Crítica | A Lei da Noite (Live by Night)

Crítica | A Lei da Noite (Live by Night)

Ben Affleck tem se destacado e surpreendido como diretor. Em A Lei da Noite, ele investe em um trabalho ambicioso. É um filme de gângster, com objetivo de homenagear o gênero, mas mostrando um personagem que evita ao máximo se tornar um mafioso. Joe Coughlin, interpretado pelo próprio Affleck, prefere se denominar um fora da lei. Mesmo sendo filho de um comissário de polícia e veterano da primeira guerra mundial, o rapaz insiste em trabalhar a margem da lei praticando roubo a bancos. Só que, por mais que ele insistisse em não se envolver diretamente com a máfia, ele teve que ceder em busca de um objetivo maior: vingança.

O motivo? A morte de um grande amor. Emma Gould (Sienna Miller) era amante de Albert White (Robert Glenister). Quando ele descobre que ela e Joe se encontram às escondidas, o mafioso dá uma surra no rapaz. Coughlin só não é morto por intervenção do pai, que o prende por causa de um assalto a banco. Depois, Joe descobre que seu amor morreu tentando fugir de White. Então ele jura vingança ao gângster ao sair da prisão.

Bom, o filme poderia seguir por esse caminho clichê, ao contar uma história sobre uma vingança de amor. Mas o roteiro, escrito também por Affleck, tem outras ambições. Está mais interessado em fazer um estudo de personagem. E Joe é uma figura interessante. Com a vingança como objetivo, ele se alia a outro mafioso. Então, é enviado para a Flórida, deixando seu passado irlandês de Boston para trás. A mudança de ambiente traz novas cores com o clima mais quente da Flórida, em contraste com o frio de Boston.

Só que a partir desse ponto, o filme já começa a demonstrar sinais de problemas. A começar pelos diálogos, que muitas vezes apresentam frases de efeito, transformando seus personagens em figuras caricatas. A narração em off, feita pelo protagonista, também irrita por conter explicações para as ações do personagem que tiram do espectador a sensação de imaginar o que estaria se passando da cabeça dele durante determinada atitude. Além de conter falas expositivas de coisas que estão sendo mostradas na tela.

O elenco irregular ajuda a deixar claro os problemas do roteiro. A começar pelo próprio Affleck. Sua performance com poucas expressões tentam passar a imagem de um personagem misterioso, mas a narração estraga isso o transformando-o em uma simples má atuação, sem conseguir transmitir os sentimentos de Joe. O grande destaque fica com Elle Fanning como Loretta Figgis. Ela também é filha de um chefe de polícia, e após uma tentativa frustrada de ir para Los Angeles com objetivo de tornar-se atriz, volta para casa após se envolver com sexo e drogas. Envergonhada, a moça se apega a religião, se transformando em uma pastora. Seus discursos condenam suas atitudes e de como ela conseguiu se salvar com a ajuda de Deus.

Nesse ponto o filme trata de um tema importante: a religião. Graças a influência de Loretta, Joe não consegue levar adiante seu plano de construir um cassino na cidade. Isso mostra a influência e o poder da religião na política, sem a necessidade de disparar nenhum tiro. Essa a única parte que o filme consegue exemplificar e utilizar bem o tema. Em outro momento, quando Joe lida com o surgimento de Klu Klux Kan, o roteiro usa apenas a violência utilizando a questão de forma artificial.

O roteiro peca por incluir temas polêmicos e interessantes, como religião e racismo, sem utilizá-los de forma inteligente e bem desenvolvida. Outro exemplo, é o fato de Joe se envolver com uma mulher negra e cubana, interpretada por Zoe Saldana, e começar a sofrer preconceito por causa desse envolvimento. Mas esse fato nunca é explorado a ponto de se tornar importante dentro da narrativa.

Se Affleck quer fugir do lugar do universo da máfia, assim como o protagonista tenta não se denominar como um gângster, ele aborda temas importantes e nem sempre explorados no gênero, como o racismo, mas não tira bom proveito deles. E na tentativa de não ser nem uma história de vingança, ou de romance, ou mesmo de mafiosos, o filme se perde sem saber exatamente qual rumo seguir. Ao longo da narrativa os elementos são apresentados, sem o total desenvolvimento, perdendo a chance de explorar os temas citados de maneira convincente.

A própria transformação natural de Joe em um gângster, mesmo contra sua vontade inicial, é desenvolvida com problemas. Em certo momento da história ele vai ter que provar se é cruel o suficiente para se manter vivo dentro dessa área de trabalho, mas sua mudança de comportamento é abrupta e não consegue se apresentada de forma convincente durante o longo da história.

Affleck tinha todos os elementos para construir uma boa história, mas a ambição inicial dá lugar a falta de competência em realizar tantos papéis – diretor, roteirista e ator protagonista – de forma decepcionante.


Uma frase: – “Arrependa-se!”

Uma cena: O tiroteio final.

Uma curiosidade: Essa é a quarta vez que Ben Affleck dirige um filme.

 

.


A Lei da Noite (Live by Night)

Direção: Ben Affleck
Roteiro: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Elle Fanning, Brendan Gleeson, Chris Messina, Sienna Miller, Zoe Saldana e Chris Cooper
Gênero: Crime, Drama
Ano: 2016
Duração: 129 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Um comentário em “Crítica | A Lei da Noite (Live by Night)

  1. Sinceramente, não estou com muita curiosidade para assistir a este filme… Gosto de Ben Affleck como diretor, gosto dos livros escritos por Dennis Lehane, mas as críticas não são nada animadoras.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *