Crítica | Vida (Life)
“Vida” começa com uma cena brilhante mostrando a equipe de astronautas em uma estação espacial recuperando uma sonda vinda de Marte. A dinâmica entre os personagens é apresentada de forma que cada um deles tem sua função dentro do local. Uma abordagem verossímil é feita através de diálogos contendo informações técnicas e científicas, mas isso não chega a confundir o espectador. O resultado dessa missão é que eles encontram a primeira forma de vida de outro planeta, uma descoberta de proporções históricas.
A trilha sonora de Jon Ekstrand ajuda a criar o clima inicial de um grande épico espacial, mas não demora muito para o filme se tornar uma cópia genérica de “Alien, o 8º Passageiro” – clássico da ficção científica onde um grupo em uma espaçonave em missão é atacada por um alienígena – só que com efeitos visuais mais modernos. O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick não cria uma tensão real por causa do exagero em torno da ameaça marciana. A criatura inicialmente só pode observada através de um microscópio, mas em poucos dias evolui bastante e ganha uma inteligência exagerada. A partir do confronto com ela os personagens enfrentam situações absurdas.
Esse detalhe da transformação de um pequeno ser vivo em um monstro assassino incontrolável estraga a narrativa, como se ele se transformasse em uma versão marciana de Jason do filme “Sexta-Feira 13” – indestrutível e que não irá parar enquanto não conseguir matar todos à bordo da estação espacial. A única diferença é que Calvin – nome dado ao marciano – se move bem mais rápido. Em pouco tempo ele já sabe se locomover facilmente dentro da estação espacial.
Durante os acontecimentos, os personagens vão reagindo e tentando explicar a incoerência que estão presenciando. Os diálogos expositivos procuram dar lógica às ações de Calvin que são apresentadas na tela. Isso só faz aumentar a desconexão e deixa ainda mais claro a inverossimilhança da narrativa. É como se Calvin fosse mais inteligente que o espectador, então seu comportamento é tão superior que é necessário ser descrito a cada momento. O pior é que os personagens não sabem bem o que estão dizendo. São apenas teorias baseadas no que eles estão presenciando, assim como quem está assistindo o filme. A diferença é que eles têm o conhecimento científico, mas mesmo assim isso não torna suas teorias mais plausíveis. Seria melhor não tentar explicar. O mistério seria maior e cada um poderia ter a sua própria percepção baseado no que é exibido na tela.
Por exemplo, a justificativa dada para as atitudes de Calvin é que para a vida seguir, é preciso destruir outras – uma referência ao próprio comportamento humano. Só que na verdade a criatura é algum tipo de parasita que precisa se “alimentar” dos integrantes da estação espacial para continuar evoluindo e crescendo de tamanho. Ou seja, essa “reflexão filosófica” fica apenas como uma justificativa tola para uma “fala de impacto” de um personagem.
O filme alterna entre situações tensas e emocionais, fazendo com que os personagens pareçam mais “humanos”, mas o desenvolvimento deles não é suficiente a ponto do espectador realmente se importar se algum deles vai sobreviver ou não. Falta um protagonista realmente carismático, como a tenente Ripley da franquia Alien. O elenco do filme não é ruim, mas a história não ajuda. A equipe é formada por pessoas de países e etnias diferentes, o que é positivo. No entanto, são apresentadas algumas informações pessoais de cada um, no intuito de desenvolver a personalidade dos personagens, que aparecem de forma gratuita e sem conexão com a história. Como por exemplo, presenciamos o nascimento do filho de Sho Murakami (Hiroyuki Sanada), piloto japonês, para quem sabe assim o espectador tenha algum tipo de compaixão. Mas na verdade essa informação só serve como uma “motivação” para que ele tente sobreviver ao ver uma foto do bebê recém-nascido.
A alternância entre situações também funciona na montagem de Frances Parker e Mary Jo Markey como uma forma do espectador “respirar” um pouco entre as cenas de tensão. Apesar dos problemas da narrativa, o ritmo do filme é bem equilibrado para não tornar cansativo com as emoções.
O grande destaque do filme são os efeitos visuais que são muito bem feitos. O movimento dos personagens dentro da estação espacial com gravidade zero é bastante realista. As cenas no espaço também são bem realizadas. O design de produção de Nigel Phelps tem muita qualidade ao apresentar o interior da estação de forma verossímil. O principal problema é Calvin, que mais parece um “monstro de fumaça” do que um ser vivo. A medida que ele vai “evoluindo” seu visual vai piorando, até o ponto dele se parecer com com o dinossauro Dilofossauro de “Jurassic Park”.
Em resumo, o filme não consegue escapar dos clichês do gênero e muito menos explorá-los de forma eficiente. Mesmo com uma boa parte técnica, o roteiro não ajuda a criar uma narrativa razoavelmente interessante, ou pelo menos verossímil dentro dos elementos apresentados. Por mais que ele tente ser humano, falta vida à “Vida”.
Uma frase: – Rory “Roy” Adams: “Finalmente, vou ser papai. Haverá uma guerra pela guarda dela.”
Uma cena: A cena inicial que mostra a equipe recuperando a sonda vinda de Marte.
Uma curiosidade: Ryan Reynolds iriam protagonizar a trama, mas, devido a conflitos de agenda por causa do filme Dupla Explosiva (2017), teve que assumir um papel coadjuvante no longa.
Vida (Life)
Direção: Daniel Espinosa
Roteiro: Rhett Reese e Paul Wernick
Elenco: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds, Hiroyuki Sanada, Ariyon Bakare e Olga Dihovichnaya
Gênero: Horror, Sci-Fi, Thriller
Ano: 2017
Duração: 103 minutos
Sua crítica é condizente com outras opiniões que já tinha lido sobre “Vida”. Ainda não assisti, mas me parece ser um filme irregular e que não trabalha bem com a sua premissa principal. Uma pena, pelo ótimo elenco que possui.