Crítica | O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation)

Crítica | O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation)

O filme O Nascimento de Uma Nação utiliza o mesmo nome do clássico de D.W. Griffith de forma brilhante. O objetivo é dar, de certa forma, uma resposta ao filme de 1925 e apresentar um novo significado ao título. Pena que o diretor, roteirista e protagonista Nate Parker não conseguiu alcançar seu propósito de forma totalmente satisfatória.

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Nat Turner (Nate Parker), um escravo que teve o “privilégio” de aprender a ler e virou pastor. Ele foi utilizado pelo seu proprietário Samuel Turner (Armie Hammer) para pregar em outras fazendas com o objetivo de acalmar os escravos rebeldes. Com isso Samuel lucrava com os serviços prestados pelo pastor. Após presenciar os maus tratos sofridos pelos outros negros e também o que ele mesmo vivenciou, Nat se transforma no líder de uma rebelião ocorrida em 1831.

A figura de Nat tinha muitos aspectos complexos e o roteiro tenta torná-lo mais simples para o grande público. Por exemplo: é criado um personagem que é um caçador de escravos (Jackie Earle Haley). Foi ele que matou o pai do protagonista quando ele era criança. Então ao invés de criar uma história que critique a escravidão como um todo, o roteiro foca nesse “vilão” com a intenção de criar uma forma mais dramática de retratar o conflito de Turner. Só que isso fragiliza a discussão maior em cima do tema da escravidão. Ainda mais que a história toca em pontos importantes como a relação da religião e a escravidão. A Bíblia era usada como justificativa, mas ao começar a estudá-la Nat percebe que para cada parte que justifica, tem uma que condena.

Em compensação, a atuação de Parker como Nat é um dos destaques do filme. Ele constrói muito bem o personagem mostrando como aos poucos sua passividade foi sendo quebrada ao sofrer e presenciar abusos, principalmente físicos. Só que como roteirista e diretor ele mostra talento, mas ainda precisa aperfeiçoar.

Como diretor, Parker tenta emular alguns aspectos técnicos de trabalhos com temática semelhantes como “12 anos de escravidão”, mas não consegue o mesmo resultado. A trilha sonora, por exemplo, força demais de maneira artificial a emoção. Outra tentativa frustrada é o uso de simbolismos, como a cena inicial mostrando o pequeno Nat como o um tipo de escolhido religioso. E só retorna a isso na parte final, sem conseguir alcançar o objetivo pretendido de maneira satisfatória.

Parker se mostra um artista versátil ao protagonizar, escrever e dirigir o filme. Ele toca num tema complicado que é a escravidão. Algo que ainda precisa ser discutido nos dias de hoje, onde os negros ainda lutam contra preconceitos e problemas sociais. Mas a simplificação da história diminui o impacto que a história de Nat poderia causar. Ainda assim é bastante válida por, de alguma forma, discutir um tema importante. Um filme em que a importância da história vale mais do que o filme em si.


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Uma frase: Elizabeth Turner: “Esses livros são para o povo branco. Eles são cheio de coisas que seu povo não entenderia. Você é um garoto especial, Nathaniel. Estude bastante aqui.”

Uma cena: A discussão entre o pastor negro e o branco sobre passagens da Bíblia.

Uma curiosidade: O filme utiliza de maneira consciente o mesmo título de O Nascimento de Uma Nação, filme de 1925 que narrava a história dos Estados Unidos de maneira preconceituosa e utilizava atores brancos para interpretar personagens negros, usando uma técnica de maquiagem conhecida como black face..


O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation)

Direção: Nate Parker
Roteiro: Nate Parker
Elenco: Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Jackie Earle Haley, Mark Boone Junior, Aja Naomi King, Colman Domingo, Aunjanue Ellis, Dwight Henry, Esther Scott e Gabrielle Union
Gênero: Biografia, Drama, Histórico
Ano: 2016
Duração: 120 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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