Doctor Who: “O Aprendiz de Feiticeiro”
Crítica do primeiro episódio, da nona temporada da série de TV da BBC “Doctor Who”. Contém pequenos spoilers. A leitura é melhor recomendada após se assistir ao episódio.
O retorno triunfal do 12º Doutor, e suas maravilhosas aventuras
Se você pensava que um guitarrista tocando guitarras-lança-chamas dependurado de uma veículo em alta velocidade era a coisa mais cool e rock’n’roll que você já havia visto nos últimos 25 anos, pense de novo, pois o Doutor está de volta, e se em matéria de entradas triunfais, o mais amado dos Time Lords é “as cool as anyone could ever been”, imagine o que ele é capaz de fazer quando usa um óculos Ray-Ban e empunha uma guitarra elétrica, riffando-a com surpreendente competência.
Rock of Ages! As cool as anyone could ever been on time and space! (seriuously, ask Kant about it…)
É bem possível que esse seja um dos melhores episódios de abertura de uma temporada de Doctor Who. Sem sombra de dúvida o melhor desde que Steven Moffat assumiu, no lugar de Russell T. Davies, o posto de principal produtor e showrunner da série. Moffat dá aos apaixonados Whovians por todos o mundo um episódio épico, dinâmico, cheio de emoções e principalmente, cheio de referências à extensa mitologia da mais longeva série da história da TV.
O episódio de estreia da nona temporada dessa versão da série, assim, é importante que se diga, tem uma característica bem peculiar em relação a outros episódios. Aprendiz de Feiticeiro (The Magician’s Apprentice) não começa diretamente de onde a oitava temporada parou. Mas ainda assim ela de certa forma ela se apresenta como uma continuação de um outro episódio. O episódio em questão é Genesis of the Daleks de 1975. Nele o quarto Doutor – Tom Baker – se vê diante de uma difícil escolha moral, que vai repercutir no primeiro episódio da nona temporada, sendo apresentado de forma magistral desde a primeira sequência de cenas.
Davros e a 4ª encarnação do Doutor em uma cena de “Genesis of the Daleks”, de 1975.
Você mataria Hitler, antes que ele cometesse todos os seus crimes, se tivesse a oportunidade?
Alguma vez você já se deparou com uma questionamento moral-existencial, envolvendo a possibilidade de viagem no tempo, que se desenrolasse mais ou menos na linha de: “Se você pudesse voltar no tempo, e matar Hitler quando ele ainda era uma criança, você o faria?”. Essa é a questão que permeia todo o episódio da estreia da nona temporada, e que provavelmente se desenvolverá até o segundo episódio, que deve concluir a trama inacabada naquele primeiro. Esse tipo de dilema costuma ser evitado pela maioria das obras de ficção-científica que têm a viagem do tempo como um elemento central. há sempre as mais convenientes teorias. Mas parece que dessa vez (como tem sido o hábito de Moffat) a trama não se esquiva das perguntas difíceis. Ao contrário, avança ensandecidamente rumo a elas e procura por respostas ainda mais insanas.
Assim, logo na primeira sequência nos deparamos com uma cena que reproduz a Guerra dos Mil Anos no planeta Skaro, mundo natal dos Daleks – os mais temíveis e destruidores antagonistas de Dr. Who – e acompanhamos um garoto se perder em meio a uma campo de aterradoras “minas de mão” e se paralisar de terror. O detalhe das minas de mão é simplesmente fantástico. Em momentos assim somos lembrados – e isso tende a ser razoavelmente frequente – que Dr. Who não é uma mera, serelepe e fagueira série sobre um homem louco em uma cabine azul. Dr. Who mexe com os nossos medos mais profundos, e sabe evocar estes quando necessários em alegorias das mais aterradoras e instilar um sutil e perene terror em nossos corações. Duvida? Se imagine em meio a um campo de “minas de mão” e depois não se pergunte se algum pesadelo seu, ainda que remotamente, não se aproximou daquilo.
