A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Super-Homem – Um Passeio Pelo Submundo

A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Super-Homem – Um Passeio Pelo Submundo

Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias que foram escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em gibis sobre homens voadores e alienígenas verdes.

No episódio de hoje, acompanharemos os bastidores da gravação de uma sex tape protagonizada pelo Super-Homem e pela Grande Barda, além da empolgação do Senhor Milagre com a perspectiva de uma relação poliamorosa.

Super-Homem – Um Passeio Pelo Submundo

Roteiro, desenhos e arte-final dos personagens: John Byrne

Arte-final dos cenários: Keith William

Publicado no Brasil em Superamigos 36 e 37, Editora Abril

Nota: dedico esse texto ao meu amigo Pablo Sarmento, do Terra Zero, grande entusiasta da obra do roteirista/desenhista John Byrne

Nossa história começa quando a Grande Barda, uma poderosa heroína nativa de Nova Gênese, se perde na Panela do Suicídio, o mais perigoso bairro da cidade de Metrópolis. Lá, ela é assediada por um gigolô com mais ambição do que prudência, cujos métodos agressivos de contratação são respondidos da única forma possível.

Em seguida, um trombadinha furta a bolsa de nossa heroína (bom senso não é um ativo comum naquela região, pelo jeito) e, quando ela sai em seu encalço, ele se pergunta se ela seria louca.

Meu caro, você decidiu furtar a bolsa de uma mulher de dois metros de altura logo depois de vê-la arremessar sem esforço um homem adulto numa lata de lixo a alguns metros de distância. Nós dois temos visões bem diferentes sobre quem não está de posse das suas faculdades mentais nessa história.

Em todo caso, Barda não pode deixar o larápio escapar, pois dentro da bolsa furtada ela casualmente carregava o Megabastão, uma das armas mais perigosas do universo, forjada no distante e temível planeta de Apokolips.

Desesperado, o trombadinha decide fugir pelo esgoto, onde, por uma notável coincidência, dá de cara com Sleez, um vilão, veja você, também oriundo de Apokolips.

Vou te falar, já passou da hora de construírem um muro separando a Terra de Apokolips

Sleez então toma o Megabastão inadvertidamente furtado e o utiliza para nocautear a própria dona do artefato. Como ele é um exilado de Apokolips, e Barda já foi uma oficial da tropa de elite de lá, o vilão decide que pode usá-la como isca para uma armadilha em sua vingança contra Darkseid, o déspota local.

Logo em seguida e sem maiores explicações, no entanto, ele parece abandonar esse plano e resolve usar uma Barda mentalmente controlada para propósitos muito mais… sinistros:

Vai ver ele disse que queria usá-la como odalISCA (dsclp)

Enquanto isso, o Super-Homem, em sua identidade secreta como o jornalista Clark Kent, é chamado para fazer uma reportagem em um hospital da cidade. Contudo, demonstrando ter zero preparo ou compromisso com a própria profissão, ele aparece no local sem sequer saber o assunto da matéria sobre a qual deveria escrever.

Duvido que ele tenha diploma de jornalista

Pacientemente, o médico responsável então lhe explica: aparentemente, as pessoas do bairro da Panela do Suicídio não estão morrendo de velhice, o que é um problema porque… onera a previdência?

“Doutor, estou com amigdalite, me passa um antibiótico?” “Não, pelas leis naturais você devia estar MORTO. Próximo paciente!”

Nosso herói então usa sua visão de raios-x para investigar o que está acontecendo, e por algum motivo fica surpreso ao verificar traços de radiação nas pessoas em que ele acabou de aplicar, bem, raios-x.

Depois desse belo trabalho investigativo, Clark se despede do médico que não gosta do fato de que seus pacientes ficam aí dando trabalho em vez de morrer logo, e decide voar para a Panela do Suicídio, onde usa sua espantosa super-visão para localizar o maligno e insidioso malfeitor que está… prolongando a vida das pessoas.

Embora tenha visão de raios-x, consiga detectar traços de radiação e derreter coisas apenas com os olhos, o Super-Homem aparentemente padece de miopia ou astigmatismo, pois confunde Barda com sua colega de Liga da Justiça, a Mulher Maravilha.

Confesso que eu sempre pensei que os óculos de Clark Kent eram apenas um disfarce

Libertada do controle mental, Barda retoma seu bastão e decide dar uma lição no vilão pelas humilhações que sofreu ao longo de tantos dias, mas é impedida pelo Homem de Aço de matar Sleez a sangue frio. Convencida por alguma razão que tanto altruísmo não combina com o Super-Homem, Barda decide que se trata na verdade de um impostor e o ataca.

Aproveitando-se da confusão e de um alçapão que de alguma forma e por algum motivo ele mandou construir em pleno esgoto, Sleez acaba conseguindo capturar ambos os heróis.

Aliás, por que um sujeito capaz de controlar mentes usa essa habilidade apenas para contratar empreiteiras especializadas em alçapões e continua vivendo de restos no esgoto? Nunca lhe ocorreu usar esse poder para arranjar um apartamento, um chuveiro quente, pedir uma pizza?

