Crítica | O Homem das Cavernas (Early Man)

Crítica | O Homem das Cavernas (Early Man)

A premissa da animação O Homem das Cavernas é extremamente absurda, mas também bastante divertida. O que aconteceria se a disputa entre os homens da Idade da Pedra e da Idade do Bronze fosse resolvida através de uma partida de futebol? É mais ou menos assim o filme de Nick Park, diretor de “A Fuga das Galinhas” e “Wallace & Gromit”.

Park desenvolveu um estilo visual único em suas animações utilizando o recurso stop motion. Suas histórias podem não ser tão ambiciosas quanto os projetos da Disney / Pixar, mas elas são bem divertidas. O apelo inocente e infantil é mais valorizado, além disso, a técnica de animação garante ao longa animado um aspecto retrô, nostálgico e peculiar à narrativa.

A cena que abre o filme já mostra todo o potencial absurdo da sua premissa ao apresentar um grupo de homens da caverna jogando uma partida de futebol com uma bola criada através de um pouco de lava saída de um vulcão, enquanto dividem o “campo” com dinossauros. Tudo isso enquanto um meteoro se aproxima, aquele mesmo responsável pela extinção dos dinossauros.

Muito tempo depois desses fatos iremos encontrar com os protagonistas da narrativa. Doug faz parte da tribo de homens da caverna liderada pelo chefe Bobnar. Eles levam uma vida tranquila, até que surge o Lorde Nufi que lidera seu exército com intuito de invadir o vale onde eles vivem, dizendo que a Idade do Bronze chegou. Doug vai até a cidade do invasor e descobre que no lugar os conflitos se resolvem através de uma partida de futebol. Então resolve desafiá-los, se ganhar fica com o vale, mas se perder seu grupo terá que trabalhar o resto de suas vidas na mina.

A animação é muito criativa na apresentação do funcionamento daquele universo, principalmente no que se refere às partidas de futebol. A lógica visual do esporte é bem divertida, com direito até a uma versão do atual reply de vídeo, onde marionetes repetem um lance que ocorreu para que o juiz possa avaliar melhor. Ainda assim, o futebol não é um esporte fácil de ser utilizado em filmes. Então muitos lances são totalmente absurdos e não condizentes que a verossimilhança do esporte em nome do humor ou da emoção, nem sempre funcionando de forma eficiente.

O forte de O Homem das Cavernas são as piadas físicas e gags visuais em relação às peculiaridades da Idade da Pedra e do Bronze. Uma cena na qual o protagonista Doug cai nas arquibancadas do estádio é um bom exemplo dessa parte corporal. No entanto, o humor referente às funcionalidades da época são bem divertidas e lembram bastante desenhos como Os Flintstones. A melhor amostra disso é a cena na qual um pombo correio chega com uma mensagem.

O roteiro investe em questões morais bastante clichês, mas que são eficientes. O grupo de homens das cavernas não é bom em futebol, mas eles funcionam como um time, ou melhor, uma família. Já os jogadores da Idade do Bronze são todos individualistas com seu próprio talento. Mas o filme desenvolve personagens interessantes, principalmente o protagonista Doug, a ponto do público, principalmente o infantil, se identifique e torça pelo seu sucesso.

A história surpreende ao apresentar uma personagem feminina chamada Goona, que adora futebol, mas não tem espaço para jogar. Ela se identifica com a causa dos homens da caverna e resolve ajudá-los a treinar futebol, além de ter a oportunidade de jogar. É interessante ver homens e mulheres jogando juntos, já que no time da Idade da Pedra também temos personagens femininas.

Outro clichê que a animação explora são os animais fofinhos, representados basicamente pelo porco Porcão, dublado pelo próprio Nick Park utilizando apenas alguns “grunhidos”, que é o melhor amigo de Doug, além de um coelho, que serve como alívio cômico estilo Scrat de “A Era do Gelo”.

Uma coisa curiosa é que na versão dublada em português, os personagens da Idade do Bronze fala “portunhol”, misturando português e espanhol com sotaque, algo que não existe na versão original em inglês. Esse recurso funciona como uma maneira de diferenciar a forma como cada grupo de personagens se comunica, mas por outro lado deixa os falantes de “portunhol” com um jeito de falar meio forçado e artificial.

O Homem das Cavernas pode não ser um projeto ambicioso, mas sua animada e absurda premissa garante a diversão. O visual também é um diferencial através do uso da técnica de stop motion. Além disso, os personagens carismáticos garantem o entretenimento, principalmente para os mais jovens.


Uma frase: – Goona: “Donde estavas, na idade da piedra?”

Uma cena: A chegada de uma mensagem através de um pombo correio.

Uma curiosidade: Os personagens Wallace & Gromit aparecem em pelo menos uma das cenas de multidão. O diretor Nick Park não sabia que os animadores tinham feito isso até a pós-produção da animação.


O Homem das Cavernas (Early Man)

Direção: Nick Park
Roteiro:
Mark Burton e James Higginson, história de Mark Burton e Nick Park
Elenco: Eddie Redmayne, Tom Hiddleston, Maisie Williams e Timothy Spall (vozes em inglês); Marco Luque, Márcio Simões, Evie Saide e Carlos Gesteira (vozes em português)
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Ano: 2018
Duração: 89 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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