocupada por Lois Lane, uma jornalista experiente, capaz e com tempo de casa.
Isso, é claro, nada tem a ver com machismo no meio jornalístico, mas sim com o fato de que ele tem a incrível habilidade de… datilografar rápido. Quem se importa com coisas como escrever bem, ter pensamento crítico, conhecimento e experiência de vida quando se é capaz de fazer 250 toques por minuto?
Enquanto isso, Lex Luthor, a autoproclamada maior mente criminosa de nosso tempo, está planejando o que ele chama de “crime do século”: explodir parte do estado da Califórnia com mísseis nucleares para que alguns terrenos que ele adquiriu no meio do deserto sejam subitamente transformados em praia e valorizados.
Vou confessar aqui que antes de escrever esse texto eu não entrei no OLX para ver como andam os valores de aluguel em Chernobyl, mas, mesmo sem muito conhecimento de causa, me parece que terra arrasada por uma explosão nuclear não deve ter lá uma procura muito alta. Talvez seja prudente que Lex dê uma olhada em conceitos como meia-vida, radiação, esse tipo de coisa.
Sem mencionar que ele é um criminoso procurado, que se esconde das autoridades vivendo no subterrâneo da cidade de Metrópolis, o que deve dificultar um pouco a aquisição, venda e uso de bens imóveis. Se bem que, obviamente, um gênio criminoso do quilate de Lex Luthor não cometeria o erro primário de comprar as terras em seu próprio nome, é claro que tudo será feito por meio de testas de ferro e empresas laranjas.
Em outras palavras, o crime do século, o plano diabólico da maior mente criminosa de seu tempo se resume a… especulação imobiliária.
Será que Clark vai prejudicar mais algum idoso? Será que Lex tem registro no CRECI para atuar como corretor? Será que em algum momento o Super Homem vai aparecer no filme do Super Homem? Não perca a continuação da nossa análise na semana que vem!
Atualização: a parte 2 já está no ar aqui, ó.
Esses filmes antigos do superhomem podem ser chamados de Clássicos?
Considerando que, pelo menos aqui no Brasil, não é necessário ter nível superior para trabalhar como jornalista, acredito que no final dos anos 1970 digitar rápido em uma máquina de escrever deveria ser um grande diferencial para se conseguir um emprego na área. Talvez o diploma da universidade de Kyrpton do curso que Clark fez assistindo as aulas do pai deve valer mais do que o de muitas faculdades de jornalismo do Brasil.
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Porra, tem até gancho pro próximo episódio, o negócio ficou profissa demais.
Clássicos sobre essa ótica ganham uma outra visão mais interessante e lúdica. Parabéns pelo excelente trabalho.
GANCHO FOI KIBE !