Corta para o subúrbio de Metrópolis, onde Scott Free, o herói conhecido como Senhor Milagre e esposo da Grande Barda, retorna de uma viagem e é surpreendido por ninguém menos que Darkseid sentado no sofá de sua casa. O déspota de Apokolips e possivelmente o maior vilão da galáxia, no entanto, não está ali para lhe fazer mal, mas sim para comunicar o que ocorreu com Barda durante sua ausência.

E também para tomar um vinhozinho de graça

Darkseid esclarece que seus agentes conseguiram uma fita VHS (pergunte aos seus pais) na qual a Grande Barda aparece como protagonista de um filme de… entretenimento adulto.

Para ser justo, a história não chega a nos mostrar o conteúdo do vídeo, mas os diálogos e a reação do Senhor Milagre deixam pouca margem para imaginação.

Outra questão que a história deixa no ar é por que raios o ditador de um planeta distante mantém na Terra agentes cuja função é obter fitas VHS de pornô amador, mas eu admito que as coisas eram realmente bem mais difíceis para os onanistas naqueles tempos pré-internet.

Cargo: Agente de Darkseid na Terra. Atribuições: encontrar a Equação Antivida, destruir a Liga da Justiça e adquirir filmes pornô caseiros. Salário: a combinar

O que eu também não entendi bem é quanto tempo se passou entre a captura de Barda, gravação do vídeo, produção e distribuição das cópias em VHS, compra da fita pelo agente de Apokolips especializado em filmes eróticos, envio para outra galáxia e chegada de Darkseid na casa da família Free? Quero dizer, ao longo de todo esse tempo o Senhor Milagre não deu sequer uma ligadinha pra casa para descobrir que sua esposa estava sumida?

Longe de mim querer me meter no relacionamento alheio, mas talvez seja o caso de eles procurarem algo para se reaproximar enquanto casal.

Enquanto isso, Sleez, nosso vilão barra produtor de filmes adultos, está em reunião com o responsável pela distribuição das fitas da Grande Barda, discutindo quanto eles faturarão fazendo um filme nos mesmos moldes tendo o Super-Homem como protagonista, que agora também está sendo controlado mentalmente.

Por sinal, se ainda havia alguma sombra de dúvida sobre o conteúdo dos filmes, agora a história joga a sutileza pela janela quando a dupla deixa claro que Barda seria uma atriz capaz de “aguentar o rojão” kryptoniano.

Acima: sutileza

Logo, os quatro estão no set de filmagem para captar imagens tórridas entre o Super-Homem e Barda, mas o diretor está insatisfeito com a interpretação pouco expressiva de atores que estão sendo controlados mentalmente.

Do alto, assistindo tudo está o Senhor Milagre, o herói cuja super-habilidade é ser sempre o último a saber, que então decide invadir o set e atacar não o poderoso kryptoniano que está aos beijos com sua esposa, mas sim o baixinho desconhecido ao lado da cama — Scott Free pode até ser corno, mas não é maluco.

Para se defender, Sleez atira uma estranha criatura de Apokolips no Senhor Milagre, que é salvo pela esposa recém saída do transe. Agradecido e talvez alheio ao climão, ele comenta com o sujeito que até alguns segundos antes estava na cama com sua esposa sobre o quanto ela é “magnífica” — o que dá todo um novo contexto sobre o fato de ele ter atacado Sleez e não o Super-Homem: Scott talvez seja um entusiasta de relações mais abertas.

O cara passa semanas longe de casa e nem telefona para a esposa, talvez seja o caso de apimentar a relação mesmo, não julguem

Entretanto, Barda e Super-Homem não compartilham a empolgação do Swing Milagre com a ideia de uma relação poliamorosa, e optam pela velha saída do “nossa, estava muito louco e não lembro de nada do que fiz”.

Quem nunca?

Afinal, não é como se houvesse algum tipo de registro audiovisual mostrando exatamente tudo que aconteceu, não é mesmo?


Update: você faz meia dúzia de piadas infames e acaba inspirando um puta texto legal. Confiram as sensacionais considerações de @tangocommando sobre a vida sexual dos super-heróis.

Lionel Leal

Canto como Lionel Messi, jogo bola como Lionel Richie.

5 comentários sobre “A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Super-Homem – Um Passeio Pelo Submundo

  1. Man, essa HQ parece um episódio de Smallville que Clark é controlado por um anel e vai pra boate curtir a vida e coisas do tipo. É absurda e “genial”. A melhor parte é arrumar alguém que “aguente o rojão”. kkk

    1. O mais triste é que, como me apontou @tangocommando, é bem possível que o Senhor Milagre não dê conta do rojão da própria esposa.
      Ocorreu-me que talvez ele queira um ménage justamente para FUGIR da responsabilidade.

  2. Genial.

    Tirar pergunta, como se diz por aqui, com Superman pq tá tomando corno dele não seria mesmo lá muito saudável. E não se esqueça, ele é o mestre das escapadas. Ele deve curtir um swing.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *