Crítica | O Filme da Minha Vida

Crítica | O Filme da Minha Vida

O Filme da Minha Vida é o 3º filme dirigido por Selton Mello e ele mostra mais uma vez que além de ser um bom ator também tem muito talento na direção. O longa apresenta uma bela história que faz um paralelo ao próprio mundo do cinema. Além disso, a trajetória do protagonista pode ser comparada à do próprio Mello como diretor, onde é possível acompanhar a maturidade e evolução durante o desenrolar da história tanto do personagem quanto do cineasta.

Tony (Johnny Massaro), o protagonista, mora em uma cidade do interior e quando volta ao lugar, após terminar a faculdade, tenta seguir adiante e se acostumar a ausência do pai. Vamos acompanhar a jornada evolutiva de um jovem ingênuo em direção à maturidade, aqui representada desde a sua mudança de comportamento até o jeito de se vestir. O trabalho de Massaro é muito bom e um dos destaques do longa.

O protagonista também está conhecendo o amor e mais sobre a vida. Sua relação com a mãe é boa, mas ele tem dificuldade de entender porque o seu pai foi embora e não manda notícias. Outro personagem importante na trama é o interpretado por Mello. Pois é, além de diretor ele também tem um papel de destaque. Selton aproveita a jornada dupla para mostrar o seu talento como ator, interpretando um amigo da família chamado Paco que funciona como um novo conselheiro na vida de Tony, representando para ele uma nova figura paterna.

O cinema também tem papel importante no filme com um ótimo simbolismo. Tony é fã da 7ª arte e viaja até uma cidade vizinha para poder assistir um longa, mesmo que ele já tenha visto outra vez. Enquanto Paco faz questão de lembrar da importância do rádio e de como ele acha que a televisão nunca tomará o seu lugar. Dessa forma, “O Filme da Minha Vida” invoca um pouco do saudosismo, com leves doses de melancolia, em relação aos avanços da tecnologia. Se nos anos 60, época em que a história se passa, o rádio já parecia algo ultrapassado, é de se admirar que esse meio de comunicação ainda resista aos dias de hoje.

O clima sentimental e os simbolismos são expressados também de forma muito bonita através da fotografia de Walter Carvalho. Ela é um dos destaques do filme com uma beleza que chama a atenção e invoca ainda mais forte a nostalgia. Mello utiliza muito bem esse recurso e se expressa de maneira eficaz com as imagens criando uma ótima poesia visual. A cena na qual Tony observa o nascer do sol na janela, por exemplo, é muito linda. Além disso o longa explora muito bem os closes e planos fechados nos rostos dos atores, principalmente nos olhos. As expressões faciais, quando bem exploradas, funcionam melhor que muitos diálogos.

Curiosamente Paco, personagem de Mello, explica para Tony o motivo pelo qual não gosta de ir no cinema. Segundo ele “você vai para um troço escuro e fica lá vendo a vida dos outros ao invés de cuidar da sua e perde duas horas da vida”. Considerando que muitas pessoas têm desistido da experiência de ir ao cinema por causa de problemas como: a falta de educação da plateia olhando o celular ou conversando alto, ou mesmo o preço do ingresso, sem contar o “transtorno” de sair do conforto da própria casa, “O Filme da Minha Vida” nos lembra um pouco como essa experiência ainda vale a pena. Uma viagem nostálgica e muito bonita através da vida do protagonista que com certeza não irá fazer com que o espectador perca, mas sim ganhe 2 horas na sua vida.


Uma frase: – Paco: “Qual a diferença entre um homem e um porco?”

Uma cena: Tony observando o nascer do sol.

Uma curiosidade: Baseado no livro “Um Pai de Cinema” de Antonio Skármeta.

 


O Filme da Minha Vida

Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicato
Elenco: Johnny Massaro, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Bia Arantes, Ondina Clais Castilho, Martha Nowill, João Prates, Antonio Skármeta e Rolando Boldrin
Gênero: Drama
Ano: 2017
Duração: 113 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | O Filme da Minha Vida

  1. Fora a questão desse filme mostrar como ainda vale a pena todo o “esforço” de ir ao cinema, é uma daquelas obras importantes, ainda mais para o tempo em que vivemos com tanta coisa ruim, etc. É um filme bonito.

  2. Selton Mello já tinha provado que era um grande diretor antes. O ponto mais positivo de “O Filme da Minha Vida” é soar, não como um filme brasileiro, mas um filme universal, com uma história com a qual todos podemos nos identificar. Gostei muito da maneira como a jornada de Tony nos é retratada. Ele amadurece por meio da dor e da ausência do pai e se revela um ser humano lindo, especialmente no ato final do longa.

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