Resenha de Livro | The Leftovers (Tom Perrotta)

No dia 14 de outubro uma parcela da população simplesmente desapareceu. Ninguém sabe para onde foram e nem o por quê. Há quem diga tratar-se do arrebatamento, mas o reverendo Matt Jamison vive os seus dias para desmentir essa ideia. Cientistas e pessoas comuns não chegam a conclusão alguma. E no final das contas, percebemos que revelar esses mistérios não é o objetivo do livro.

The Leftovers nos mostra como seria a reação de uma família e da civilização como um todo perante a um evento dessa magnitude. O medo do imprevisível é uma constante. Será que tal fenômeno poderia acontecer novamente? Qual o sentido de fazer as coisas como antigamente? Um clima melancólico transborda pela escrita direta e eficiente de Tom Perrotta.

Depois da chamada Partida Repentina, alguns grupos e cultos foram criados, sendo o mais famoso – e perigoso – o Remanescentes Culpados. Eles decidiram usar sempre a roupa branca, fumar para “proclamar a fé” e não deixar ninguém esquecer que o mundo como conhecíamos já não existe mais.

Existe também o Povo dos Pés Descalços, cujos membros só querem saber de festas e drogas. E não posso esquecer do Santo Wayne e o seu milagroso abraço, que promete remover a dor de cada um.

The Leftovers funciona como uma triste e verossímil alegoria. Apesar da atmosfera carregada, é possível encontrar pequenos momentos de alívio. E é bom aproveitá-los ao máximo.

O diferencial do livro para o seriado da HBO é que aqui nós nos importamos com os personagens e com suas atitudes desde os primeiros capítulos. Como não sentir pena de Kevin, sozinho, assistindo a Felicidade Não se Compra no Natal? E como não compartilhar as aflições de Nora quando ela descobre coisas nada agradáveis sobre o seu marido?

Muitos podem se sentir decepcionados com o desfecho inconclusivo, mas ele está longe de comprometer a inesquecível experiência agridoce que Tom Perrotta nos ofereceu.