Crítica | Simonal (2018)

Crítica | Simonal (2018)

Simonal, dirigido por Leonardo Domingues, é a mais nova cinebiografia musical brasileira que agora conta a história do cantor Wilson Simonal, umas das vozes mais marcantes e conhecidas dos anos 1960 e 70 do Brasil, que somente nos últimos anos têm sido redescoberto. Como o próprio filme conta, o artista teve problemas com sua carreira após ter sido acusado de “dedo duro” da classe artística durante a ditadura militar.

Na obra cinematográfica o diretor investe mais na parte da carreira de Wilson Simonal, apresentando o seu início de carreira e em como se tornou um artista muito conhecido e bem-sucedido. No entanto, o roteiro de Victor Atherino segue as fórmulas básicas das cinebiografias e estrutura a narrativa no esquema de ascensão e queda do protagonista, mas, pelo menos, o problema de Simonal não foi com drogas e álcool, mas sim com finanças.

Não existe problema em seguir fórmulas, contanto que elas sejam bem executadas. Contudo, Simonal investe em uma narrativa mais superficial que prefere apresentar diversos fatos marcantes da carreira do artista do que mostrá-las com um bom desenvolvimento, principalmente em relação aos personagens.

Isso fica bastante evidente em Tereza, interpretada por Isis Valverde, esposa de Simonal. A mulher é primeira retratada como uma pessoa frágil que sofre com um relacionamento abusivo, para depois aparecer como moça forte e disposta a ajudar o marido. Entretanto, a forma como ela vai de um ponto a outro não é bem explorada pela narrativa. Além disso, a atuação da atriz também não ajuda muito, já que Valverde parece sempre interpretar a mesma personagem, seja na televisão ou no cinema.

Em relação a Simonal, interpretado por Fabrício Boliveira, pelo menos o ator esbanja carisma e talento, então mesmo que o roteiro não consiga dar conta da complexidade do personagem, apresentando-o de forma quase unidimensional, Boliveira constrói de maneira satisfatória o protagonista. Ele segura o filme de maneira firme e correta.

O restante do elenco é irregular e na maioria das vezes tem pouco tempo em tela para que seu respectivo personagem tenha alguma grande marca dentro da narrativa. Nesse sentido, um destaque negativo fica por conta de Leandro Hassum, que interpreta Carlos Imperial de maneira caricata e irregular (bem diferente a versão de Bruno de Luca vista em Minha Fama de Mau). E como positivo temos Caco Ciocler, que interpreta um militar e apresenta uma figura que apesar de aparecer pouco, parece ser minimamente dimensional.

Na parte técnica, Simonal tem mais acertos que erros. O início é bastante promissor e mostra uma longa cena sem cortes onde uma personagem chega a um local de uma apresentação do protagonista. Uma cena difícil e muito bem filmada por Leonardo Domingues, se mostrando interessado em mostrar um primor técnico de fotografia. Contudo, nas cenas musicais, que geralmente costumam ser o grande forte de cinebiografias musicais, o filme deixa a desejar. Inclusive em uma determinada cena onde Wilson Simonal se apresenta no Rio de Janeiro, o cineasta opta por mostrar a cena real, o que destoa totalmente do restante do longa, como também não funciona de maneira emocional o suficiente para justificar o seu uso.

Simonal também perdeu uma boa oportunidade de abordar com mais propriedade temas complexos e interessantes, como o racismo e política, que giram em torno da carreira do protagonista. Apesar desses problemas, o filme tem um saldo positivo por resgatar a carreira desse importante artista da música popular brasileira. O protagonista Fabrício Boliveira faz um ótimo trabalho com sua atuação e faz com que alguns dos erros do filme de Leonardo Domingues possam ser relevados.


Uma frase: – Simonal: “Negão não pode ter carrão?”

Uma cena: A cena inicial que mostra a chegada de Laura ao local onde vai ocorrer um show de Simonal.

Uma curiosidade: O filme foi exibido em competição do 46° Festival de Cinema de Gramado, e foi também exibido nos festivais de cinema do Rio e de São Paulo em 2018.


Simonal

Direção: Leonardo Domingues
Roteiro:
Victor Atherino
Elenco: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Leandro Hassum, Caco Ciocler e Mariana Lima
Gênero: Biografia, Drama, Música
Ano: 2019
Duração: 105 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | Simonal (2018)

  1. Jura que vc não reparou que a longa cena que vc elogiou está toda ERRADA, mostrando, em 1975, carros do começo dos 60! Depois, quando mostra 1960, os carros são dos anos 70! Erro primário!

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