Crítica | O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, 2017)

Crítica | O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, 2017)

O Estranho Que Nós Amamos é a polêmica e primeira refilmagem de Sofia Coppola, do filme homônimo de 1971. Ela já declarou que a real inspiração é baseada no livro de 1966. O que tem chamado a atenção desde a estreia no Festival de Cannes é que a nova versão parte de uma visão feminina da história.

O drama se passa na Virgínia de 1864, três anos após o início da Guerra de Secessão. Algumas mulheres que estão isoladas na região aprendem costura, caligrafia e literatura na Miss Farnsworth’s Ladies’ Seminary uma antiga fazenda abandonada pelos escravos que se tornou uma escola para moças.

Tudo começa com a jovem Amy (Oona Laurence) colhendo cogumelos no bosque enfumaçado, resultado das batalhas que estavam próximas dali, e encontra o soldado da União, o Cabo John McBurney (Colin Farrell) com uma ferida na perna.

A diretora da escola, Miss Martha (Nicole Kidman), está preocupada em trazê-lo para casa, pois, como cristã que é, deve exercer a caridade. Por outro lado, o consenso entre algumas garotas é que o soldado deve ser entregue aos Confederados, o que equivale a uma sentença de morte. John, mesmo febril e cansado, se mostra astuto e convence que prefere ser “prisioneiro da diretora” ao ter que ser entregue aos inimigos.

Com o passar dos dias e a recuperação de sua ferida, o soldado se oferece para ser jardineiro da residência. A idéia é aceita aos poucos e o que era para se tornar um curto período vai se estendendo, o soldado vai aos poucos sendo aceito por elas. Sempre com uma resposta agradável, sua atenção começa a ser disputada por todas.

O ambiente se modifica e só se percebe que existe uma guerra quando escutam tiros de canhões. A guerra praticamente só existe do portão para fora.

O enredo centraliza em quatro personagens:

O histriônico John McBurney, um imigrante irlandês de quarenta anos que tenta tirar proveito de todas as oportunidades, alguém que toca emocionalmente, mas pode ser uma ameaça. John tem um significado para cada uma das sete mulheres, sua situação requer cuidado, algo que Edwina e mais a frente Alícia estão muito dispostas a dar.

A diretora Miss Martha (Nicole Kidman) que apesar de responsável e segura, vive um conflito para evitar que o desejo pelo soldado afete suas tuteladas. A dona da escola, uma mulher de cinquenta anos, vê em John alguém que pode ser útil como jardineiro, o que acaba usando como uma das justificativas para o prolongamento de sua permanência.

Edwina (Kirsten Dunst), uma professora de trinta e cinco anos triste e tímida, que com a chegada de um homem se dispõe a estar mais arrumada e até mesmo a deixar aquela vida de mulher solitária de lado. Edwina é repreendida sempre que flerta ou até mesmo é vista conversando com John, quase sempre andando com as vistas baixas.

Além de Alicia (Elle Fanning), uma estudante dedicada nas suas lições e uma adolescente no amadurecimento da sua sexualidade. Alicia traz o clima erótico do filme, não como o de 71, em que a garota parecia ter participado de um filme adulto. Ela representa o rompimento dos costumes e amarras em que vive e quer fazer aquilo que tem vontade, desde sair da escola pra ter uma vida independente, ou até conseguir uma oportunidade de conquistar McBurney.

Entretanto, o longa fica com um ar mais tenso na segunda metade, quando há um desentendimento entre alguns personagens centrais e uma atitude drástica é tomada. A história que inclinava para uma disputa romântica se torna algo sombrio.

O visual das plantações e do bosque enfumaçado dão um tom de sobriedade, com um belo pôr do sol em uma das cenas. Na maior parte aproveita-se bastante a luz da manhã, mas é fascinante também o visual amarelado e sombrio das velas acesas na sala de jantar. Tem uma trilha sonora melancólica, apesar de não ter percebido muitas músicas ao longo do filme, pois tocam em momentos bem específicos.

Essa versão é interessante por conta dos detalhes. Coppola acertou muito ao mudar as reações e motivações do personagem de Collin Farrell e já não põe Miss Martha com o arquétipo da louca mulher do sul.
Ela não tem interesse em criticar politicamente a vida sulista e a ausência da escrava é um indicativo de que o foco não é essa ferida social, mas sim o isolamento ou abandono da mulher (não seria ruim falar do isolamento da mulher negra e escrava, talvez isso fugisse da trama).

A atual versão traz uma opinião assertiva. Numa época em que vivemos a afirmação e empoderamento das mulheres no cinema, O Estranho Que Nós Amamos é uma visão diferenciada de uma mulher atual para um filme antigo, machista e obsoleto.


 

Uma frase: “Srta Edwina, você não gosta de comer cogumelos!”.

Uma cena:  A cena do primeiro jantar em que as garotas tentam se mostrar úteis para John: “Eu fiz a torta”, “mas com a minha receita”, “só que eu colhi as maçãs”. 

Uma curiosidade: No primeiro jantar as meninas estão segurando o garfo com a mão direita. Levando em consideração que é uma Escola de Boas Maneiras, elas deveriam usar a mão esquerda.

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O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, 2017)


Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola (baseado no livro de Thomas Cullinan)
Elenco:  Nicole KidmanKirsten Dunst, Elle FanningOona LaurenceColin Farrell
Gênero: Drama
Ano: 2017
Duração: 93 minutos.
Graus de KB: 2 Graus. Sofia Coppola atuou em Peggy Sue, Seu Passado a Espera com Dan Leegant, que atuou com Kevin Bacon em Quicksilver – O Prazer de Ganhar (1986).

 

Junio Queiroz

Sou bonito, sou gostoso, jogo bola e danço. Psicólogo humanista. As vezes edito algum podcast da casa.

Um comentário em “Crítica | O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, 2017)

  1. Achei o filme ruim. O cabo, Colin Farrel, foi mal dirigido e é inevitável não comparar a Clint Eastwood, da primeira versão. É até covardia.

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