Review | Homeland 5×06: Parabiosis

Review | Homeland 5×06: Parabiosis

“Parabiosis” é um episódio quase que integralmente focado em Saul Berenson, em suas péssimas decisões, e em sua tentativa de reparar seus erros, quando percebe que a sua própria Agência se voltou contra ele.

Os comentários a seguir contém pequenos spoilers.

Sempre gosto de analisar os títulos dos episódios. Por vezes não dá em nada. Por vezes o título fala mais que o episódio inteiro. Outras é muita coisa da minha cabeça, especulação misturada com análise. É evidente que quando nos deparamos com um título como o do sexto episódio dessa temporada, temos que parar e pensar: que diabos isso quer dizer?

Parabiosis é um termo usado em diversas áreas das ciências biológicas para designar algo similar como”aquele que vive ao largo”. Alguns estudos biológicos já vem usando o termo de forma similar ao termo simbiose, e na ecologia alguns autores utilizam para fazer referência a animais que exploram resultados do “trabalho” de outros para seu benefício, como uma colônia de formigas que passa a habitar uma casa de cupins.  Talvez seja essa última imagem que os roteiristas Chip Johannessen e Ted Mann quiseram justamente evocar.

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O episódio se foca principalmente em Saul Berenson, e tudo o mais acaba funcionando apenas para desenvolver tramas paralelas. E essa opção acaba dando espaço para um grande ator (Mandy Patinkin) ser bem trabalhado por um excelente diretor. Uma combinação que dificilmente dá errado, mesmo quando há certas inconsistências no roteiro. Alex Graves conduz todo o episódio como um genuíno thriller de espionagem, no qual a paranoia, o suspense a tensão dão o tom.

Após ser avisado por Carrie que sua vida está em risco, e de que o vazamento na CIA deve estar em conluio com os Russos e que provavelmente ele também deve ser um alvo, Saul prefere dispensar sua antiga pupila com uma incontida amargura. Há quem possa questionar que um personagem racional, como Saul sempre se mostrou, deixar-se dominar por suas emoções. Afinal a história de Carrie merece ao menos uma consideração mínima, um experiente e racional agente da CIA não deveria simplesmente ignora-la, sob risco de incoerência. Mas eu gosto de crer que no que pertine a desenvolvimento de personagens, roteiros não precisam estar a todo momento coerentes. Não raro seres humanos são mesmo incoerentes, principalmente quando estamos muito próximos das coisas e emoções estão envolvidas. Não é absurdo, assim, que toda a frustração e mágoa de Saul pela atitude de Carrie que “abandoná-lo” depois de tudo que ele tinha feito por ela dentro da agência, tenha acabado por sobressair-se sobre seu melhor juízo.

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Ademais, fica evidente na expressão de Saul, desde o primeiro instante que ele se afasta de Carrie – agora completamente desesperada e sem qualquer alternativa senão recorrer a Otto Düring (Sebastian Koch) para desaparecer – que ele sabe que errou ao simplesmente rechaçar sua antiga pupila daquela forma. Ele sabe já há algum tempo que algo não cheira bem dentro da estação de Berlim da CIA. E por mais que não queira crer, algo lá bem no fundo insiste que Allison Carr (Miranda Otto) tem alguma relação com isso.

Assim, desde o momento em que Carrie se separa de Saul – frustrando uma aguardada reunião dos dois, mas que no fim se mostra como uma opção narrativa muito mais interessante – o episódio se transforma num genuíno thriller de espionagem conduzido com bastante competência por Alex Graves, no qual Saul passa se caçador a caça, de espião a espionado. E diante dessa condição, começa a questionar lealdades, tirar conclusões e usar de toda a sua experiência e perícia de espião à moda antiga para ao menos conseguir garantir condições mínimas de uma possível virada de jogo.

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Não se trata de um episódio que promova grandes avanços em matéria de narrativa principal. Carrie pouco aparece, os demais coadjuvantes são esquecidos e o Deus Ex Macinha envolvendo Quinn, do último episódio, acaba se revelando uma trama paralela bem interessante que serve para aproveitar melhor um personagem bastante peculiar e explorar a realidade dos refugiados de conflitos armados no oriente médio vivendo na Europa. Mas nada disso faz desse episódio ruim, tampouco um mero filler. Na verdade, como já disse, é a grande competência de ator e diretor que fazem de Parabiosis um episódio saboroso e envolvente. É até mais compreensível, assim, que o episódio tenha decidido dedicar mais tempo a Saul, justamente para que a habilidade de Mandy Patinkin fosse devidamente explorada.

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Resta a pergunta então que eu levantei no início do texto. Porque Parabiosis? O fato de Saul ser o personagem principal do episódio nos conduz a imaginar que o título é uma referência a sua relação com Carrie, ou mesmo com Allison, e como estas relações acabam interferindo em seus atos. Talvez em certa medida isso tenha sido de fato fato uma das intenções dos roteiristas. Mas tenho impressão que o título faz uma referência ainda mais apropriada a outro elemento que vem lentamente sendo desenvolvido ao longo dessa temporada.

Afinal, os EUA montaram uma estação de espionagem em Berlim e através dela os governo alemão vinha explorando seu próprio povo, violando seus direitos civis, sob a justificativa de proteção da segurança da nação. Acontece que esse aparato de segurança havia sido infiltrado pelos Russos que explorava a estação de Berlim da CIA para colher suas próprias informações. Parabiosi para todos os gostos.

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Mas sem dúvida essa relação parabiótica dos Russos para com os Estadunidenses é a linha narrativa principal dessa temporada, que melhor se personifica na pessoa de Allison Carr. Uma cena, a propósito, desse episódio, é bastante emblemática disso: enquanto Dar Adal e Saul discutem em uma sala, Allison fica de pé ao lado da fina parede escutando com ouvidos longos o embate. É estranho ver uma agente de alto escalão fazendo isso no meio da estação de Berlim sem que ninguém por perto a observe. Mas a simbologia é forte. Ela está lá, uma espécie de agente dupla, de ouvidos sempre atentos a cada resquício de informação vazado mesmo pelos mais altos escalões.

O oitavo episódio dessa temporada deve se concentrar justamente em Allison, e minha expectativa é que, ao revelar mais sobre as motivações e história dessa personagem que, sorrateiramente, se estabeleceu como um eixo de toda a trama, todo o resto do enredo dessa quinta temporada de Homeland passe a fazer mais sentido.



hOMELANDPostersSérie: Homeland
Temporada:
Episódio: 06
Título: Parabiosis
Roteiro: Chip Johannessen e Ted Mann
Direção: Alex Graves
Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Mandy Patinkin, Miranda Otto, Sebastian Koch e F. Murray Abraham.
Exibição original: 8 de Novembro de 2015 – Showtime
Graus de KB: 2² – Miranda Otto esteve em Guerra dos Mundos (2005) com Peter Gerety que esteve em Sleepers – A Vingança Adormecida (1996) com Kevin Bacon e Mandy Patinkin trabalhou em A Princesa Prometida (1987) junto com Wallace Shawn que esteve em Encontros e Desencontros (1979) junto com Kevin Bacon.


Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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