Crítica | Game of Thrones – 6×03: Oathbreaker
O fracasso, mais do que o sucesso, é aquilo que define o homem.
É nítido quando os roteiristas de uma narrativa querem atrasar ao máximo possível certas revelações determinantes na trama. E também é notório que esse tipo de decisão costuma não terminar bem.
No terceiro episódio da sexta temporada de Game of Thrones, foi exatamente isso que aconteceu. Em Oathbreaker nós enfim fomos levados, através de Bran, até a famigerada Torre da Alegria, onde Lyanna Stark era mantida “prisioneira” por Rhaegar Targaryen. Mas ao invés de sermos apresentados ao ponto crucial da trama que deve enfim apresentar a origem de Jon Snow, os produtores decidem nos deixar esperar um pouco mais e manter o suspense.
[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]
Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em Oathbreaker, o terceiro episódio da sexta temporada de Game of Thrones.
#GoT (S06E03) – Oathbreaker
A questão é que não há muito suspense a se fazer, a essa altura, e o melhor – até mesmo considerando o ritmo que as coisas vinham tomando – seria ter ido direto ao ponto. Mas, como disse antes, as revelações devem ficar para mais tarde, provavelmente mesmo para o final da temporada, associado a um momento mais climático da jornada de Jon Snow que prossegue.
Sim, pois João das Neves retornou da morte, apenas para atestar que a realidade de Martin é mesmo gelada e áspera. Aparentemente não há nada para se ver após a morte, e a vida não é nada mais que mero sofrimento. Nas palavras de Ser Alliser Thorne, luta-se, perde-se e descansa-se. Mas no caso de Jon Snow, tudo indica que ele está amaldiçoado a lutar as batalhas dos sete reinos por todo sempre. Essa perspectiva pesa fundo em Jon, e o faz quebrar seu juramento para com a Night’s Watch. Mas mais uma vez são as palavras do Cavaleiro das Cebolas, Sor Davos, que melhor definem o cerne desse episódio. Afinal é através dos seus fracassos que um homem define seu valor.
Diante dos eventos que culminaram em sua morte, nada mais natural que o bastardo mais querido – e temido por seus inimigos, diga-se de passagem – dos sete reinos se sentisse um pouco confuso e rejeitasse seu chamado, em mais um clássico passo da jornada do herói. Seu despertar deve vir no revelar de sua origem, o que pode justificar a economia dos roteiristas ao abordar os detalhes da trágica história por trás da Torre da Alegria.
A propósito da Torre da Alegria, mais uma vez, ficou de fato marcada a espetacular luta entre Sir Arthur Dayne, o melhor espadachim que os setes reinos já haviam visto, segundo alguns, e um grupo de nortistas liderados por um jovem e imprudente Ned Stark. É interessante ver a imagem idealizada de seu pai se quebrar diante dos olhos de Bran Stark, assim como é empolgante saber que um futuro grandioso o aguarda e que ele segue sendo talvez uma das peças mais importantes de toda a trama.
Enquanto isso, em Porto Real e Mereen as coisas seguem se desenvolvendo lentamente e de maneiras bastante previsíveis. Cersei e Jamie tentam, sem muito sucesso, se arrastar de volta para o centro do poder. Tyrion e Varis tentam descobrir quem está por trás dos Filhos da Harpia, e obtém respostas nada espantosas. Como disse, os roteiristas parecem estar preocupados em segurar a mão no ritmo um pouco e o resultado é um episódio que empalidece bastante, principalmente se considerarmos o brilho e o vigor dos dois primeiros. O mesmo pode se dizer de Daenerys que segue as voltas com a trama que se arrasta em torno de seus conflitos com a tradição dos Dothraki.
Não podemos deixar de reconhecer, porém, que no quesito drama este episódio trouxe ótimos desenvolvimentos de tensões entre personagens com excelentes diálogos, sempre muito bem interpretados. Jonathan Pryce, a propósito, é sempre fascinante em cada uma de suas falas. Mas é claro que a quebra de ritmo, após dois episódios extremamente intensos, apesar de esperada e necessária até, não poderia ser recebida com muita satisfação.
