Entrevista | Sérgio Machado diretor do filme Tudo que Aprendemos Juntos
A POCILGA foi convidada para a pré-estreia do filme Tudo que Aprendemos Juntos e, antes da sessão, rolou uma entrevista com o diretor Sérgio Machado. Nela ele conversa como foi conceber o filme, a escolha de elenco, bastidores, algumas curiosidades interessantes e ainda fala sobre os seus projetos futuros. Aperta o play e confira a entrevista conduzida por Silvano Vianna ou se quiser você pode ler a transcrição da entrevista logo abaixo:
Silvano Vianna – Sérgio você já trabalhou anteriormente com Lázaro Ramos, me fala como foi o processo para ele fazer o personagem Laerte no filme.
Sérgio Machado – Eu conheço o Lázaro há um bom tempo, o primeiro teste para ele no cinema, no audiovisual foi em Madame Satã, filme que eu trabalhei no roteiro. Eu falei sobre ele para o Karim (Aïnouz – diretor do filme), então a gente se conhece há bastante tempo né. Desde os tempos do bando de teatro, então assim; a gente virou amigo, irmão. Curiosamente nesse projeto eu não pensei nele para o personagem principal, eu o convidei porque gosto tanto de trabalhar com ele e a gente tem vários projetos para o futuro. Eu tinha pensado nele para fazer o papel do melhor amigo do Laerte.
Ele estava lendo o roteiro me ligou antes de terminar e falou: “Sérgio eu queria fala com você uma coisa, não é nem que eu quero fazer esse personagem, eu preciso fazer. É fundamental para mim, porque é a história de minha vida. Eu venho de projeto social, sei muito bem o que é isso. E se eu não fizer esse, eu não posso fazer nenhum outro personagem porque eu vou ficar o tempo todo desejando esse personagem”. Eu parei um pouco e pensei a respeito, ele insistiu, falou até com o produtor o quanto era importante para ele isso. E ai finalmente a gente embarcou na escolha pelo Lázaro. E hoje quando eu vejo o filme pronto eu não consigo imaginar que alguém conseguiria fazer o papel melhor do que ele. Porque ele é o que os meninos sonham ser e ele é já foi esses meninos, eles criaram uma relação que é a coisa mais forte do filme. Para mim a coisa mais forte do filme é essa relação real que existiu entre os meninos e o Lázaro.
Silvano Vianna – Como é que se deu a escolha desse jovens, eles participavam de projetos sociais também? Fale-me um pouco sobre isso.
Sérgio Machado – Uma coisa que estava clara para mim desde o início é que todos deveriam ser de comunidades, era fundamental também que eles fossem locais diferentes em São Paulo. A gente começou fazendo testes para orquestra, depois foi fazendo testes com outros meninos de Heliópolis. Fizemos centenas, talvez mais de mil testes, para os meninos da orquestra. Foi um processo intensivo e extenso de procurar as pessoas certas e acho que foi muito bem sucedido. Esses meninos tem um talento realmente extraordinário.
Silvano Vianna – Tem muito tempo que você esta procurando fazer esse filme, me fala como foi esse processo desde a captação, a elaboração do roteiro?
Sérgio Machado – Na verdade esse é o primeiro filme que eu faço que a ideia não surgiu de mim. Eu fui convidado pelos irmãos Caio e Fabiano Gullane. E eu também pensei um pouco se deveria fazer, não resolvi na primeira vez, mas acabei aceitando por duas razões: primeiro porque eu sou filho de músico, fazer esse filme era uma espécie de tributo ao meu pai, foi isso que trouxe para o projeto e outra foi à possibilidade de fazer um filme grande, maior do que já foi feito. Eles (os produtores) já pensavam em fazer o filme pensando que ele poderia ter uma boa carreira no exterior, e ele esta tendo, os seus diretos de projeção já foram vendidos para mais de vinte e cinco países. Outra coisa era fazer um filme que falasse dos problemas brasileiros, mas também de possibilidades de solução, apontasse uma espécie de luz no final do túnel. Mas depois disso, quando eu topei fazer, acho que não foi tão difícil financiar não. Nunca é fácil, mas não foi tão difícil, existia uma ideia que eu acho que encantou os patrocinadores assim de primeira. Demorou muito tempo para fazer o roteiro, acho que um ano e meio, talvez dois. Eu tive alguns momentos que tive a sensação inclusive de travar, que eu não conseguia avançar muito. E a filmagem foi complexa porque tinham momentos que contávamos com a participação da orquestra a OSESP, que era dificílimo de conciliar a agenda. Depois a gente demorou muito tempo montando também, acho que por isso foi mais difícil achar a história do que financiar.
