Crítica | Passagem Secreta
Muitas vezes na vida nós somos obrigados a enfrentar situações que não gostaríamos e quando isso ocorre na infância / adolescência é ainda mais complicado. “Passagem Secreta”, filme de Rodrigo Grota, fala um pouco sobre isso na figura da protagonista Alice. Ela é obrigada a se mudar sozinha para uma cidade do interior por pedido da mãe, que enfrenta problemas em casa com um relacionamento abusivo. A jovem é levada pelo tio, que é responsável por um parque de diversões, mas ao chegar ao lugar descobrirá segredos sobre sua família e da própria identidade.
O problema é que “Passagem Secreta” perde boa parte do seu primeiro ato na viagem de Alice junto com seu tio, mas sem apresentar muito sobre a personagem. Enquanto isso, na cidade destino, somos apresentados ao grupo de três jovens amigos fãs de filmes de ficção científica e de programas de rádio. A ideia seria estabelecer uma relação de amizade entre eles e a protagonista, mas o roteiro de Roberta Takamatsu não constrói esse relacionamento de maneira satisfatória.
Alice chega à cidade e é meio “obrigada” a fazer amizade com o trio, mas surge um receio por parte dela, então é criada uma relação meio “passivo agressiva” entre eles. Essa situação é agravada por uma mistura de problemas no roteiro como a falta de química entre os atores. O grupo inicial apresenta um bom entrosamento, tanto que nos créditos finais é mostrada uma cena escondida onde eles encenam um programa de rádio inspirado em Orson Wells, mas essa relação de amizade com a protagonista não é criada de forma verossímil.
Assim, quando chegamos ao ato final e descobrimos a passagem secreta do título dentro do parque e Alice é obrigada a tomar uma decisão em relação aos seus novos amigos, isso simplesmente não funciona, já que esse relacionamento não foi desenvolvido de maneira satisfatória durante o filme. Uma pena, visto que a premissa da história é razoavelmente interessante e surgem mistérios intrigantes durante a narrativa, que infelizmente não são resolvidos de forma aceitável.
Outro problema de “Passagem Secreta” é não saber encontrar o tom certo da narrativa, dessa forma ele fica perdido entre ser uma história infantojuvenil ou ser uma trama adulta protagonizada por crianças, especialmente em seu ato final com o encerramento do arco narrativo de forma “madura” e subjetiva.
A trama se passa num período entre os anos 1980 e 90, um mundo analógico, onde os personagens usam gravadores de som com fita K7, rádios de pilha e coisas do tipo, em um ótimo trabalho da cenografia. A trilha sonora de Rodrigo Guedes ajuda também nesse sentido, apresentando temas com uso de sintetizadores, criando um clima similar à “Stranger Things”. Dessa maneira, cria-se com o espectador adulto um sentimento de nostalgia, mas para os mais jovens talvez falte uma conexão com esse passado, que poderia ser criada pelo envolvimento com os personagens ou com a atemporalidade da trama, mas isso não é construído de forma eficiente pelo roteiro, como na citada série da Netflix.
O elenco adulto também não ajuda e personagens como Rui (Arrigo Barnabé) e Heitor (Fernando Alves Pinto), respectivamente o avó e o tio de Alice, caminham no limite entre o caricato e a artificialidade, sem conseguir apresentar a mesma naturalidade das crianças.
Em síntese, “Passagem Secreta” é prejudicado por um roteiro com problemas em definir o tom da história e também em estabelecer a relação de amizade entre os personagens.
Uma frase: “Se você quer ganhar, você tem que perder.”
Uma cena: Quando o grupo de amigos descobre a passagem secreta dentro do parque de diversões.
Uma curiosidade: O filme foi exibido na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Passagem Secreta
Direção: Rodrigo Grota
Roteiro: Roberta Takamatsu
Elenco: Arrigo Barnabé, Fernando Alves Pinto, João Guilherme Ota, Luiza Quinteiro, Sofia Cornwell, Tiago Daniel
Gênero: Ficção Científica, Infanto Juvenil, Aventura
Ano: 2020
Duração: 95 minutos
Eu assisti, me pareceu um filme que ainda precisaria de alguns ajustes antes de ser lançado, tem toda essa parte do primeiro ato que você comentou que é extensa e basicamente desnecessária, uma cena de 2 ou 3 minutos e algumas explicações mais frente e poderíamos economizar todo esse tempo e investir na melhor parte do filme que fica para o final
O elenco adulto também mais atrapalha que ajudar e tem todas essas questões que você comentou e concordo, ainda assim acho que vale a pena ser assistido.