Cabe mais um registro negativo que comprometeu um pouco mais esse episódio: Rickon Stark. Em determinado momento Rickon é simplesmente lançado quase que literalmente no colo de Ramsey Bolton, sem qualquer preparação ou desenvolvimento nesse sentido. Claro que já podíamos imaginar que ele estaria solto pelo norte, afastado de Bran, e que seria difícil imaginar que ele tivesse um final feliz esperando por ele. Ainda assim, vê-lo aparecer quase que como produzido em um truque de mágica, acompanhado da cabeça decapitada de seu lobo Shaggy-Dog, é no mínimo sem graça.
Merece destaque, porém, a narrativa de Arya. Ou melhor, da garota que não é ninguém. O simbolismo em torno de seu treinamento é simplesmente fantástico. Despir-se da identidade, enfim, é a única forma de se despir também de seu ego e poder se tonar alguém capaz de servir com sucesso usando diversos rostos. Diferente das outras narrativas, Arya se desenvolve com dinamismo e de maneira convincente. Em uma edição rápida de pequenas sequências temos uma pequena noção do tamanho de seu treinamento. E ao deixar de ser Arya Stark ela também, de alguma forma, quebra um antigo juramento de morte que fez à filha mais nova de Ned Stark.
Mas parece que quem quebrou mesmo seu juramento, pode-se dizer, foram D.B. Weiss e David Benioff, de não conseguirem entregar um episódio à altura dos seus antecessores. E se as palavras de Sor Davos servem de alguma lição, se são mesmo as falhas que nos definem, nos resta torcer para que os criadores da série contem com a sabedoria do Cavaleiro das Cebolas e não segurem a narrativa desnecessariamente por tempo demais, fazendo-a apenas se arrastar até o já típico clímax do penúltimo episódio da temporada.
Série: Game of Thrones
Temporada: 6ª
Episódio: 03
Título: Oathbreaker
Roteiro: David Benioff e D.B. Weiss.
Direção: Daniel Sackheim
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Liam Cunningham, Sophie Turner, Alfie Allen, Gwendoline Christie, Maisie Williams, Jonathan Pryce, Carice van Houten, Tom Wlaschiha e Max von Sydow.
Graus de KB: 2: Liam Cunningham atuou em Cavalo de Guerra (2011) ao lado de James Currie, que esteve em X-Men: Primeira Classe (2011) com Kevin Bacon.
Discordo em um ponto: Jon não quebrou o juramento. Ele ficou na Patrulha ATÉ MORRER.
Eu também pensei assim, mas depois tive a impressão que os roteiristas se referiram a ele quando escolheram o título do episódio.
Isso é comum em GoT, o título se refere a vários eventos diferentes dentro do episódio. Assim, a quebra de juramento rola, de uma forma ou de outra, em várias cenas: Ramsay/Lorde Umber, Arya etc.
Mas no caso específico de Jon Snow, acho que a questão da “quebra” de juramento será enfrentada em algum momento, e o argumento em seu favor será justamente essa questão da morte.
Parece-me que a ideia é justamente conduzir o espectador à ideia de que Jon quebrou o juramento, para depois rolar esse plot twist advocatício.
Tirando a parte de Arya que, como você descreveu, está mesmo muito boa, o resto não teve nada muito digno de nota não. Concordo contigo em quase tudo MB, mais uma excelente análise sua ao contrário desta 6º temporada.
Acho que daria 2 bacons no máximo pra esse episódio.
Rapaz, só esperando GOT virar anime… Aí veremos uma série boa de verdade 🙂
esse episodio comparado aos anteriores, deu uma caidinha…acho que os roteiristas se adiantaram demais nos primeiros episódios e quiseram dar uma seguradinha pra manter o suspense pra os próximos, vamos para os pontos positivos..Arya finamente avançando no seu treinamento conseguindo melhorar suas habilidades e tão esperado recurar sua visão que pra mim foi uma felicidade, Jon Snow conseguir tomar uma atitude e de uma vez por todas se livrar daquele Aliser Torme e do pirralho traíra por essas duas coisas já valeu o episodio, estou curioso pra o que Jon snow irá planejar nos próximos episódios, com Ramsey com o irmão mais novo dele, com certeza ele irá usar o garoto pra ameaçar o Jon…que venha a guerra dos bastardos…