Crítica | Deixando Neverland (Leaving Neverland)

Crítica | Deixando Neverland (Leaving Neverland)

Michael Jackson foi um artista fantástico e sem dúvidas o “rei do pop”, como ficou conhecido. No entanto, sua vida pessoal sempre foi bastante problemática, seja pelas suas constantes mudanças visuais graças às operações plásticas, mas principalmente por causa do seu comportamento infantilizado. Tem também o fato de trabalhar com música desde criança e os abusos que sofreu do pai.

Contudo, a parte mais controversa tem a ver com o escândalo de abuso de crianças. O cantor passou por 2 julgamentos, sendo inclusive preso durante o 2º, mas conseguiu ser inocentado. Dez anos após sua morte surge o documentário Deixando Neverland, onde o diretor Dan Reed entrevistou Wade Robson e James Safechuck (e seus familiares), dois homens que agora admitem que foram abusados sexualmente por Michael. O que fez com que resolvessem assumir somente agora o que ocorreu?

Essa é a principal questão que Deixando Neverland aborda. Não é um documentário sobre Michael Jackson, mas sim sobre dois homens que finalmente tiveram a coragem de admitir os abusos que sofreram. O depoimento deles e de seus familiares é comovente e esclarece muito sobre o ocorrido.

Nas entrelinhas, mesmo não focando sobre isso especificamente, Deixando Neverland é muito sobre o poder do dinheiro, e principalmente sobre o fascínio em torno de celebridades. Mesmo que por acaso Michael Jackson não tenha abusado sexualmente das crianças, seu comportamento era muito bizarro. Não faz sentido um homem adulto estar sempre cercado de crianças e principalmente dormir junto com elas.

Deixando Neverland, foto

Uma das coisas que parece não fazer sentido é como foi possível que os pais das crianças deixassem que isso ocorresse. Aí é que entra a questão do fascínio pelas celebridades. Imagine que seu filho é fã de um artista, que tem milhares de fãs em todo mundo, e por acaso ele escolhe você e seu filho para fazer parte da vida dele. Foi isso que Michael Jackson fez, os seduziu através do seu poder como celebridade.

Dan Reed constrói ao longo de quase quatro horas, divididas em duas partes, a narrativa em torno de Wade e James, mostrando o paralelo e semelhança entre a história dos dois, apresentando os fatos com calma e com muitos detalhes. O comportamento de Michael Jackson em ambos os casos é muito similar, provando que existia um padrão.

A primeira parte contextualiza a situação, mostrando como Wade e Jimmy entraram na vida de Jackson. A montagem do documentário é muito boa em equilibrar a entrevista deles e de seus familiares com imagens de arquivo. Assim o espectador compreende a história deles e como isso influenciou suas vidas. Além de mostrar como existia um grande fascínio em todo o mundo em torno Michael Jackson, que era a maior estrela da época.

Na segunda parte é que Deixando Neverland apresenta a resposta em torno da principal questão: o motivo pelo qual Wade e Jimmy carregaram esse abuso por tanto tempo. Ambos eram apaixonados por Michael e sentiam que era era recíproco. Na época dos abusos, que ocorreram enquanto eles tinham entre 7 e 14 anos, nenhum deles tinha real consciência do que estava ocorrendo. Mas durante a vida adulta esse peso do passado começou a apresentar suas reais consequências. Um dos relatos mais assustadores é quando um deles conta que após virar pai, começou a ter pesadelo com Jackson abusando seu filho.

Deixando Neverland, foto

A consequência na vida de cada um deles por finalmente admitir o que ocorreu é bastante complicada dentro do seu núcleo familiar. Isso mostra o quanto eles têm muito mais a perder em suas vidas pessoais ao finalmente abrir o jogo, e dessa forma não teriam motivos para estar mentindo. Um motivo nobre do depoimento é justamente dar suporte às outras pessoas que passaram por abusos quando eram crianças.

Deixando Neverland, exibido pela HBO, é um relato devastador da história de dois homens que sofreram abusos do seu grande ídolo. Dan Reed conseguiu captar bem os sentimentos de Wade Robson e Jimmy Safechuck e os compartilhar com o mundo. É interessante como o documentário não quer diminuir Michael Jackson como artista. É inegável que ele foi um gênio da música, mas isso não o impede de ter sido um monstro como pessoa.


Uma frase: – Wade Robson: “Ele (Michael Jackson) me disse que se eles descobrissem o que estávamos fazendo, ele e eu iríamos para a prisão para o resto das nossas vidas.”

Uma cena: Quando Wade revela como contou para sua família os abusos que sofreu de Michael Jackson.

Uma curiosidade: Tanto Wade Robson quanto Jimmy Safechuck gravaram suas entrevistas em um período de 2 dias. Eles não receberam compensação financeira pelos seus testemunhos.


Deixando Neverland, cartazDeixando Neverland (Leaving Neverland)

Direção: Dan Reed
Elenco: Michael Jackson, Wade Robson e James Safechuck
Gênero: Documentário
Ano: 2019
Duração: 236 minutos (dividido em 2 partes)

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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