Crítica | BlackMirror: Bandersnatch

Crítica | BlackMirror: Bandersnatch

Mais que um filme ou um episódio especial de Black Mirror, Bandersnatch é uma experiência interativa onde o espectador pode escolher os rumos da história, assim como eram os “livros-jogos” que fizeram muito sucesso no passado. A depender das escolhas e do nível de interesse de cada um, tanto o tempo em tela quanto a diversão proporcionada pelo “evento” o terão diferentes níveis.

A trama acompanha a história de um jovem desenvolvedor de games (Fionn Whitehead, Dunkirk) que está criando um jogo a partir de um romance homônimo que é, na verdade, um livro interativo. Não tarda muito e o protagonista começa a perder controle sobre o que é realidade, e sua obsessão com o seu jogo o leva a questionar não só a sua sanidade, como também o conceito de livre-arbítrio. Será que ele é realmente um ser com escolhas próprias ou existe algo que o está controlando?

A história em si não é tão profunda e reflexiva como outras que já foram apresentadas na série Black Mirror. As discussões sobre livre-arbítrio e realidades alternativas só se tornam mais interessantes devido ao processo de interação com o espectador que são muito bem feitas. Não é um simples processo no estilo “caminho A ou B”, mas sim uma complexa lista de situações e cenários que são construídos a depender de uma série de escolhas realizadas previamente.

O jogo

É preciso que o espectador esteja interessado em embarcar na “brincadeira” (de ir e voltar, testar opções diferentes mais de uma vez). Para os que não se sentirem interessados por essa proposta existe a opção de não escolher nada e deixar a “Netflix” (tem uma ótima cena envolvendo o serviço de streaming) escolher por você, o que leva a um final diferente também ou, assim que aparecer a primeira oportunidade de pular para os créditos finais, selecionar e não seguir mais adiante.

Ainda que exista a opção de ter o mínimo de interatividade, particularmente acredito que aqueles que permitirem-se (ou se interessarem por) aventurar pelas opções, retornando algumas vezes tentando sempre descobrir em qual realidade paralela você se encontra no momento – algumas vezes os personagens acham que já te conhecem de algum lugar, ou você comenta que já o conhece mas ele não “se lembra” – e tentar acessar novas cenas e ver novos finais irão aproveitar mais de Bandersnatch já que ele é, em sua essência, como o livro-jogo que o protagonista tenta transpor em forma de game. 

Existem diversos easter eggs espalhados pela história, alguns com ligações bem diretas a outros episódios da série e outros que chegam até a brincar com toda a ideia que Bandersnatch constrói com seu roteiro que deve ter dado um bom trabalho para ser criado. Cada escolha abre um caminho de possibilidades e, algumas cenas, são praticamente inacessíveis para se ter ideia de sua dimensão.

Game Designer

Enquanto experiência, Bandersnatch é uma ótima escolha e que faz do espectador parte importante na construção dos rumos da história que o filme apresenta. Gostar mais ou menos, aí vai mesmo de cada um. Para aqueles que não se sentirem “fisgados”, até pode se evidenciar uma experiência um tanto quanto frustrante e com baixo nível de recompensa, mas para os que embarcarem na ideia (e que tiverem um mínimo de curiosidade) esta pode se tornar uma daquelas obras que trazem uma nova opção de entretenimento e podem se tornar um marco interessante para o futuro das produções audiovisuais nos serviços de streaming.


Uma frase: –  Collin comentando sobre o game Pac-Man: “Não é um jogo  feliz, é um pesadelo!”

Uma cena: Colin depois de ter tomado um ácido junto com o protagonista (se você escolheu isto) conversando sobre Pac-Man, livre arbítrio e outras coisas mais.

Uma curiosidade: A duração média do filme é de 90 minutos, mas sempre depende das escolhas que o espectador fizer e também do quanto o espectador se interessar em continuar assistindo e testando novas possibilidades sem pular direto para os créditos. O material filmado total possui mais de 5 horas de duração.


Black Mirror: Bandersnatch

Direção: David Slade
Roteiro:
 Charlie Brooker
Elenco: Fionn Whitehead, Craig Parkinson, Alice Lowe, Asim Chaudhry, Will Poulter, Tallulah Haddon e A.J. Houghton.
Gênero: Drama, Mistério, Ficção Científica
Ano: 2018
Duração:  90 a 300 min

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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