Crítica | Dor e Glória (Dolor y Gloria)

Crítica | Dor e Glória (Dolor y Gloria)

Sensibilidade, sinestesia e paixão conduzem o espectador por Dor e Glória – novo filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar que, inclusive, já admitiu ser a obra que mais o representa intimamente. Nela, Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um diretor de cinema que personifica o alter ego de Almodóvar, frustrado pela solidão e deprimido pelo excesso de problemas de saúde. Com pitadas de humor, o drama reconstitui, por meio de flashbacks, as memórias da infância e do passado recente do protagonista, abusando do recurso da metalinguagem para reiterar a importância da sétima arte na vida do cineasta.

Submerso numa piscina de tratamento para as dores na coluna, Salvador começa a revisitar o passado na busca de um sentido para sua atual existência. Uma de suas primeiras resoluções na tentativa de superar a insegurança sobre a consolidação do sucesso de seu primeiro filme – intitulado Sabor e reverenciado pela crítica mesmo após mais de 20 anos da estreia – é procurar o perturbado ator Alberto Crespo (Asier Etxeandia). O intuito de Salva é fazer as pazes com o protagonista da obra e planejar uma nova aparição pública da dupla, a fim de medir o nível de aceitação do filme entre fãs da nova geração.

No encontro, Salvador experimenta heroína e começa a usar a droga como válvula de escape. Daí em diante, memórias do passado, encontros e desencontros do presente provocam uma explosão de novos sentimentos no cineasta, que questiona até a origem de sua própria genialidade. Filho de pais analfabetos, Salvador não se acha merecedor do sucesso, apesar de sua mãe sempre ter acreditado em seu potencial e inteligência. A relação dos dois, inclusive, é um dos grandes fios condutores da narrativa, que proporciona ao espectador belíssimas atuações das atrizes Julieta Serrano e Penélope Cruz, que interpretam Jacinta Mallo em momentos distintos.

Cenários coloridos, figurinos notáveis, enquadramentos delicados e uma interessante temática secundária acerca da sexualidade do protagonista fazem de Dor e Glória um filme sutil e imponente, infeliz e esperançoso, ao mesmo tempo. O ritmo da história perde um pouco do fôlego do segundo para o terceiro ato, o que não chega a comprometer o inevitável suspiro do espectador com o desfecho final da obra – a qual já nasce candidata a clássico da antologia de Almodóvar.


Uma frase: “É um texto confessional. Não quero ser identificado”.

Uma cena: Quando Salvador e Frederico se reencontram.

Uma curiosidade: Julieta Serrano e Antonio Banderas já representaram mãe e filho, mais de 30 anos antes, em mais dois filmes de Pedro Almodóvar: Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988) e Matador (1986).


Dor e Glória (Dolor y Gloria)

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro:
Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Antonio Banderas, Leonardo Sbaraglia, Nora Navas e Asier Etxeandia
Gênero: Drama
Ano: 2019
Duração: 113 minutos

Bianca Nascimento

Filha dos anos 80, a Não Traumatizada, Mãe de Plantas, Rainha de Memes, Rainha dos Gifs e dos Primeiros Funks Melody, Quebradora de Correntes da Internet, Senhora dos Sete Chopes, Khaleesi das Leituras Incompletas, a Primeira de Seu Nome.

2 comentários sobre “Crítica | Dor e Glória (Dolor y Gloria)

  1. Finalmente pude assistir, gostei muito do filme. Adoro a parte em que ele diz que não dá pra saber sobre o que é a história (qual o gênero dela) antes de ele terminar de escrever.

    Achei uma lindeza.

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