Review | Hot Girls Wanted: Turned On

Review | Hot Girls Wanted: Turned On

A Internet teve um impacto enorme no mundo e até hoje ainda tentamos nos adaptar às mudanças constantes que ela gera em nossas vidas. A série de documentários “Hot Girls Wanted: Turned On”, criada por Ronna Gradus, Rashida Jones e Jill Bauer, mostra histórias pessoais de como a interseção sexo, tecnologia e relacionamento reconfigura a sociedade como um todo.

Cada episódio, 6 no total, mostra o impacto em uma determinada área. Os depoimentos dos “personagens”, pessoas reais envolvidas diretamente nessas mudanças, dão ao espectador um pouco de noção dessas alterações. Neste texto será apresentada uma breve análise de cada um deles.

1. Mulheres por cima (Women on Top)

Direção: Rashida Jones
Duração: 42 minutos

Nesse episódio entramos no mundo dos filmes pornô. A Internet ajudou a facilitar o acesso a eles, mas também fez com que as pessoas estivessem cada vez menos dispostas a pagar para assistí-los. Esse fato alterou a forma de negócio da indústria como um todo. Começam a surgir os vídeos com conteúdos mais específicos e também voltados para outros públicos. Os filmes adultos são em sua grande maioria voltados para os homens. Em muitos deles as mulheres são “punidas” com sexo em situações sempre submissas aos “machos”. Mas será que elas também não teriam interesse em vídeos voltados para elas? Iremos conhecer Erika Lust, uma diretora, roteirista e produtora independente de filmes pornô voltados para o público feminino.

Outras reflexões do episódio giram em torno da educação sexual. A facilidade em se assistir um vídeo pornô na Internet faz com que os jovens aprendam mais sobre sexo com ele do que na escola, ainda mais que o assunto é um tabu até hoje e muitas instituições de ensino conservadoras nem abordam o tema. Aprendendo sobre a sexualidade dessa forma seria a mesma coisa que aprender sobre drogas com traficantes, na visão de um dos entrevistados.

2. Tinder (Love Me Tinder)

Direção: Jill Bauer e Ronna Gradus
Duração: 41 minutos

Esse episódio mostra como os aplicativos de relacionamento mudaram a forma como as pessoas se conhecem e marcam encontros amorosos. É fato o quanto eles facilitam a vida de quem está à procura de um parceiro, seja para um encontro casual ou algo mais sério. Mas ao mesmo tempo, o número alto de escolhas faz com que as pessoas acreditem que ter um namoro monogâmico não faça mais sentido: “para que eu vou ficar com meu parceiro se existem muitos outros interessados?”. Tudo isso a cliques de distância. Iremos conhecer um homem de 40 anos de idade que está curtindo a vida. A cada semana conhece uma nova mulher, se diverte com ela, passa um tempo juntos, e depois ele segue adiante. Ele não está fazendo nada de errado, no entanto durante o episódio o próprio reflete sobre seu comportamento e o quanto isso é influência dos aplicativos.

3. Donas do pedaço (Owning It)

Direção: Sandra C. Alvarez
Duração: 50 minutos

As strippers são coisas do passado. No mundo de hoje existem mulheres que ganham a vida fazendo shows particulares através de webcam. Elas são conhecidas como cam girls e existem diversos sites que disponibilizam esse serviço. Iremos conhecer algumas delas e como elas ganham dinheiro não só com isso, mas também vendendo seus próprios vídeos, sejam sozinhas ou com algum parceiro(a), ou produtos como calcinhas ou quadros pintados com seus próprios seios (!?). Tudo é um negócio e o mais importante, segundo uma delas – que também ganha dinheiro recrutando outras garotas – é ser dona do seu próprio material. Dessa forma, será possível lucrar em cima da venda deles, mesmo com o passar do tempo. O episódio mostra como as mulheres conseguem ser empresárias e cuidar da própria carreira de forma independente, mas que isso exige dedicação e cuidados.

4. Clímax (Money Shot)

Direção: Jill Bauer e Ronna Gradus
Duração: 43 minutos

Se em 2017 o racismo contra os negros ainda existe e sexo ainda é tabu, então o sexo inter-racial é um fetiche forte no mundo pornô. Iremos conhecer um ator pornô negro que conta um pouco da sua rotina de trabalho. Ele está filmando um vídeo com uma atriz branca. Mulheres brancas ganham um bônus por trabalharem com atores negros, sendo isso legalizado na indústria pornô. O filme que eles estão filmando tem cenas de agressão, elas representam ⅓ dos vídeos pornôs e em 94% deles as mulheres são as agredidas. Ou seja, um reflexo da nossa sociedade machista em que esse tipo de comportamento é considerado aceitável. O ator ainda conta sobre a pressão que sofre pela “cena do gozo” (money shot), no qual ele tem que ejacular de verdade. Se ele não conseguir fazer, ninguém da equipe e do elenco recebe pagamento, porque esse momento é necessário para finalizar o vídeo.

Vemos também um homem que trabalha como agente de atores pornô e como sua família não aceitou o fato dele trabalhar para essa indústria. Ainda existe um enorme preconceito com quem trabalha no ramo. Mas ele explica que faz isso por dinheiro e em nenhum dos trabalhos que ele realizou antes pagou tão bem quanto ele recebe agora. Então é um trabalho honesto e legalizado, ou seja, ele não está fazendo nada de errado.

5. Chat privado (Take Me Private)

Direção: Peter Logreco
Duração: 58 minutos

Um outro episódio focado em cam girls, mas nele vemos também o outro lado de quem consome esse tipo de serviço. Seria possível a partir de um relacionamento virtual desse tipo entre duas pessoas surgir amor? Conhecemos uma moça americana que presta serviços para um homem australiano. O rapaz é um típico “gordinho nerd”, que sofreu bullying quando era criança e adolescente e hoje tem dificuldade em se relacionar com mulheres no mundo real. Mas através de um computador e uma webcam ele faz isso sem problemas. Ele acredita estar em um namoro, mas para ela é um trabalho, e investe todas as suas economias em presentes para agradar a moça, inclusive uma passagem para que ela possa ir a Austrália conhecê-lo. Será que esse encontro vai dar certo? É possível se relacionar à distância através da Internet? E qual o limite da relação entre as pessoas nesse tipo de serviço? Essas são algumas das reflexões desse episódio.

6. Não pare de filmar (Don’t Stop Filming)

Direção: Peter Logreco
Duração: 46 minutos

Selfies, transmissões ao vivo de vídeos, fotos… Existem muitas formas das pessoas “chamarem a atenção” nas redes sociais em busca de uma “curtida”. Nesse episódio, talvez o mais polêmico, iremos conhecer a história da Marina Lonina: uma garota russa que mora nos EUA e que fez uma transmissão ao vivo em vídeo de sua amiga sendo estuprada por um rapaz. Por que ela não pediu ajuda ou tentou ajudar a amiga? Qual a punição que ela deveria ter?

A Internet também fez com que as leis estejam sempre desatualizadas já que a cada novo dia é criada uma nova forma de se cometer algum crime. O que passou pela cabeça da garota a fazer isso? O episódio faz essa reflexão e também mostra como as pessoas são julgadas de forma imediata por algo errado que fizeram, não importa qual seja motivação ou o que está por trás disso. Não importa qual o tipo de punição a garota receba, o advogado de acusação defende que ela seja punida da mesma forma que o estuprador, uma vez que o registro digital do ocorrido continuará existindo para sempre. Basta uma simples busca no Google pelo nome dela e facilmente se encontra informações sobre o que ocorreu. O mundo digital não perdoa e também não esquece jamais.



Hot Girls Wanted: Turned On

Criado por: Ronna Gradus, Rashida Jones e Jill Bauer
Emissora: Netflix

Ano: 2017

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

3 comentários sobre “Review | Hot Girls Wanted: Turned On

      1. Realmente bem bom essa série, episódios bem interessantes, principalmente os que retratam a “visão feminina” sobre a indústria que é bastante machista (óbvia e infelizmente).

        Talvez o episódios mais “fora da curva” sejam o Love me Tinder (boa piada esse título) que curti muito e o do Jovem Nerd Australiano que é de chorar.

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