Crítica | Pecadores (Sinners)

É interessante notar como “Pecadores” é apenas o quinto filme de Ryan Coogler, mas apenas seu segundo trabalho que não é baseado em algo já existente. Dessa forma o cineasta tem a oportunidade de mostrar mais uma vez seu talento e criatividade em um longa-metragem que é sem dúvidas um dos melhores de 2025. Coogler mais uma vez trabalha com Michael B. Jordan, sendo que o ator interpreta um papel duplo ao dar vida aos irmãos Smoke e Stack.
A história se passa no início dos anos 1930 no interior do Mississippi, então o contexto histórico é importante e a questão racial é crucial. A escravidão nos EUA acabou em 1865, mas se ainda hoje vivemos o reflexo dela na sociedade, imagina naquela época. Assim encontramos a dupla Smoke e Stack retornando para sua cidade natal após alguns anos trabalhando em Chicago envolvidos com a máfia. O objetivo deles é abrir um bar onde os negros possam se reunir para beber e ouvir música. Então acompanhamos todo esse processo, iniciando pela compra de um lugar e a convocação de pessoas para trabalharem no espaço.
Durante esse processo eles se reencontram com pessoas do passado, incluindo os respectivos interesses amorosos. No entanto, a figura mais importante é o primo Sammie, interpretado pelo estreante Miles Caton. Ele é de certa forma o protagonista da narrativa. O jovem é músico e muito talentoso, então ele é convocado para ser a principal atração do lugar. O problema é que durante a inauguração eventos adversos acontecem e surge uma ameaça: um grupo de vampiros.
Assim Ryan Coogler se inspira em Um Drink no Inferno, filme dirigido por Robert Rodriguez em 1996 para transformar o tom da narrativa de “Pecadores” do que parecia ser um simples drama, para uma história de terror. Contudo, ele não faz isso de maneira abrupta. O roteiro do próprio Coogler aos poucos apresenta elementos de horror. E o mais impressionante é que o longa-metragem apresenta diversas camadas. Na superfície temos a jornada dos irmãos na abertura do seu espaço de eventos, que é surpreendida pela ameaça. Mas na construção da trama vemos diversas referências históricas e musicais, que deixam o resultado ainda mais complexo e interessante.

Sem dúvidas a parte musical é a que mais chama a atenção. A cena na qual vemos Sammie se apresentando pela primeira vez é de arrepiar. Vemos literalmente uma viagem musical onde uma canção dos anos 1930 se conecta com outros gêneros musicais criados pelos negros. Dessa forma, Coogler presta uma homenagem a diversos músicos e ressalta a importância da cultura negra na história dos EUA e do mundo.
O diretor convocou mais uma vez seu parceiro musical Ludwig Göransson, que compôs uma trilha maravilhosa misturando a música negra, principalmente rock e blues, com elementos eletrônicos que evocam ao mesmo tempo a época em que a história se passa e o clima de terror e tensão da narrativa. A elaboração da trilha foi tão intensa e importante, que além dos temas que ouvimos no filme, temos também um álbum com músicas compostas inspiradas pela trama de “Pecadores”. As músicas contam com a participações de atores do filme, como Hailee Steinfeld e Miles Caton, como de músicos como o guitarrista Jerry Cantrell (do Alice in Chains).
Em síntese, “Pecadores” é mais um grande acerto na filmografia de Ryan Coogler. É bom ver o cineasta apostar em uma história original que além de ser um grande entretenimento, apresenta camadas em que homenageia e discute a questão racial, transformando sua obra em algo ainda mais complexo e fascinante.

Uma frase: – Annie [para Smoke]: “Não é o seu irmão.”
Uma cena: Quando Sammie se apresenta pela primeira vez.
Uma curiosidade: O diretor Ryan Coogler disse que duas de suas maiores influências para o filme foram Um Drink no Inferno (1996) e Prova Final (1998), ambos dirigidos por Robert Rodriguez.

Pecadores (Sinners)
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Hailee Steinfeld, Miles Caton, Jack O’Connell, Wunmi Mosaku, Jayme Lawson, Omar Miller e Delroy Lindo
Gênero: Ação, Drama, Terror, Thriller
Ano: 2025
Duração: 137 minutos