Crítica | 10 Segundos para Vencer
Boxe é sem dúvidas um dos esportes mais explorados pelo cinema. A sua dinâmica é muito boa para se explorar o drama em torno da luta. O Brasil tem tradição na modalidade e o lutador Éder Jofre é um dos mais importantes da história do país, e também do mundo. No entanto o tempo passa e talvez as gerações mais novas nem devem ter ouvido falar do atleta. Pensando dessa forma, 10 Segundos para Vencer, cinebiografia dirigida por José Alvarenga Jr., tem sua importância em relembrar a vida de Jofre.
A história de Éder Jofre no boxe por si só já é impressionante, então contá-la não seria uma tarefa muito difícil. As cenas de luta são muito bem filmadas e também interpretadas pelos atores. Esses momentos são os mais interessantes de 10 Segundos para Vencer. O diretor José Alvarenga Jr. usa bons ângulos e movimentos de câmera para captar os detalhes do combate.
A montagem é inteligente em determinados momentos ao tirar o foco do ringue e mostrar aqueles que estão fora, como a família de Jofre. Outro elemento importante para a imersão na luta, e principalmente na época em que a história se passa, é utilizar a narração de rádio. Isso transmite uma emoção bem peculiar e similar a aqueles que não tinham a imagem para acompanhar os combates. O desenho de som também é importante nesse aspecto, ao misturar o som dos socos atingindo os lutadores com o barulho da platéia.
No entanto o roteiro de Thomas Stavros não consegue passar o drama e a emoção necessárias à história pessoal de Éder Jofre. Os diálogos em alguns momentos são vergonhosos com frases clichês e muita artificialidade. Os atores se esforçam, mas suas atuações também são irregulares. Daniel de Oliveira tem muito carisma e se preparou muito bem fisicamente para se parecer com um lutador de boxe, mas sua interpretação de Éder deixa a desejar. Menos quando ele está no ringue, aí sim ele totalmente se transforma em um boxeador.
O principal destaque do elenco é Osmar Prado, que mesmo parecendo caricato em alguns momentos, consegue passar um pouco do drama de Kid Jofre: pai e treinador de Éder. A relação entre pai e filho tinha muito potencial, mas não existe muita química entre Prado e Daniel. A forma como a figura paterna se mistura com a do treinador é feita de maneira tal que o espectador não entenda porque a relação era daquela forma tão fria e distante, algo bem comum em algumas famílias nessa época. A trama é apresentada de forma simples, sem explorar bem essas nuances do relacionamento.
O início do filme mostra a infância de Éder e a relação dele com o tio, que é lutador de boxe, também treinado por Kid. Contudo, o ator que faz o pequeno Jofre não passou por uma boa preparação. Tanto que a criança fica muda o tempo inteiro e quando fala – a única que ele tem – é terrível, com algo bem clichê e artificial. A montagem ainda insiste em apresentar a versão adulta do protagonista lembrando de sua versão infantil, sem conseguir passar o sentimento de emoção necessário.
O que não faltavam eram elementos a serem explorados em relação a vida de Éder. A parte familiar era crucial, como a decisão de seguir no boxe por causa da doença do irmão. O esporte era uma chance de conseguir dinheiro e essa é a realidade de muitos esportistas no país. Talvez muitos não queriam ser astros, queriam apenas ter condições de ajudar a família em necessidade.
Outro ponto importante é a relação com a namorada (e depois esposa), Cida. A atriz Keli Freitas tem pouco tempo em tela, então não foi possível construir uma relação da sua personagem com o protagonista. Ela tem um dos momentos mais interessantes da trama, quando questiona o fato do marido não ajudar em casa com o bebê. E ela fala: “Enquanto você é campeão do mundo eu sou o que, campeã do lar?”. Essa frase diz muito sobre o relacionamento, mas é uma pena que esse é um dos poucos momentos interessantes apresentados pelo filme.
10 Segundos para Vencer tinha todos os elementos para ser mais um bom filme de boxe. O principal deles era ser baseado em fatos reais e mostrar a história de uma figura tão importante para a história do esporte. É uma pena que o José Alvarenga Jr. não tenha conseguido passar a emoção necessária para dramatizar a vida de Éder Jofre. Ele como boxeador dentro do ringue é muito bem apresentado, mas sua vida pessoal é apenas artificial.
Uma frase: – Cida: “Enquanto você é campeão do mundo eu sou o que, campeã do lar?”
Uma cena: A primeira luta internacional de Éder Jofre.
Uma curiosidade: O filme também será lançado em formato de minissérie na Rede Globo.
10 Segundos para Vencer
Direção: José Alvarenga Jr.
Roteiro: Thomas Stavros
Elenco: Daniel de Oliveira, Osmar Prado, Ricardo Gelli, Sandra Corveloni, Rafael Andrade, Samuel Toledo e Keli Freitas
Gênero: Drama, Esporte, Biografia
Ano: 2018
Duração: 120 minutos
Ainda não assisti, mas a história é interessante. Espero poder conferir neste final de semana.