Aquelas coisas das quais são feitas os pesadelos…
Para resgatar o garoto aterrorizado, logo surge a figura do Doutor – nosso clássico cavaleiro andante em armadura branca (ou talvez, não branca assim…) -, explicando que estava passando por ali e algo o atraiu. O Doutor arremessa para o garoto petrificado de medo sua chave de fenda sônica e explica que ele tem 1 chance em 1000 de conseguir sobreviver àquela situação. Ele encoraja o garoto a se focar na chance de de sobrevivência, e de se esquecer das outras 1000 contrária a ele. Um discurso clássico do Doutor. Tudo parece se encaminhar para mais uma de suas soluções heróicas até que o garoto fala o seu nome: Davros. Nesse momento o Doutor estampa um olhar de profundo terror e questionamento em sua fronte. E assim o principal dilema moral deste – e provavelmente do próximo – episódio se entabula.
Davros, afinal, foi o cientista que criou os Daleks. Uma mutação cientificamente engendrada da belicosa raça dos Kaleds que haviam se envolvido em uma interminável guerra com outra raça de seu planeta, Skaro, os Thal. A criação dos Daleks – o papel do Doutor nessa história – é contada no já citado episódio de 1975, Genesis of the Daleks. Nesse episódio o Doutro vê diante de si a oportunidade de erradicar a ameaça dos Daleks – que ceifaram bilhões de vida em sua existência – antes mesmo que ela se tornasse uma, mas hesita. Daí em diante os Daleks passam a ser um dos mais perigosos adversários do Doutor, bem como um dos principais e mais aterradores perigos do Universo. Os Daleks tornam-se sinônimo de morte. Mas dessa vez a questão é outra. Não se trata mais de cometer um genocídio. O Doutor tem, diante de si, a possibilidade de deixar – aquele a quem ele se refere como seu maior inimigo – morrer, antes mesmo dele vir a se tornar o maligno cientista responsável pelo genocídio de civilizações inteiras.
Davros é o maior inimigo do Doutor, em suas próprias palavras.
O Doutor e seu Arqui-inimigo
Mas, como assim o próprio Doutor afirma que Davros é seu maior inimigo? Mas e o Mestre, alguns daquele que já acompanham a série perguntariam? Bem, o Mestre, ou melhor Missy – mais uma vez esplendidamente interpretada por Michelle Gomez, que chega a fazer Jenna Coleman ficar apagada – é na verdade o maior dos amigos do Doutor.
É a própria Missy quem explica isso a Clara Oswald, em um dos melhores diálogos do episódio, e talvez da série – que é repleta de excelentes diálogos – no qual a interpretação da atriz consegue capturar como vivem, pensam e amam seres cuja a existência transcendem ao próprio tempo. Não essa coisa cheia de fluidos que os humanos desagradavelmente usam para justificar seu anseio natural por reprodução e perpetuação da espécie, Missy explica a Clara. Isso, ela afirma, não é amor. O amor, ela deixa bem claro, que é verdadeiro e que transcende o tempo, o amor entre os Time Lords, podemos dizer, é a amizade. E os embates e planos malignos entre o Mestre e o Doutor, são a versão deles para um bate-papo pelo whatsapp, ou similar.
Sim, eu voltei. Eu não estou morta. Grande surpresa! Vamos em frente!
A fala de Missy é interpretada com tanta naturalidade e competência por Michelle Gomez que qualquer um que já assista a série há algum tempo e já conheça a dinâmica entre os dois personagens – e ouso apostar que o mesmo efeito deve se dar sobre novos espectadores – não se surpreende com o quanto ela está certa. Na verdade, essa “revelação” – bom, tenho certeza que muitos lá no fundo já suspeitavam disso, mas dito assim, na cara da gente, sempre choca – serve mais para esclarecer a relação entre os dois, deslocando-a um pouco do lugar comum entre herói e vilão recorrente, que muitas vezes recorre a pequenas incoerências e um certo comprometimento narrativo para se manter. A audiência tende a aceitar pois, afinal, a lei da suspensão da descrença lhes permite isso. E como a tônica entre protagonista e antagonista, herói e arqui-inimigo é sempre muito sedutora, e quando funciona bem torna-se um dos principais atrativos da história, a audiência também tende a aceitar as desculpas mais esfarrapadas para que ela se mantenha.
É bem verdade que nem mesmo Dr. Who foge a essa regra. Mas a forma como isso é também assumidamente declarado por Missy, reforça a suspensão da descrença, que, convenhamos, em Dr. Who tem que ser muito mais suspensa no que na maioria das histórias que alguém acompanha. Enfim, Missy foi um dos grandes acertos de Moffat – eu diria que o maior dos acertos -, tanto no que tange ao personagem quanto à atriz que a interpreta. E se ela não voltasse seria muito ruim. Pouca importa como Missy voltou. O que importa é que ela está lá, congelando aviões no tempo em pleno ar apenas para chamar a atenção da UNIT e de Clara Oswald e poder atraí-la para um café, para que discutam um assunto de extrema urgência envolvendo o Doutor.
O louco, a totalmente e insana, e a beldade.
Missy precisa da ajuda de Clara para encontrar o Doutor; ela recebeu um disco de confissão do Doutor, um testamento de um Time Lord, e isso significa que ele deve morrer em menos de um dia. Um dia que transcende o tempo e tem como referência fixa o momento em que Missy recebe o testamento, e a própria percepção desta do tempo, é o que o roteiro induz você a entender. Time Lords, folks. Transcendem o tempo e o espaço. Whatever. O que importa é que, mais uma vez, o Doutor está prestes a morrer.
Novas velhas ideias
A propósito, esse me parece um dos grandes problemas de Steven Moffat, e também no desenvolvimento desse fantástico episódio. A única coisa que o compromete. Moffat já recorreu à ideia da morte do Doutor algumas vezes desde que assumiu as rédeas do programa. E de maneira não muito diferenciada. Recorrer frequentemente a esse recurso é desgastante e compromete um pouco a narrativa. Parece que Moffat quer ser impor um senso de urgência, de desespero e de imensa magnitude épica, que é desnecessário. O Doutor já é assim por conta própria; e também sabemos que ele não irá morrer. Não é isso que nos prende à série. Não é a possibilidade da morte de um personagem que evidentemente não poderia morrer, pois em essência deve ser eterno, que nos atrai. É justamente a capacidade que um ser dessa magnitude tem de experimentar situações e experiências tão humanas. Algo que nos permite olhar para nós mesmos de uma perspectiva diferenciada. Não deslocada no tempo e no espaço, mas de perto, de dentro, por dentro de nossas próprias almas.
Assim, temos que deixar um pouco de lado, e simplesmente entender que aquilo se trata do McGuffin da história que levará os amigos do Doutor a encontrá-lo em uma arena no século XII, no condado de Essex, onde ele se prepara para uma “luta de machado”. E é nesse momento que ele faz a sua entrada triunfal. Uma entrada com direito a um tanque, ray-ban e guitarra e solos alucinados. O Doutor está diferente, Clara consegue observar; algo que Missy jamais conseguiria. Essas pequenas nuances tendem a passar desapercebidas para um Time Lord, que vive se regenerando. Ser diferente faz parte da longa existência deles. Mas para um ser humano como Clara, bem, a beleza mora nos detalhes. E logo ela percebe que uma angústia, uma certa culpa, talvez um profundo sentimento de vergonha no olhar do Doutor. Vergonha sem dúvida não é algo que costumamos ver nos olhos do mais aventureiro e transgressor de todos os Time Lords. Ainda assim ele está lá. E sequer precisamos do roteiro para nos darmos conta disso. A expressão de Peter Capaldi, o 12º Doutor, é tão carregada desse sentimento que ele transborda pela tela. Aliás, Capaldi retorna ainda mais fantástico, e já é o meu Doutor favorito de todos os tempos.
A vergonha do Doutor parece ter a ver com um garoto que ele deixou para morrer, em uma guerra interminável, em meio a uma campo de minas de mão. Lá, em Skaro, sem dúvida ele deixou um pedaço de si. Não por acaso ele não usa mais sua famosa chave de fenda sônica. E de alguma forma aquele gesto parece ter sido demais para o Doutor, ao ponto dele contemplar a possibilidade do fim de sua existência. Ao que tudo indica – as respostas mais precisas devem vir apenas no segundo episódio, ou ao longo dessa temporada – foi esse enorme peso que levou o Doutor a gravar seu disco de confissão e envia-lo para Missy, e em seguida iniciar suas próprias festividades fúnebres, que, como sabemos, envolve tocar guitarra para uma platéia em uma arena de combate em Essex na Idade média e ensiná-los a gritar “Dude!”, introduzindo a expressão no vocabulário deles quase mil anos antes.
Mas assim que os amigos do Doutor aparecem o emissário de Davros, Colônia Sarff, que o vinha procurando pelos confins do universo desde o início do episódio, surge também. Ele traz uma mensagem de seu mestre: Davros está morrendo – coincidentemente – e em seu leito de morte quer encontrar o Doutor uma última vez. Seu argumento final para atrair o Doutor é sibilado por Colônia Sarff: “Davros sabe“. E ele sabe que o Doutor também sabe. E para alguém como o Doutor seria impossível resistir a algo assim.
Soa também repetitiva, é preciso que se destaque, a relação criador/criatura entre protagonista e antagonista que o episódio parece querer evocar. Esse artifício tem sido muito usado pelo cinema e TV nos últimos 30 anos, com repetitivos círculos viciosos no estilo “eu criei você, mas você também me criou” que impõem relações de causalidade que já se tornaram um tanto quanto cliché e portanto, bastante desgastadas. Mas por enquanto isso fica apenas insinuado. As palavras da curiosa representação da Democracia que é Colônia Sarff dão a entender que Davros se refere ao encontro entre eles quando ele ainda era uma criança, mas nesse ponto ainda não há como ter certeza. As coisas em Dr. Who costumam se construir em camadas, e pode haver muito mais entre o Doutor e seu Arqui-inimigo do que ainda pudemos compreender.
E essa tensão é justificada na esplêndida cena do encontro entre os velhos inimigos, ambos com seus crimes pesando em seus ombros, que se dá no clímax do episódio. O cenário é praticamente idêntico ao de 1975, e o ator que interpreta Davros, Julian Bleach, é também o mesmo. E a dinâmica entre os dois, a experiência de ambos e os excelentes diálogos conseguem produzir uma outra cena memorável. É preciso se reconhecer também aqui a competência e o talento da excelente diretora Hettie MacDonald, também responsável por outro dos grandes momentos da série, o episódio Blink, onde os Weeping Angels são apresentados.
Uma longa jornada através do espaço e do tempo, ou, “Como eu faço para começar hoje a ver uma série que começou a mais de 50 anos?”
Como se percebe o episódio de estreia da nona temporada dialoga diretamente com outros episódios da série. Essa é uma outra característica de Steven Moffat que o afasta de Rusell T. Davis. Davis foi responsável por regenerar o Doutor mais uma vez para a TV em 2005, ainda com Chritopher Eccleston no papel principal. Davis sempre se preocupou em não evidenciar muito as relações do Doutor pré-hiato, com o da nova série, provavelmente para ser capaz de conquistar novas audiências. Afinal, assusta a um novo público ter que começar a acompanhar agora uma série que existe desde 1963. Mas Moffat sempre buscou o caminho contrário. Aos poucos ele foi resgatando mais e mais elementos da série original, e isso foi uma decisão muito acertada.
Ao explorar a farta mitologia de uma série de mais de 50 anos, Moffat conseguiu desenvolver melhor o complexo e profundo personagem do sempre solitário e aventureiro Time Lord, que se apresenta apenas como “o Doutor”. Ao buscar, nesse episódio em especial, um retorno à origem dos Daleks e um reencontro com Davros, ele deu um passo a mais que há muito era ansiado pelos Whovians, antigos e novos. As histórias envolvendo os Daleks já estavam um tanto quanto comprometidas, por conta decisões um tanto quanto inconsistentes que os produtores haviam tomado acerca da perigosa ameaça.
Assim, quando Moffat decide colocar mais uma vez o Doutor face a face com o criador dos Daleks, renova-se uma tensão que há muita se via perdida. Uma tensão entre duas mentes que fizeram coisas inimagináveis em suas longas vidas. Coisas das quais não se orgulham muito. Ou mesmo se envergonham, no caso do Doutor. E quando a isso um elemento de reparação final é agregado, temos um dos melhores conflitos entre personagens que a série pode apresentar. Mais uma vez, sem medo de ser repetitivo, é preciso ratificar que isso fica evidente na tela. Peter Capaldi e Julian Bleach estão no domínio completo de seus personagens, e a sintonia entre ambos é simplesmente um deleite para os olhos.
52 anos de uma incrível e fantástica jornada.
A verdade é que não é preciso conhecer toda a história da série para se divertir e se emocionar com Dr. Who. Jamais ter visto a série em nada compromete que você possa começar a acompanhar a mesma a partir de qualquer episódio. O foco da série não está nas aventuras absurdas vividas pelo maior dos Time Lords. Isso é apenas um pano de fundo para desenvolver histórias que exploram as profundezas da alma humana. Dr. Who é acima de tudo, uma história sobre nós, contada de forma bastante emocional do ponto de vista de um ser eterno de raça alienígena praticamente extinta, que possui não apenas um, mas dois corações.
Além do mais, cada insana aventura do Doutor tende a se encerrar em si mesma, em um formato que permite aos espectadores menos fiéis a experimentarem sem muita perda. Quando há necessidade de uma certo catching up ou de explicar referências de histórias pregressas, a série costuma fazê-lo com muita elegância e fluidez, explorando elementos da própria estrutura do episódio para fazê-lo.
Da mesma forma isso se dá em The Magician’s Apprentice. Que evidentemente, também é uma referência direta ao poema de Goethe, de 1797, que foi magicamente adaptado pela Disney no clássico Fantasia, de 1940. No poema, assim como na animação, um aprendiz invoca magias que não sabe controlar para limpar a oficina de seu mestre, e se vê desesperado com a proporção dos resultados catastróficos que não antecipava produzir. O poema é muito conhecido na língua alemã por sua importante lição de moral de que não se deve invocar espíritos que não se pode controlar, sem ter que arcar com consequências desastrosas. Apenas um mestre é capaz de invocar tais espíritos justamente pela capacidade de controlá-los, e por isso mesmo é a ele quem o aprendiz recorre no final implorando por sua ajuda, para conter o caos que ele inadvertidamente criou. Isso parece dizer muito sobre as intenções de Davros. A beira do fim, o cientista louco parece recorrer a seu maior adversário, reconhecendo apenas nele a capacidade de desfazer o mal que são os Daleks.
Mas é claro que se o Doutor possui uma característica dos outros Time Lords e de seus inimigos, é a sua imensa capacidade de se relacionar com outros seres. O Doutor é muitas coisas, mas matar, deliberadamente, é algo que ele não é muito capaz de fazer. Não que ele já tenha matado. Mas sempre que ele o fez, o fez a duras penas, normalmente para proteger inocentes ou evitar sofrimento de outros, mas sempre às custas de um grande sofrimento pessoal. E Davros conhece bem seu poderoso aliado. Ele parece saber que o Doutor jamais aceitaria sua proposta. Então desde o primeiro momento manipula-o, e usa os amigos do Doutor para conseguir o que quer.
Se na primeira cena nós contemplamos o vergonhoso ato do Doutor em deixar uma criança sozinha, à beira da morte, só por saber que aquela criança virá a ser um dos grandes genocidas do Universo, a cena final do episódio nos leva a nos questionar: qual terá sido mesmo a grande vergonha do Doutor? O fato de ter deixado um inocente para morrer, mesmo após prometer ajudá-lo, ou o fato de ter sido covarde, e não ter ele mesmo o executado ali, naquele momento? Não seria mais corajoso – apesar de moralmente errado – contemplar diretamente sua vítima e lhe dar ao menos a dignidade de morrer olhando nos olhos de seu carrasco? Mas o Doutor jamais faria isso. O Mestre faria isso sem piscar. Mas não o Doutor. E Davros sabia disso. Sabia também que havia apenas uma forma de forçar a mão do de seu arqui-inimigo no rumo desse caminho negro: era preciso colocar o Doutor perante uma escolha da qual ele não poderia se esquivar. Uma escolha que envolve mudar a linha do tempo de forma violenta, literalmente.
Como o Doutor irá reagir? Que decisão ele tomará? Bom, isso apenas saberemos na próxima semana, no segundo episódio da nona temporada: The Witch’s Familiar. É aguardar cotando os dias e as horas ansiosamente.
Série: Dr. Who
Temporada: 9ª
Episódio: 01
Título: The Magician’s Apprentice
Roteiro: Steven Moffat
Direção: Hettie MacDonald
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Michelle Gomez, Julian Bleach, Jemma Redgrave, Clare Higgins
Exibição original: 19 de Setembro de 2015 – BBC One
Seu texto me deixou menos assustado com o lance dos 52 anos de série, que sempre assusta quem não a conhece.
Vou tentar arriscar alguns episódios pra ver se embalo
Comece dessa temporada. Você não vai se arrepender.