Crítica | Midsommar: O Mal não Espera a Noite
Midsommar: O Mal não Espera a Noite é dirigido e roteirizado pelo jovem cineasta americano Ari Aster, conhecido pelo filme Hereditário (2018). Na história, Dani (Florence Pugh) vivencia uma grande tragédia familiar e busca no namorado Christian (Jack Reynor) apoio emocional. À procura de diversão, os dois decidem embarcar com um grupo de amigos para Suécia a fim de participar de um festival de verão numa estranha e pacata comunidade alternativa localizada no interior do país.
Cabe explicar que a celebração do solstício de verão (Midsommar) ocorre tradicionalmente em terras suecas no primeiro dia da estação. É uma das festas mais importantes do ano para os suecos, regada a muita comida, bebida, dança e música. De acordo com uma lenda local, Midsommar é marcado por um ritual pagão que celebra a fertilidade da natureza, quando elementos mágicos mais fortes coincidiriam no dia mais poderoso do ano, resultado do exato momento em que o Sol e a Terra estão no auge de seus poderes reprodutivos.
Todos esses elementos simbólicos do imaginário sueco sobre o solstício de verão estão presentes nos costumes dos nativos da vila fictícia Hårga. O vilarejo à primeira vista parece ser um paraíso na Terra, repleto de homens, mulheres, crianças e jovens sorridentes e gentis. Passado o momento de contemplação no qual o filme se estende durante dois longos primeiros atos, o cenário de excitação dos jovens estrangeiros com o festival sueco dá lugar a um sentimento perturbador e inusitado. Cresce neles a desconfiança sobre as verdadeiras intenções dos rituais da comunidade.
Atribuo parte do terror psicológico e do clima de suspenso produzido pelo longa ao excesso de claridade da fotografia do ambiente, algo incomum para filmes do gênero, e à trilha sonora bem executada. No mais, não espere cenas bizarras de violência, sequências de jump scare, sangue e morte. O cineasta parece ter concentrado esforços em criar um proposital desconforto no espectador a partir da subversão do imaginário padrão cultural eurocêntrico. O mal em Midsommar não reside na escuridão ou em elementos conceituados como magia “negra”.
A vivência de poucos dias na aldeia impele os visitantes a se questionarem sobre suas vidas, comportamentos, crenças. Os estrangeiros, no filme, são o olhar do espectador, que ao subir os créditos finais terá sentido a angústia e a aflição de quando se exercita a alteridade e a empatia – aspectos fundantes da Antropologia que, não por acaso, é a área de conhecimento na qual Christian e amigo Josh (William Jackson Harper) realizam seus estudos para a tese de doutorado. As relações familiares e o acolhimento parental também são questões preponderantes para o desfecho de Dani, estudante de Psicologia que busca todo tempo reprimir suas emoções pelo bem do seu relacionamento amoroso.
Apesar dessa eficiente lógica de simbolismos e signos ofertada pelo filme, como longa de terror, Midsommar frustra as expectativas dos fãs mais tradicionais do gênero, apesar de manter o suspense num nível altíssimo do começo ao fim. Porém, chega a ser entendiante o tempo gasto pelo diretor na contemplação dos costumes de Hårga. Em contrapartida, alguns elementos narrativos são simplesmente desperdiçados, o que pode passar uma impressão de superficialidade sobre o conceito estrutural do roteiro, uma vez que maior parte da narrativa é dedicada a exibir o efeito de bebidas alucinógenas na belíssima paisagem sueca, cujos movimentos lembram quadros do artista pós-impressionista Vincent van Gogh.
Veja também a crítica em vídeo:
Uma frase: – “Só fazemos isso a cada 90 anos”.
Uma cena: O ritual de despedida dos anciões.
Uma curiosidade: O diálogo sueco falado pelos nativos de Hårga não é legendado propositalmente, a fim de criar uma sensação de isolamento para o público e especialmente para os visitantes estrangeiros.
Midsommar: O Mal não Espera a Noite (Midsommar)
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Vilhelm Blomgren, William Jackson Harper, Will Poulter, Ellora Torchia, Archie Madekwe e Henrik Norlén
Gênero: Drama, Terror, Mistério
Ano: 2019
Duração: 147 minutos
Assisti ontem e achei maravilhoso. O grande trunfo do filme é justamente esse: fugir dos clichês de filmes de terror. É um drama psicológico com diversas camadas, desde o tema do relacionamento amoroso ao choque de cultura e religioso.