Crítica | Noite Infeliz

Crítica | Noite Infeliz

A magia do Natal em Noite Infeliz está no sacarsmo e na desconstrução da imagem do bom velhinho. Com tiradas cômicas alternadas entre sequências de ação sanguinolentas que beiram o gore e referências a filmes natalinos clássicos, a produção estrelada por David Harbour (Santa Claus) – o carismático Hopper de Stranger Things – é quase que um presente para os fãs do gênero que nos últimos anos se consolidou muito mais pela quantidade de lançamentos de baixo orçamento e pouco criatividade nos streamings.

Um Papai Noel desmotivado, exausto e beberrão reflete muito o humor de toda uma geração 40+ que cresceu sob o auge das grandes produções cinematográficas natalinas das décadas de 1980 e 1990 e que agora questiona toda a problemática desses conteúdos que moldaram o pensamento consumista e individualista da data. Ele está puto e prestes a encerrar a carreira, mas ao descer pela chaminé da família Lightstone, se vê obrigado a salvar o Natal da pequena Trudy (Leah Brady).

É na força do ódio, que Santa Claus opera neste filme, matando os mercenários “malvados” e atuando quase como um justiceiro, sem pestanejar. Cenas eletrizantes e chocantes se revezam com momentos amorosos e engraçados do carismático protagonista, que subvertem o tradicional conceito do personagem para revelar a face mais ogra e guerreira do barbudinho – que a cultura pop convencionou como um homem de meia idade sem defeitos, de coração bom e cuja única atribuição de vida é distribuir presentes às crianças.

A graça do filme também está na trama de base que vai revelando, aos poucos, a personalidade desse Noel violento e dos vilões. Um dos elementos mais interessantes do roteiro é como a história faz o espectador, até mais ou menos a metade do segundo ato, torcer para o sucesso dos “malvados”, que se insurgem contra a antipática e opressora matriarca dos Lightstone, dona de uma corporação milionária e corrupta dos EUA, e os membros mais idiotizados dessa família.

Outro ponto alto é a trilha sonora que embala, principalmente, as cenas mais violentas do filme. Os clássicos natalinos neste longa fazem o espectador se sentir na zona de conforto do gênero mas, ao mesmo tempo, ironizam as tradições associadas às festividades e seus elementos mais conhecidos, como artigos de decoração, símbolos e comidas típicas. No subtexto da produção, sugere-se a reflexão sobre o clichê dos clichês dos filmes de Natal, que é a força da crença e da fé como característica necessária à humanidade.


Uma frase: – “O Papai Noel não esquece de ninguém.”

Uma cena: Os “malvados” passando pelas armadilhas montadas por Trudy inspiradas nas sequências clássicas de Esqueceram de Mim.

Uma curiosidade: O longa é do cineasta que também dirigiu Zumbis na Neve e João e Maria: Caçadores de Bruxas. O filme foi desenvolvido em parceria com a mesma produtora de John Wick e Deadpool 2.


Noite Infeliz (Violent Night)

Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Pat Casey e Josh Miller
Elenco: David Harbour, Leah Brady, Beverly D’Angelo, John Leguizamo, Cam Gigandet, Edi Patterson, Alexis Louder e Alexander Elliot
Gênero: Comédia, Ação, Policial
Ano: 2022
Duração: 101 minutos

Bianca Nascimento

Filha dos anos 80, a Não Traumatizada, Mãe de Plantas, Rainha de Memes, Rainha dos Gifs e dos Primeiros Funks Melody, Quebradora de Correntes da Internet, Senhora dos Sete Chopes, Khaleesi das Leituras Incompletas, a Primeira de Seu Nome.

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