Crítica | Antes que Eu Vá (Before I Fall)

Crítica | Antes que Eu Vá (Before I Fall)

Antes que Eu Vá” é uma mistura de “Feitiço do Tempo” com “Meninas Malvadas“, mas trocando o tom de comédia por um drama adolescente estilo “13 Reasons Why” (sendo que nos EUA, o filme foi lançado antes da série ir ao ar). Do primeiro ele pega o formato ao apresentar uma protagonista presa na repetição de um mesmo dia, enquanto do segundo vem a inspiração para a temática adolescente em que um grupo de meninas populares faz bullying com uma garota “esquisita”.

A protagonista é Samantha Kingston (Zoey Deutch), mas as pessoas mais próximas a chamam de Sam. Ela e suas amigas; Lindsey (Halston Sage), Ally (Cynthy Wu) e Elody (Medalion Rahimi), vão sempre juntas para a escola e acham que estão aproveitando bem o último ano do colégio, com direito a festas e garotos. O grupo lembra bastante as Plastics de “Meninas Malvadas”. É o dia do cúpido – uma espécie de prévia do dia dos namorados no qual os estudantes dão rosas e quanto mais uma pessoa recebe, mais popular ela é – e elas estão animadas com a data. No mesmo dia ocorre uma festa na casa de Kent McFuller (Logan Miller) e as garotas são abordadas por Juliet Sykes (Elena Kampouris) – a “garota esquisita” – que resolve dizer umas “verdades”, e em troca é hostilizada por elas com insultos e encharcada com bebidas. Juliet vai embora correndo sem que ninguém se importe. Ao voltar para casa, as meninas sofrem um acidente de carro e Sam acorda novamente no dia anterior sem saber o que está acontecendo.

A primeira coisa que Sam pensa é ter sido um sonho ou um pesadelo, mas a sensação de déjà-vu é constante. Não demora para a garota perceber que está “presa” no mesmo dia, então o roteiro de Maria Maggenti – baseado no livro de Lauren Oliver – utiliza o mesmo formato de “Feitiço do Tempo”. A repetição faz com que a protagonista comece a refletir sobre sua própria vida enquanto tenta entender o que está acontecendo. Mas a jornada de Sam é diferente do personagem de Bill Murray, porque ela segue um caminho filosófico e de autoajuda.

O tema do dia da aula de Sam é sobre Sísifo, personagem da mitologia grega que deu origem a expressão “trabalho de Sísifo“, usada para definir trabalhos longos e repetitivos inevitavelmente fadados ao fracasso. Ele foi condenado pelos deuses a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha pela eternidade. O “trabalho de Sam“ segue a mesma filosofia onde ela não consegue ser capaz de mudar o seu destino ao ficar presa no mesmo dia, até que ela tem uma epifania, assim como Sísifo, de como resolver sua situação.

Durante a repetição do mesmo dia, Sam se dá conta de que não é uma boa pessoa, mas sim uma verdadeira “bitch” com sua família e com alguns colegas. A narração em off da própria personagem vai explicando essas reflexões com elementos de autoajuda, como a frase que surge em uma fotografia: “torne-se quem você é”. No entanto, o próprio filme faz piada com isso. Por exemplo, a protagonista resolve em determinado momento contar porque ama cada uma de suas amigas e uma delas a questiona sobre a razão dela estar sendo tão “Oprah” (famosa apresentadora americana conhecida também por suas mensagens positivas). Isso não chega a estragar o filme, mas tira um pouco da profundidade da reflexão da personagem por ser muito expositiva e também por parecer ser mais didática do que algo natural.

A atuação de Zoey Deutch (de “Tinha Que Ser Ele?”) como Sam consegue passar por cima desses problemas e faz com que a jornada da personagem seja interessante e verossímil. A atriz entrega uma ótima performance cheia de carisma e talento. Ela é o grande destaque do elenco e também do filme. Deutch constrói bem as mudanças da personagem com o passar do tempo através da repetição dos dias e é interessante acompanhar tanto as pequenas alterações no comportamento de Sam, como também as mais extremas.

Outra coisa que vale a pena destacar em “Antes que Eu Vá” é que o longa é protagonizado, dirigido e roteirizado por mulheres. Infelizmente, estamos em 2017 e ainda são poucas as produções cinematográfica comandadas por mulheres, portanto é preciso elogiar, valorizar e incentivar isso; então fica aqui o registro.

A diretora Ry Russo-Young aborda bem temas relacionados a adolescência, como bullying e sexo, de forma verossímil utilizando uma situação de fantasia. O filme apresenta a jornada de uma personagem que consegue mudar e enxergar seus próprios “defeitos” através da repetição do mesmo dia, sem que o longa pareça repetitivo. “Antes que Eu Vá” pode não ser original, mas a abordagem criativa de um tema clichê feita de forma inteligente e interessante o torna uma grata surpresa.


Uma frase: – Sam: “Talvez para você exista um amanhã. Talvez existam mil ou dez. Mas para alguns de nós, só existe hoje.”

Uma cena: Sam correndo atrás de Juliet na floresta.

Uma curiosidade: Esse é o quarto filme realizado que utiliza o recurso de mostrar o mesmo dia sendo repetido em loop. O primeiro foi “Feitiço do Tempo” (Groundhog Day) e os outros dois são: “No Limite do Amanhã” (Edge of Tomorrow) e “Contra o Tempo” (Source Code).

 


Antes que Eu Vá (Before I Fall)

Direção: Ry Russo-Young
Roteiro: Maria Maggenti baseado no livro de Lauren Oliver

Elenco: Zoey Deutch, Halston Sage, Logan Miller, Kian Lawley, Jennifer Beals, Diego Boneta e Elena Kampouris
Gênero: Drama, Mistério
Ano: 2017
Duração: 99 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | Antes que Eu Vá (Before I Fall)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *