Crítica | 22 de Julho (22 July)
22 de Julho revive, de forma traumática e assustadora, o atentado terrorista que aconteceu na Noruega em 2011 onde 77 pessoas foram mortas por um neofascista – 7 delas num prédio do Governo em Olso com uma bomba numa van, e mais o massacre de 69 jovens que estavam em um acampamento em uma ilha (Utoya) – em um evento que ficou conhecido como o “11 de Setembro Norueguês”.
O cineasta Paul Greengrass (Capitão Phillips) volta com sua câmera na mão trabalhando bem na direção do filme e utilizando de forma bem acertada as locações não só da Noruega como também da Islândia em mais um “docudrama” que tenta narrar os acontecimentos em diversas frentes e focando mais nas consequências do ataque do que no que levou o psicopata (pelo menos é a forma como ele o retrata no filme) a cometer tais atrocidades.
O início é puro horror e somente com muito estômago o espectador consegue seguir adiante na história, principalmente na parte em que acompanhamos o assassinato em massa dos jovens que estavam se divertindo na ilha. A frieza na interpretação do ator Anders Danielsen Lie já é notada nesse primeiro momento, mas são as cenas que seguem as consequências do atentado que impressionam e, de certa forma, mesmerizam com uma atuação espetacular (por mais monstruosa que seja).
Passado o horror e choque do atentado, o filme foca mesmo é nas consequências que o ataque causou não só na Noruega como em todo mundo. Em uma das frentes, acompanhamos a luta de um jovem (e da sua família também) que, após ter levado alguns tiros, tenta se recuperar e sobreviver. A sua luta física é refletida também na luta psicológica que ele trava para seguir em frente. Há exageros tanto na dramatização quanto no uso de efeitos sonoros que a toda hora tentam remeter ao tiroteio do atentado, como se a expressão do ator já não fosse o suficiente para explicar algum de seus atos.
Na outra frente, talvez a mais conflitante da história, temos um advogado (uma espécie de defensor público) que precisa defender o responsável pelos ataques e, obviamente, enfrentar todas as consequências de sua obrigação judicial. É ele que fica na linha de frente com o terrorista e tem que assimilar tudo o que ele diz, pensa e deseja para criar uma estratégia de defesa e levar ao julgamento que domina a maior parte do tempo do filme.
Se as outras frentes tentam conversar mais com o espectador, a principal delas em que o filme foca é a mais “interessante” de todas. A interpretação de Anders Danielsen Lie é, de forma bastante sombria, realmente fascinante. Em boa parte de suas cenas Greengrass traz closes quase que cirúrgicos que levam o espectador a sentir calafrios ao adentrar na mente monstruosa do jovem. Até mesmo o trabalho (que é discreto) da equipe de figurino ajuda a compor o personagem de forma muito interessante e que pode ser notada no ponto em que ele decide “assumir o comando” do julgamento.
Por mais que o cenário todo já ajude a nos transportar para o profundo terror, a fotografia do filme consegue ampliar em determinadas partes este clima que é bem construído para o desfecho em seu terceiro ato que, de forma já não tão acertada, tenta trazer alguns lampejos de fragilidade no terrorista. Talvez seja a forma que Greengrass tentou encontrar para tentar trazer algum sentimento de “olha, ele sentiu sim o golpe” quando, na verdade, sabemos que com extremistas, ou melhor – vamos dar nomes aos bois que “far-right é gourmet” demais para tanta atrocidade-, neonazistas, não se é esperado nenhum tipo de humanidade.
Uma frase: – “…Um alívio porque agora, pelo menos, eu não tenho que olhar para a cara dele.”
Uma cena: Depoimento de Viljar no julgamento.
Uma curiosidade: A notícia que um filme sobre o atentado estava sendo produzido criou tanta controvérsia na Noruega que foi realizado um abaixo assinado que recolheu cerca de 20 mil assinaturas contra a realização do filme.
22 de Julho (22 July)
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Paul Greengrass
Elenco: Anders Danielsen Lie e Jon Øigarden
Gênero: Crime, Drama, História
Ano: 2018
Duração: 143 minutos