Silvano Vianna – Com relação à produção do filme também a sensação que eu tenho é que todo mundo toca no filme, que não é uma coisa encenada. Então que gostaria de saber como se deu isso, quanto tempo eles (os atores) treinaram, se já eram selecionados os jovens com alguma afinidade com a música?
Sérgio Machado – Alguns tocavam a minoria, acho que talvez 30 ou 40% já sabiam tocar, os outros estudaram. E ai também com a gente demorou um pouco de começar a filmar. Tivemos até um problema com um dinheiro que não entrou na época que deveria então por isso os meninos ficaram um ano ensaiando e o Lázaro mais uns dois ou três meses eu acho de violino. A gente estudou todas as técnicas possíveis de dublê, os meninos sabiam tocar se movimentar muito bem. Mas a gente usou de tudo quanto é recurso, uma mistura de vários recursos de dublê a cortes a computação gráfica a gente usou para fazer isso o mais rela possível, para mim era isso bem importante. A maestrina mesmo a Marin Alsop me falou: “Poxa detesto filme de música clássica porque quem é músico percebe claramente que as pessoas não estão tocando.” Então para mim isso foi um desafio. E nesse filme as pessoas que assistiram na Europa, pessoas com muito background de música eles não conseguem perceber, porque usamos tantos recursos, por isso também que ficamos quase dois anos trabalhando na montagem e na finalização do trabalho até deixar ele ficar próximo do perfeito.
Silvano Vianna – Com relação justamente ao corte, você esta satisfeito o filme passa a mensagem que você queria?
Sérgio Machado – Esse é um filme do qual eu saio assim com uma grande satisfação, eu acho que ele é melhor que filme que a gente poderia fazer. E nem sempre você sai com essa sensação, mas esse a gente não mediu nenhum milímetro de esforço nem eu nem os produtores, se não é melhor é porque a gente não conseguiu. Mas todo mundo eu, Lázaro, Caio, Fabiano, o montador, todos demos o melhor. É um projeto do qual eu saio muito tranquilo, porque às vezes você sai pensando no que poderia ter feito, se poderia ter ido mais longe, mas esse eu acho que não tenho essa sensação. A gente fez ai pegou um corte mostrou para umas cinquenta pessoas, cineastas, depois mostrou para o público, depois voltou, montou, remontou…ai no meio do processo eu falei para os produtores: “Olha eu acho que agora eu achei como é que eu quero montar esse filme.” Ai a gente praticamente começou tudo do zero, eles tiveram muita paciência e fico muito feliz com o resultado. É o melhor que eu conseguiria.
Silvano Vianna – Por último eu queria saber quais são os seus próximos projetos?
Sérgio Machado – De imediato eu estou terminando de montar um documentário que se chama A Luta do Século que filmei aqui na Bahia e em Pernambuco sobre Luciano Todo Duro e Reginaldo Holyfield, sobre a rivalidade entre os dois boxeadores. Então a gente já filmou tudo, esta montando, na verdade estamos finalizando acho que mais ou menos em uns 2-4 meses daqui para frente ele fica pronto. Também estou bem feliz com o resultado e Lázaro também é um dos produtores do filme. Ai eu também estou com outro projeto para filmar ano que vem que se chama O Adeus do Comandante, que Lázaro e Wagner (Moura) a princípio também estão no elenco. Estou fazendo também um desenho animado, junto com o Walter Salles e também com os Gullane, chamado A Arca de Noé. E outros projetos que também tenho vontade de fazer é um documentário sobre Pierre Verger.
Com estreia marcada nos cinemas para o dia 3 de dezembro de 2015, Tudo que Aprendemos Juntos traz na linha de frente Lázaro Ramos fazendo o papel de um violinista que, após perder um teste para fazer parte da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) acaba aceitando, por falta de melhores perspectivas, ser professor de música para uma turma de um colégio localizado em uma comunidade (favela é coisa do passado) de São Paulo.
- Agradecemos a Espaço Z pelo convite, ao diretor Sérgio Machado pela simpatia e ao CinePipocaCult por nos ceder seu talentoso fotografo.
- Em sua filmografia, o diretor Sérgio Machado conta ainda com obras como Cidade Baixa e Quincas Berro D´água.
- Essa é a nossa primeira entrevista de muitas.
- Aguarde nossa crítica sobre o filme.
Show de bola! É a PO.CI.L.GA conseguindo suas primeiras inserções no meio! Parabéns Silvano e todos os responsáveis por essa conquista! 🙂