Crítica | A Grande Mentira (The Good Liar)
A Grande Mentira apresenta uma premissa interessante ao mostrar o idoso Roy Courtnay, interpretado por Ian McKellen, que é um golpista. O tom da narrativa começa leve, com uma pegada cômica, ao mostrar Roy se preparando para encontrar com Betty, interpretada por Helen Mirren. A mulher é o seu próximo alvo, que envolve golpes financeiros.
O interessante do filme de Bill Condon é ver uma trama envolvendo idosos, mostrando um pouco de representatividade na tela. Ver um casal de mais idade marcando um encontro às escuras através de um site de namoro é curioso, mas mostra o quanto a vida segue mesmo para aqueles de mais idade. Algo parecido foi também retratado na comédia Do Jeito que Elas Querem, mostrando que aos poucos o cinema tem se rendido a apresentar uma maior diversidade na tela.
Mentiras e um pouco de spoiler
Contudo, A Grande Mentira muda de tom aos poucos durante a construção da narrativa. Isso não seria um problema, mas o roteiro de Jeffrey Hatcher, que adapta o livro de Nicholas Searle, não consegue desenvolver bem essa mudança. O filme começa como se fosse uma comédia sobre golpistas, mas, de repente, se transforma um drama pesado envolvendo um passado durante a 2ª guerra mundial e vingança.
Isso não seria um problema se o diretor Bill Condon conseguisse captar as nuances da história e desenvolvê-las a ponto de que esse choque de tons não se tornasse algo ruim para o espectador. Se uma hora vemos Roy feliz com seus golpes, de repente percebemos que ele está disposto a atitudes bem mais extremas para conseguir alcançar os seus objetivos. O desenvolvimento do protagonista é o principal problema de A Grande Mentira, principalmente quando descobrimos mais sobre ele e o seu passado. Suas atitudes e o seu estado atual não fazem sentido dentro da narrativa e isso prejudica bastante o resultado final. Ian McKellen é um grande ator e entrega uma boa atuação com seu charme e talento, mas seu carisma não é capaz de salvar a jornada de Roy Courtnay.
Helen Mirren também está muito bem e a química dela com McKellen funciona, mas o roteiro prejudica o desenvolvimento do seu personagem. Ficamos o tempo todo em dúvida sobre suas reais intenções, enquanto no ato final quando descobrimos suas reais intenções o impacto não é tão forte quanto a narrativa prometeu, principalmente ao apresentar fatos passados em flashback.
Na parte técnica o filme de Bill Condon também decepciona, com uma montagem irregular, principalmente ao apresentar o flashback do protagonista. O ritmo de A Grande Mentira muda, deixando de ser fluído, e a narrativa se arrasta dando voltas sem saber muito em qual rumo seguir. Por outro lado o desenho de produção funciona ao apresentar a casa de Betty como um retrato da personagem, com um visual bem comum, mostrando um pouco da sua suposta ingenuidade.
Infelizmente o resultado final de A Grande Mentira deixa muito a desejar, com um filme irregular. Uma pena já que a narrativa apresenta uma premissa divertida, mas sua transformação em um pesado melodrama não funciona. Outro ponto desperdiçado é a solidão na terceira idade, algo que o roteiro explora de maneira superficial. É triste que o diretor Bill Condon despedisse o talento de grandes atores como Helen Mirren e Ian McKellen em uma trama mais interessada em apresentar uma grande reviravolta do que uma boa história.
Uma frase: – Roy: “Pode apostar que vou ficar com tudo.”
Uma cena: O primeiro encontro entre Betty e Roy.
Uma curiosidade: Esse filme marca a quarta colaboração entre o diretor Bill Condon e o ator Ian McKellen. Os outros 3 foram: Deuses e Monstros (1998), Sr. Sherlock Holmes (2015), e A Bela e a Fera (2017).
A Grande Mentira (The Good Liar)
Direção: Bill Condon
Roteiro: Jeffrey Hatcher
Elenco: Helen Mirren, Ian McKellen, Russell Tovey e Jim Carter
Gênero: Crime, Drama, Mistério
Ano: 2019
Duração: 109 minutos