Clássicos | Sabotador (Saboteur, 1942)

O Sabotador segue bem as “regras” dos filmes de Alfred Hitchcock ao mostrar a trama de um homem comum acusado de algo injustamente, enquanto tenta limpar o seu nome. Temos também um protagonista masculino de cabelo preto, enquanto a mocinha é loira, outro padrão do diretor. Esse também foi o primeiro trabalho de Hitchcock para a Universal, estúdio no qual trabalhou por diversos anos.
Barry Kane (Robert Cummings) é acusado de ter causado um incêndio em uma fábrica de aviões na Califórnia onde trabalha, mas ele sabe que é inocente. Entretanto, ninguém acredita no homem e sua única pista é um funcionário chamado Fry, que teoricamente não existe. Kane resolve fugir e ir em busca da sua inocência.
A narrativa ganha um contexto social interessante e não muito comum na filmografia de Hitchcock. Kane é um homem simples, um operário, enquanto o grupo dos vilões é composto por pessoas ricas e poderosas, sendo que essas por causa do seu status social não representam nenhuma suspeita.
Curiosamente uma das pessoas que acredita na inocência de Kane e que resolve ajudar é um homem cego, fazendo uma clara alusão ao fato de que justiça deveria ser cega e assumir que uma pessoa é inocente até que se prove o contrário. Outro grupo que também ajuda na jornada do protagonista são integrantes de um circo, pessoas que também estão à margem da sociedade e que sabe muito bem como é ser julgado pela aparência.
Até mesmo Patricia “Pat” Martin (Priscilla Lane), a mocinha do filme que é sobrinha do homem cego, não acredita na inocência de Kane inicialmente, principalmente por causa da sua aparência. A moça chega a dizer em determinado momento do filme que o homem tem “cara de sabotador”.
É importante observar também o contexto histórico do filme, já que a história se passa durante a 2ª guerra mundial, então há uma busca por pessoas que pudessem de alguma forma ser traidores do país, principalmente em relação aos “bons costumes”.
Filmado em preto e branco, a fotografia explora muito bem o uso da iluminação e das sombras para realçar a personalidade dos personagens. Isso também se reflete nas roupas, já que devido a ausência de cores elas só podem ser claras ou escuras.
É interessante notar também um pouco da diferença entre a linguagem de cinema da época comparada com a atual. Um bom exemplo é quando o protagonista está lembrando de uma uma informação, então a câmera dá um close no seu rosto que tem uma expressão pensativa, para então depois mostrar um rápido flashback onde o homem enxerga o que queria.
Outro detalhe é que na época o cinema sonoro também estava em ascensão, então o filme é repleto de diálogo expositivos, que lembram bastante uma peça de teatro. Um dos momentos de tensão é na parte final quando Kane está indo atrás do vilão, enquanto ouve no rádio informações sobre um evento para onde ele está indo. Ou seja, ao invés de mostrar visualmente o que está acontecendo, o filme prefere narrar os acontecimentos.
A cena final que ocorre na estátua da Liberdade também é bem interessante e tem ótimos efeitos visuais, considerando que na época estava bem longe do uso de computadores e efeitos digitais.
Em Sabotador o diretor Alfred Hitchcock mostra que não foi por acaso que ele ficou conhecido como o mestre do suspense. Ele consegue criar uma narrativa cheia de mistérios e tensão, seguindo muito bem os elementos que transformaram seus trabalhos em clássicos do cinema.
Uma frase: – Frank Fry: “Kaaaaaaaaaaaaannnne…..”
Uma cena: A cena final no topo da estátua da Liberdade.
Uma curiosidade: Esse foi o primeiro filme em que o nome de Alfred Hitchcock apareceu antes do título do filme.
Sabotador (Saboteur)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Peter Viertel, Joan Harrison e Dorothy Parker
Elenco: Robert Cummings, Priscilla Lane, Otto Kruger e Norman Lloyd
Gênero: Thriller, Guerra
Ano: 1942
Duração: 109 minutos
Preciso voltar a assistir clássicos, este é um que, infelizmente, eu nem sabia da existência. Excelente crítica, me deixou interessado no filme.
parabéns ramon, é de gente assim que a nação precisa